NO REINO DO REI MENINO – VIII
NO REINO DO REI MENINO – VIII
Rangel Alves da Costa*
Divididos em três colunas surgidas de pontos diferentes das montanhas à frente das povoações que circundavam o castelo, com cerca de cem invasores cada uma, montados em cavalos e carregando escudos e armas potentes de combate, ao se aproximarem da fortaleza real foram se afunilando e formando um amontoado de animais furiosos e sinistros cavaleiros preparados para o ataque. Quando o estandarte da caveira foi erguido para dar o sinal de ataque algo extraordinário e assustador começou a ocorrer.
No exato instante em que o comandante ia apontar a lança com o estandarte em direção ao portão principal do castelo, a natureza ressoou bravia e feroz. Um raio fulminou imediatamente o líder invasor, o céu começou a estremecer, tudo ao redor escureceu, relâmpagos ricochetearam em clarões vivos, trovões estrondaram incessantemente, uma tempestade destruidora chegou acompanhada de intenso vendaval, levando pelos ares o que de mais frágil encontrava pela frente. Era o fim do mundo, pensaram os agora temerosos e amedrontados invasores.
O que antes era uma cavalaria organizada para a semeadura do terror, de repente se transformou num amontoado de cavalos fugindo em disparada, totalmente assustados e desnorteados, ora sozinhos, ora arrastando malfeitores que se debatiam pelo terreno pedregoso. Alguns homens morreram pisoteados pelos cavalos em balbúrdia, outros rolavam feridos, quase afundados no lamaçal; os que tiveram mais sorte fugiram enlouquecidos em direção às matas ou à procura de qualquer proteção. No centro do pandemônio e nos seus arredores, o que podia se observar era a total destruição das tropas malfeitoras que minutos antes chegavam com ares de assombrosa vitória. Só restavam homens mortos e feridos espalhados pelo chão encharcado de lama e sangue. A horda estava aniquilada pelas forças misteriosas da natureza.
Com efeito, até o instante em que o mundo pareceu desandar no Reino de Oninem, o curso normal das forças da natureza mostrava um dia ensolarado, de nuvens embraquecidas pelos ares, com pequenas levas de vento açoitando folhas e as roupas estendidas pelos varais, tudo em conformidade com o clima costumeiro do lugar. Aquele anoitecer repentino, com chuvas que pareciam alfinetes caindo, trovões, relâmpagos e ventania cortante, toda aquela fúria, constituiu-se num acontecimento deveras assombroso e totalmente inexplicável.
Ora, num passo, a cavalaria chegando e pronta para atacar em condições propícias para tal, e noutro passo o negrume, as trevas desnorteando os atacantes e a fúria mortal deixando os seus rastros. Alguma explicação para tal transformação abrupta da natureza deveria, teria que existir, e até mesmo porque as pessoas do lugar tinham imenso respeito às leis que presidiam os elementos da natureza e suas transformações.
Ao retornarem de seus esconderijos, os fugitivos moradores de Oninem já fizeram seus percursos com o sol a pino, com o céu azul como nada tivesses ocorrido. Limpando os escombros, ainda assustados pelo ocorrido e também pelo quadro de destruição da turba hostil, se perguntavam sobre os reais motivos daquilo tudo, sobre o que teria salvado o castelo, as moradias e todos os pertences da comunidade. Quem poderia dar uma resposta sobre aquilo tudo? Bernal sabia de tudo, e de uma portinhola no ponto mais alto do castelo, sem que ninguém pudesse vê-lo, apreciava aqueles movimentos com ar de satisfação.
Bernal, o feiticeiro do bem, invocara aos deuses, havia buscado nas substâncias básicas dos elementos da própria natureza os poderes mágicos da proteção, da defesa, da oposição, da ofensiva e do contra-ataque. Prepara o banquete da magia com a invocação aos deuses dos raios e trovões, das tempestades e trovoadas, das ventanias e vendavais, da escuridão e do medo. Preparou oferendas, acendeu o fogo para o chamamento, celebrou o pacto de guerra contra as hostilidades e fora atendido. Naquele instante fazias seus agradecimentos no alto do castelo.
Contudo, Bernal tinha pressa de encerrar aquele ritual de agradecimento, pois precisava cuidar dos preparativos para apresentação ao povo do novo soberano do Rei de Oninem.
continua...
Advogado e poeta
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