A REVOLTA DAS PLANTAS (Final)
A REVOLTA DAS PLANTAS (Final)
Rangel Alves da Costa*
Devidamente escondida num pequeno buraco na terra, a rolinha, informante dessa natureza revoltosa, observou atentamente todas as reações e ouviu do começo ao fim os planos traçados e a decisão sobre o ataque imediato. Sem demora, saiu do esconderijo e voou estabanada para o território das sertanejas. Chegou esbaforida, procurou a liderança e relatou tudinho, nos mínimos detalhes.
Agradeceram demoradamente, mas por precaução avisaram que ela estava terminantemente impedida de sair do lugar até segunda ordem. Afinal, sabiam do que essa rolinha era capaz. Como trouxe essa preciosa informação sobre as exóticas, e não era a primeira vez, bem poderia fazer, sorrateiramente, o caminho de volta e alertar às inimigas que as plantas nativas já estavam entrando em campo para o ataque final. De fato, a ofensiva já estava sendo concretizada.
É bem sabido que cada um deve conhecer bem o lugar onde vive, o terreno onde pisa e os perigos sempre existentes. Neste sentido, as plantas sertanejas eram mais que conhecedoras de tudo aquilo que cercava sua região, e isso foi fator primordial para que avançassem em tropas sem maiores incidentes.
Tiveram o cuidado de enviar combatentes por todos os lados, sem muita distância entre uma e outra fileira e devidamente coordenados para que uma não avançasse muito mais do que a outra, de modo que não fossem surpreendidas pelas emboscadas das inimigas. Assim, enquanto a lua brilhava no céu, todas as tropas, em círculo, estavam entrincheiradas a cem metros da fortaleza das forasteiras, esperando somente o dia amanhecer.
Sem ter a mínima idéia do que estava acontecendo lá fora, do perigo que estavam correndo e do ataque que seriam vítimas, na madrugada os membros do conselho de segurança das forasteiras já estavam dando ordens ao grupo de plantas que seriam responsáveis pelas primeiras ações daquele dia fatal. Teriam que fazer o reconhecimento sobre a situação de momento nas vizinhanças das nativas, de forma que pudessem avançar e atacar logo em seguida.
As forasteiras espiãs saíram para cumprir sua missão, porém mal botaram suas raízes lá fora foram surpreendidas e não gostaram nem um pouco do que viram. Algumas nem tiveram tempo de voltar correndo, pois ficaram ali mesmo estateladas no chão; outras, sabe-se lá como, conseguiram retornar e mesmo feridas ainda puderam avisar: “Elas estão aí, estamos cercadas!”. O pior é que, naquele instante, não estavam preparadas para esboçar nenhuma reação.
Socorro! Fujam! Salve-se quem puder! Certamente este bem que poderia ser o clamor geral ouvido naquele momento. Sabiam que estavam derrotadas e certamente perderiam a vida. Perderiam a vida, mas não pelas armas das plantas nativas, pois, sendo a maioria daqueles espécies exóticas de origem japonesa, onde a honra ferida se paga com o suicídio, instintamente decidiram tirar a própria vida e destruir uma às outras. Assim, naquele cenário dantesco, o que se via minutos depois era um verdadeiro tapete amassado de raízes, pétalas, folhas, caules, sementes, esponjos, flores e frutos. A clorofila, que é o sangue das plantas, escorria até onde estavam as nativas. Era feio, mas era bonito.
Assim terminou a guerra das plantas, quase sem combate frontal. E o que aconteceu depois disso eu não sei, ninguém sabe. O passarinho só me contou até aqui.
FIM
Advogado e poeta
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