A menina com flores no cabelo
A menina com flores no cabelo tinha toda uma beleza de um jardim. Tinha o verde de esperança nos olhos, a cor da terra molhada na pele, a esperteza de um arbusto que cresce no lugar certo, a maciez da grama e a delicadeza de uma pétala. Um sorriso que quando o Sol encontrava, parecia refletir a beleza no azul do céu, onde as nuvens brigavam entre si para admirá-la, e de tanta briga, chuvas torrenciais inundavam a menina com flores no cabelo, que recebia a chuva como quem recebe um abraço. De corpo inteiro, de peito aberto, de largo sorriso na face. Enquanto as gotas da chuva brincavam no seu corpo e outras regavam seu cabelo, ela corria sem rumo, desembestada pelo jardim que inventara ao seu redor, mas que na verdade não passava do quintal sem vida da sua casa. Corria em silêncio, às vezes interrompido por uma estrondosa risada, que lhe sacudia o corpo inteiro. Sentava na grama inventada e olhava pro céu, tentando, de alguma forma, desvendar a origem da infinitude da chuva. De tanto querer descobrir, ficava absorta. E perdia o foco, pois começava a sonhar com o céu nublado, a imaginar desenhos que poderiam colori-lo e até torcer para que uma estrela cadente surgisse numa tarde como aquela. As intempéries da natureza eram suas cúmplices na arte de viver. E quando a chuva repentinamente parou, um Sol pomposo e exibido foi surgindo aos poucos, cheio de manha e os olhos da menina brilhavam de expectativa, enquanto floresciam mais flores no seu cabelo, numa explosão de vida. Ela passou então a mão suavemente no cabelo e sentiu as novas moradoras. Sorriu, porque seu cabelo era como um buquê de flores que um homem apaixonado compra, sempre cabe mais uma. E no instante em que sorriu, o Sol surgiu por completo no céu e sorriu também, na única forma que sabia sorrir: calorosamente.