NO REINO DO REI MENINO – XXXVI
NO REINO DO REI MENINO – XXXVI
Rangel Alves da Costa*
Em Oninem, a notícia sobre o desaparecimento da coroa quase vira o castelo de papo pro ar. Protegida como estava, sem que inimigos, malfeitores ou ladrões tenham sido vistos por perto, seria simplesmente impossível que ela tenha sido roubada de uma hora pra outra na presença do pequeno rei e das demais pessoas que moravam na residência real. Fazer suposições, imaginar que tenha sido este ou aquele, seria por demais arriscado e até provocar o cometimento de uma grave injustiça, de uma acusação que mais tarde pudesse ser desmentida. E agora, o que fazer?
Além dos problemas que já tinha pra resolver, esse inesperado acontecimento deixou o pequeno Gustavo numa penosa situação. A coroa roubada seria, por enquanto, a salvação de Oninem, vez que o dinheiro adquirido com a venda seria estritamente aplicado no aumento da segurança do reino, no pagamento dos salários atrasados, na renovação do armamento de defesa e na melhoria da cavalaria, além de uma necessária reforma nas instalações do castelo e na melhoria dos serviços básicos que os cidadãos oninenses tanto necessitavam. Com o roubo nada disso seria possível, colocando todos em situação de grande vulnerabilidade frente às forças inimigas.
Espantado com aquela ocorrência, o menino rei ordenou que fizessem as investigações que o caso requeria e efetuassem minuciosa busca tanto no castelo, como nas residências e por todos os cantos e recantos do reino, sem deixar um palmo sequer sem ser vasculhado. Ademais, tinha urgência e necessidade que a coroa fosse encontrada por diversos fatores: não chegar ao conhecimento dos inimigos, por representar o símbolo mais valioso daquele reino e porque ricos interessados na sua aquisição estavam prestes a chegar. O que dizer, então, se eles chegassem e não encontrassem o objeto tão desejado?
Contudo, mesmo com essas preocupações todas, o rei impediu que imputações maldosas fossem feitas contra esta ou aquela pessoa. Tinha certeza de que o roubo não tinha sido praticado por pessoa estranha ao reino, mas sim por quem conhecia bem o dia a dia dali e sabia muito bem como se dirigir ao local sem levantar suspeita ou ser percebido. Mas quem poderia ter feito isso? O ladrão seria do reino e ali estaria, mas qualquer acusação seria muito precipitada e até prejudicial ao bom andamento das investigações.
Gustavo convidou os seis cavaleiros auxiliares do rei para uma reunião de urgência. Na sua concepção, cada menino opinando, tendo oportunidade de expressar livremente suas opiniões, até que se poderia chegar a um consenso sobre como deveriam agir dali por diante. Assim, todos sentados ao redor de uma redonda, incluindo-se entre esses todos o indispensável Bernal, começaram a expor suas opiniões sobre o caso e em seguida o pequeno rei perguntou a cada um o que, naquele momento, achariam melhor que fosse feito.
Dinadan, o estrategista, afirmou que deveriam avisar aos guardas das fronteiras para revistar minuciosamente todos aqueles que quisessem sair das terras do reino. Galaaz, o destemido, pediu que o rei colocasse dez homens à sua disposição que ele mesmo encontraria a coroa a qualquer custo. Hoel, o silencioso, teve que falar e disse que era só aguardar um pouco que o ladrão se entregaria, devolvendo a coroa. Lucan, o pacificador opinou no sentido de que seria melhor para o momento esquecer um pouco a coroa e procurar outros meios para tirar o reino daquela situação. Lamorak, o mensageiro, disse que os moradores do reino deveriam ser responsáveis pelas buscas à coroa, sob pena de não a encontrando ser cortada a cota de alimentação gratuita. Cador, o terrível, afirmou apenas que o seu desejo era que o ladrão fosse colocado em suas mãos quando fosse encontrado, pois saberia castigá-lo ao seu modo. Por fim, chamado a participar, Bernal expressou a opinião de que o ladrão estaria por perto, ali dentro do castelo mesmo.
Depois ouvir todas as opiniões, Gustavo, após levantar um pouco e ficar em frente a uma grande janela por uns dois minutos, olhando a natureza lá fora, disse que respeitava muito o pensamento de todos e o modo como queriam ajudar, mas ele mesmo achava melhor um meio diferente para o caso, e apontando o dedo para um Bernal assustado e tremendo, disse:
- Foi você...
E todos os cavaleiros olharam para o feiticeiro do bem de modo desconfiado, sendo que Galaaz e Cador já queriam levantar para avançar sobre o pobre rapaz indefeso e sem saber realmente o que o rei queria dizer com aquele "foi você". Gustavo pediu que se acalmassem e continuou:
- Foi você que causou toda essa perda de tempo. Se já tivesse colocado em prática os seus poderes não estaríamos aqui desesperados e perdendo tempo. Lembra de um tal espelho, de uma tal bacia, de um tal encantamento, qualquer coisa desse tipo, pois é isso que deve fazer agora. Chispa, saia daqui agora e vá lá pra cima fazer sua magia, chamar seus amigos encantados ou quem você quiser, mas daqui a uma hora quero que desça e me dê a resposta de quem roubou a coroa e onde ela está neste momento. Vai logo Bernal – Disse o rei para o alívio de todos, menos do próprio Bernal que via chamar para si uma responsabilidade grande demais para ser resolvida em tão pouco tempo. E se não conseguisse?
- Mas meu rei, essas coisas não são... – Quis ponderar, tentando justificar suas limitações.
- Serviçal, venha aqui buscar comida para os jacarés do fosso – Gritou o menino rei, como forma de intimidar o feiticeiro.
E não deu outra, pois num segundo Bernal já estava subindo as escadas em direção à torre.
continua...
Advogado e poeta
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