NO REINO DO REI MENINO – L

NO REINO DO REI MENINO – L

Rangel Alves da Costa*

Em Edravoc, depois que o mal-afamado rei resolveu repentinamente sentir as dores pelo sumiço da mãe, coisa que para ele há muito tempo parecia não existir, em tudo que se falava os preparativos para a guerra estava na pauta. O baixinho não pensava em outra coisa e não falava em outra coisa, era só em guerrear contra os covardes que levaram dali sua mãezinha querida. Vingança, guerra, vingança e guerra eram os nomes da moda na boca do cada vez mais desajuizado homem. Uma pessoa que resolveu mandar seus homens transferir o casebre da mãe, inteiro e com chão e tudo, para o pátio do seu castelo não poderia estar com o juízo em bom estado.

Para aumentar ainda mais esse clima de ódio e vingança, dois fatos acontecidos quase ao mesmo tempo colocaram ainda mais fogo próximo àquele barril de pólvora. O primeiro se deu com a chegada a Edravoc de um representante da Grande Ordem dos Rebeldes, com a missão de colocar à disposição do baixinho um grande contingente de homens guerreiros acaso este desejasse invadir Oninem.

Seria uma resposta ao menino rei, que nem considerou o convite feito pela Ordem e tratou como brincadeira a ameaça lançada caso não se unisse às pretensões dos rebeldes. Para Otnejon aquele oferecimento era um prato cheio diante do que pretendia fazer desde muito tempo, restando saber apenas se era realmente no reino do rei menino que sua mãe estava sendo acolhida. Mesmo que ela não estivesse lá, diante do número de combatentes que já possuía, faria duas invasões e travaria duas guerras ao mesmo tempo, estava decidido. Uma contra Oninem, de qualquer jeito, e outra contra o reino ainda desconhecido.

Nesse percurso, assim que o emissário dos rebeldes deixou a reunião com o baixinho levando consigo os maiores agradecimentos do mundo, eis que um serviçal anunciou para o rei que o fofoqueiro desejava urgentemente lhe falar. Recebeu ordens para mandar o rapaz entrar imediatamente. E este, ávido para contar a notícia e despejar fofocas, quase atropela o baixinho que vinha correndo em sua direção nervoso e agitado para saber o que o outro tinha a dizer. "Descobriu, diga logo, fale onde está minha mãezinha", foram as palavras apressadas do estranho filho.

- Ela está bem e muito bem em Edravoc e mandou dizer que passe muito bem, pois está muito feliz ao lado daquele que é como um verdadeiro filho pra ela, que é o menino Gustavo, o rei de lá, de Oninem... – A forma como o fofoqueiro falou e a mentira que acrescentou fizeram surgir um verdadeiro vulcão por dentro do baixinho.

- Oni..., Oni... – E o baixinho se estrebuchou pelo chão, se contorcendo como se estivesse com doença braba. E ainda naquela posição, parecendo jaca mole quando cai, começou a dar gritos que podiam ser ouvidos por todo o castelo – Quero guerra, quero destruir, quero invadir aquele reino miserável e beber o sangue desse maldito moleque – E se levantando com a ajuda do fofoqueiro – Agora foi demais pra minha honra. Se é guerra que ele quer, guerra ele vai ter.

O fofoqueiro vendo o raivoso em pé tentou continuar sua conversa, esperando mais tarde receber as moedas prometidas:

- Pelo jeito o menino não gosta nem um pouco de vossa alteza, meu rei, pois disse que não passa de um feio e fedido, mas ora que despautério... – E já tinha outras mentiras na ponta da língua quando Otnejon chamou os guardas e mandou que jogassem o pobre coitado no covil das serpentes.

Já sabendo seu funesto destino, ao ser levado arrastado o desatinado rapaz ainda pronunciava: "Seu safado, mentiroso, nojento, covarde, fedido, feio, cara de penico..." – E a última coisa que se ouviu ele dizer foi "defunto rejeitado pelos abutres". Fez a festa das peçonhentas. Lucius e Lize, na jaula logo acima, tiveram que ouvir os gritos de desespero.

Assim que o fofoqueiro foi retirado da sala, o baixinho chamou dois dos seus homens e lhes deu a incumbência de irem, naquele mesmo instante, até o reino sede da Grande Ordem dos Rebeldes e avisar que estava esperando as tropas prometidas o mais rápido possível.

Por esse tempo, em Oninem, Gustavo estava recebendo os emissários do comerciante que chegaram para fazer o pagamento combinado. O velho sacerdote, como o próprio já havia mandado informar, também estava ali para receber seu quinhão e saborear do vinho antigo. Já estava na segunda jarra quando chamou o agora alegre e esfuziante menino rei numa outra sala e começou a perguntar:

- O que pensas, meu bom menino e justo rei, em fazer com essa pequena fortuna que lhe chegou às mãos?

- Sei que ainda está sóbrio, mesmo já tendo entornado grande quantidade de vinho, por isso mesmo vou fazer uma confidência, coisa que só faria ao meu amigo Bernal. Metade dessa pequena fortuna, como o senhor mesmo falou, vou aplicar na melhoria das condições de vida desse povo, melhorando a vida no reino e colocando à disposição mais terras para plantar; já com a outra metade pretendo ter urgentemente aqui em Oninem um novo e poderoso exército, uma legião de homens bem armados e preparados para os inimigos que estão nos ameaçando. Por isso, com essa outra parte da quantia vou começar, amanhã mesmo, a formar o imbatível exército de Oninem.

Ao ouvir isso, ao tomar conhecimento das pretensões do rei, um sorriso se fez no rosto do homem da igreja e os seus olhos pareciam mais iluminados, pelo vinho e pelo que tinha a dizer:

- Posso conseguir tudo isso pra você, e amanhã mesmo já estarei providenciando tudo. Os cavalos mais fortes e velozes, esporões, armaduras de malha, coifas, mantos, machados, lanças do mais resistente cobre, escudos, espadas, arcos e flechas, bazucas, enfim, todas as armas que você precise para o seu indestrutível exército. Tenho amigos que fazem um precinho camarada. São contrabandistas, mas não diga isso a ninguém não, pois afinal sou um homem da igreja. Quanto à minha parte, prestarei esse favor por um pequeno carregamento de vinho. Fechado?

- Fechado, e não beba mais não, pois terá que ir providenciar isso tudo agora mesmo, sem falta – Disse o menino Gustavo, feliz, imponente e resoluto.

continua...

Advogado e poeta

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