MÉNAGE À TROIS (OU À QUATRE?)
O marido dormia geralmente depois da novela das oito: às vezes pouco, às vezes muito bêbado. Tudo na cidade pequena era monótono e repetitivo. Juliana sentia dificuldades de adaptação, ilhada, sem filhos, já em seus quarenta e poucos anos. Morando ali há três anos, guardava recordações muito vivas da Capital, onde a existência era trepidante, arejada, desafiadora. Costumava dormir tarde e a solidão da noite era morna e sufocante. Felizmente, o marido tivera a ideia de comprar-lhe um computador e assim podia conectar-se ao mundo nas horas sofridas da vigília. Desde o momento em que seu homem arriava, até o cantar do galo, enfurnava-se na rede com imenso apetite, indiferente ao roncar do esposo. Era como se assumisse outra personalidade: uma mutante virtual, que tudo quer e tudo pode. Não havia arrependimento ou castigo, afinal, nem mesmo se levantava da cadeira para navegar livremente por tão diferentes órbitas e paragens fantásticas. Em pouco tempo, operava travessias ousadas em salas de sexo. Agora, pela fala muda dos dedos, elétricos e saltitantes no teclado, expandia-se em diálogos inusitados sobre os mais secretos prazeres do corpo e do espírito. Afinal, era mulher jovem, bonita, viçosa. Não imaginara que este tipo de aventura pudesse atiçar-lhe tanto o instinto, sobretudo por ser bem casada e fiel. Mas encontrara um parceiro virtual, Camaleão, que se apresentara como empresário, 48 anos, moreno alto e hábil em despertar fortes emoções. Por intermédio dele, conhecera Meia-lua, garota loira, bela e suave, de 22 anos, estudante de Informática. Das primeiras palavras para o sexo verbal incandescente não se passaram mais do que 50 minutinhos. Havia um mês, quase todas as noites, aquelas três criaturas nebulosas, fantasmagóricas e enlouquecidas devoravam-se em arroubos eletrônicos. Seguidamente, Juliana trêmula, carente e voraz, partia para o quarto, estirava-se na cama macia e enroscava-se no corpo do marido, que correspondia deslumbrado aos arroubos da nova mulher.