NO REINO DO REI MENINO – XLIX

NO REINO DO REI MENINO – XLIX

Rangel Alves da Costa*

Naquela situação de momento, dois reis inimigos estavam em poder das mães dos desafetos. Em Edravoc, Lize, a mãe do rei Gustavo de Oninem permanecia prisioneira do rei Otnejon. Enquanto em Oninem a mãe do baixinho, diferentemente da situação cruel e dolorida da outra, estava recebendo todo o apoio e cuidados que a velha senhora não vinha recebendo do seu ingrato e ensadecido filho.

Diferentemente do baixinho mal-afamado, Gustavo, quando pensou em dar acolhida à velha senhora, não o fez premeditando usar daquele gesto de benemerência e amparo à velhice como uma arma acaso a guerra entre os dois reinos fosse travada, como estava na iminência de acontecer.

Contudo, queria que a presença da mãe no reino inimigo chegasse o mais rápido possível ao conhecimento do filho ingrato, como forma dele saber como se deve acolher e respeitar as pessoas que nada tem a ver com intrigas pessoais. Ademais quando são mulheres dignas, respeitosas e com histórias de lutas para servir como lições. Seria também uma forma de mostrar que o que estava sendo feito com sua mãe, tendo agora de um tudo diante da necessidade, não seria nada demais se também fosse feito perante a sua genitora, encarcerada em Edravoc e sofrendo sem que tivesse dado a mínima causa a tudo isso.

O acolhimento dessa senhora deu um novo ânimo ao espírito do menino, ao mesmo tempo em que fez crescer dentro de si a saudade de sua mãe. Ela se livrará de tudo isso, dizia a si mesmo com convicção. E eu serei o responsável por sua liberdade, pelo seu retorno ao lar, confirmava. Mas estava também mais alegre porque recebeu a notícia que emissários do comerciante adquirente da coroa estariam chegando a qualquer momento para efetuar o pagamento combinado.

O preocupante é que o velho sacerdote mandou dizer que também viria acompanhar a entrega da pequena fortuna. E certamente viria muito mais para bebericar os bons vinhos do que mesmo para receber a pequena quantia acertada pela sua intermediação. Mandou providenciar o vinho, e muito vinho, era o jeito, não tinha saída diante da sede interminável do homem da igreja.

Estava brincando com o camaleão de estimação quando alguém veio lhe dizer que os guardas do reino haviam prendido um homem que estava bisbilhotando por toda parte e perguntando a quem encontrasse se tinha visto por ali uma velha senhora com as mesmas características da que estava sob sua proteção. Encontrava-se à sua disposição se quisesse interrogá-lo, avisou a pessoa, perguntando ainda o que ordenava que fizesse com o estranho. "Se estava interessado na velha senhora preciso conhecê-lo, tragam ele até aqui", disse o menino, sem se desgrudar do seu réptil brincalhão.

Assim que o fofoqueiro foi conduzido à sua presença, de cabeça baixa e todo temeroso, Gustavo pediu aos rapazes que os deixassem a sós, dizendo que não se preocupassem com nada. Em seguida mandou que o fofoqueiro levantasse a cabeça e dissesse o que estava fazendo no reino para ser preso pelos seus guardas. Assim que ergueu a cabeça se espantou quando viu o pequeno à sua frente e perguntou: "Mas é você o terrível inimigo de Otnejon, um baixinho mal-humorado que é rei de Edravoc?".

- Muito boa a sua pergunta rapaz, pois já sei a mando de quem você está. Mas não se preocupe que ao contrário de lá aqui você é bem recebido e só foi preso porque com as ameaças de seu rei qualquer pessoa que entra no meu reino tem que ser investigado para saber se está espionando. E você estava realmente espionando e foi por isso que foi preso. Mas me diga por que saiu de lá e veio perguntar sobre a vida dos outros aqui – Falou o menino, olhando mais para o seu camaleão do que para o indivíduo.

- Senhor rei, peço mil perdões, mas só estou aqui porque fui forçado, estava com a corda no pescoço, sem saída diante das ameaças de morte que o maldito do Otnejon me fez – E começou a chorar e mentir deslavadamente – Ele disse que se eu não procurasse saber quem teria levado a sua mãe e onde ela estava, iria dar fim a toda minha família e me pendurar de cabeça para baixo enfiado numa estaca. Mandou me amarrar antes de sair e me deu umas duas dúzias de chicotadas, e o que é pior, amarrou meus filhinhos e disse que só soltava eles quando eu voltasse lá e dissesse onde estava e como estava sua mãe – E mudando completamente a feição aflita, continuou – Mas não sei onde arrumou tanto amor pela mãe agora. Logo ele que é uma peste, que mandou expulsar a pontapés a pobre velha do castelo, que vivia dizendo que ela já tinha morrido. Só deve tá doido, pois agora cismou que tem o maior amor do mundo pela velhinha... – E o mexeriqueiro ia continuar falando se não fosse interrompido pelo pequeno rei.

- Calma, calma, que já estou satisfeito. Mandarei que lhe sirvam alguma comida e reservem também um pouco para sua viagem, pois estará livre para retornar quando quiser. Só quero que você diga uma coisinha a esse safado: diga a ele que a sua mãe está aqui no meu reino sim, e no meu castelo até que se mude para uma moradia confortável onde terá de tudo, não passará fome nem qualquer tipo de necessidade. Diga a ele que se for homem faça com a minha mãe o mesmo que faço com a mãe dele, cuidando e tratando dela com respeito e dignidade. Mas como sei que não é homem, mas sim um cabra safado e ladrão da pior qualidade, que se sinta ofendido e venha até minhas fronteiras tirar satisfações. Basta que ele bote a cabeça na encruzilhada que o derrubo de baleadeira, com pedra de peteca, e não precisa mais que isso – Se expressou enraivecido o menino rei, porém com ar de satisfação pelo recado.

E foi quando o fofoqueiro quis puxar conversa, mentindo mais uma vez e procurando instigar a guerra:

- Vou contar um segredo que pode ser muito importante. Só digo isso porque sinto que já somos amigos. O maldito do Otnejon já tá com um enorme exército de mercenários de outros reinos iguais aos dele prontinho para fazer fileira e atacar o vosso reino. Tem muito armamento e munição de todo tipo, por isso acho melhor que ataque primeiro antes que ele venha até aqui.

- Vou derrotá-lo de outro modo, pode ter certeza disso.

continua...

Advogado e poeta

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