Mais um Pouco de Mim.
 
Na meditação da noite, senti que Olivia estava ali novamente:
 
“Minha amiga escritora, eu voltei para contar um pouco mais da minha estória, pois como você mesma disse, todas as estórias tem graça, pois servem como exemplo e aprendizado.

Sempre fui muito reservada e tímida. Minha mãe faleceu cedo e quem nos criou foi nossa irmã mais velha.

Casei-me cedo e tive três filhos, um menino e duas meninas.

Fiquei viúva quando eles ainda eram pequenos e quando conheci o Jerry senti que ele poderia me ajudar com as crianças, pois ele parecia ser bondoso e paciente.

E realmente ele assim o era.

Mas o que eu não esperava era que eu fosse adoecer logo que nos casamos: fui infectada numa cirurgia de retirada do útero pelo vírus da hepatite C.

Foram muitos anos de doença e minha timidez e retraimento foram se transformando em pânico: eu não queria ficar sozinha na casa e quando ele começou a ir para a academia de madrugada, eu ficava apavorada.

Ainda bem que eu tinha a minha irmã sempre por perto! Na verdade, eu é que andava sempre atrás dela, onde quer que ela fosse.

Ele gosta muito de viajar; eu já não gosto, prefiro ficar em minha casa.

É por isso que estou encontrando dificuldade em me adaptar com essa nova vida: além de não ter encontrado a minha irmã, ainda tenho que ficar nesse hospital sem fazer nada.

Mas eu quero confessar uma coisa: eu já estava meio enjoada de tudo, querendo mesmo ir embora. E quando minha irmã se foi, eu tomei a decisão: não queria mais viver. Parei de tomar remédios, queria morrer.

Só que agora estou vendo que não adiantou; que eu não morri de verdade, só fiquei diferente, mas tenho que enfrentar os mesmos problemas: ainda estou doente, ainda tenho pânico, ainda não sou feliz.

Eu gostaria muito de saber como é ser feliz, o que é ter paz, ser alegre, contente, feliz da vida mesmo.

Estão me dizendo aqui no meu ouvido que isso é possível sim, mas que tem que haver todo um trabalho de consciência.

Eu bem que tentei aprender algumas coisas com livros e cursos. Mas sempre desistia pois queria resultados rápidos.

E agora estou percebendo que resultados rápidos não existem, que o caminho é longo e tem que ser trilhado com paciência.

Mas este momento está sendo importante para mim; esta oportunidade de conversar sobre os meus sentimentos e pensamentos.

Disseram-me que por aqui também existem cursos, rezas, meditações, igrejas, tudo o que eu quiser aprender; é só desejar com sinceridade e serei levada a esses lugares.

Mas não neste momento; ainda preciso de um pouco mais de tempo neste hospital e também de mais algumas sessões de escrita com você.

Minha amiga, obrigada por me ouvir e conversar.

Obrigada por sua atenção carinhosa.

Vou me retirar agora de volta ao meu hospital.

Se me permitirem retornarei.

Que Deus te abençoe.

Olivia.”
 
Sexta-feira, 18 de setembro de 2009.
08h50min PM

                 continua...                     

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