Semideusa morta ressuscita, troca de nome e casa com príncipe pelado
Cristiana era uma menina torta.
Não era físico.
Ela já se achava morta.
No aniversário de 12 anos, soprara as velinhas dizendo alto, interrompendo o Parabéns:
- Pêsames aos presentes e convivas!
- Viva! É bigui...
O silêncio medonho e constrangedor foi interrompido cinco anos depois pelo tropel de um cavalo branco, montado em pelo, ambos, cavalo e cavaleiro.
Ele encantado com a princesa mais que morta, beijou-lhe as faces rubras do calor da hora. E a retirou da rota torta.
Ela agradeceu e disse.
- Nada não, queres torta de maçã? E tem canela nela. Me chamam de Tiana, mas eu prefiro Cris.
Disse estendendo o esse como se fosse tônico. Aliás, o seu biotônico, seu reforço de identidade acabara de chegar para ficar aninhado no coração que pinoteava mais que o alazão.
Muitas vezes sonhou que era a deusa mãe do Olimpo.
E Zeus lavando os pratos a intimava:
- Não vais sair à caça Tiana (a divindade pronunciava o t feito um d, por um defeito, digamos assim, originário, primevo, porque ninguém criara o tal por qualquer genital).
Isto, no entanto, me fez esquecer que a estrada era escorregadia, o cavalo não jogara o garibaldino fora, mas as esporas foram-se por ora, até o final da missa, que não se sabia dela a metade, fomos acusadas todas pelas três carolas e por uma outra divindade.
Quando isso termina?
Não termina. Está é aumentando.
Antes, outro recado:
- Moleque é tu.
- É tu que é moleque.
- Moleque é tu!
Disseram-se um para o outro, enquanto a morta ressuscita e se abraça aflita no caboclo-príncipe-acavalado agora nela, nua em pelo, ele igual.
Pariu nove meses depois uma princesa semi-deusa maaaraaavilhoooosa!
Olhinho de butuca azulzinho e cachinhos aloirados, feita uma Anastácia, negra linda.
Seria mais ainda por não se deixar escravizar.
Bença, tio Martinho.
Já chego na Vila com a viola, tio Paulinho.
Sei que as coisas tão no ...mundo, só que eu preciso aprender.
Vida de rapariga é bruta, se não quiser ser fácil e levar marca na bunda.
É o
FIM!
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* Um conto encantado de Juliaura da Luz Bauer.Porto Alegre (RS), 03/4/2007.