ESTRESSE
Era meio dia quando Ravena deixou o escritório e encaminhou-se para o almoço, num restaurante ali próximo. O local estava repleto. Ela entrou na fila, esperou pacientemente sua vez, serviu seu prato e dirigiu-se à mesa de sempre, num reservado do salão. Acomodou-se na cadeira e mal começara a almoçar, sentiu que alguém a olhava. Virou-se discretamente para um lado e para outro, mas nada viu que confirmasse suas suspeitas. A sensação de estar sendo olhada, no entanto, continuou e isso a deixava incomodada, levantou-se e, então, percebeu um rapaz estranho que a fitava persistentemente. Quando seus olhares se encontraram, o sujeito sorriu de uma forma que ela não gostou. Consequentemente terminou rápido sua refeição e deixou o recinto. Ao passar pela porta de saída, virou-se ligeiramente para trás e deu com o sorriso enigmático do rapaz. Apressou o passo, temendo que ele a seguisse e voltou direto para o trabalho.
Aquela tarde não foi nada fácil para Ravena. O olhar malicioso a perseguia e a deixava inquieta. O trabalho não fluía. Quando por fim o horário terminou, saiu aliviada, iria encontrar-se com Artur, seu namorado que vinha sempre esperá-la na saída. O pesadelo terminaria, ela acreditava. Artur estava a sua espera, mas o tal rapaz também. Não se aproximou, mas acenou para ela, de forma que o namorado percebesse e desapareceu.
- Quem é o cara? perguntou o Artur
- Não tenho a menor ideia. Ele estava no restaurante, numa mesa afastada da minha, mas não tirava os olhos de mim. Não sei quem é, não sei o que quer, jamais o havia visto antes de hoje.
- Não foi o que deixou transparecer. Acenou para ti com familiaridade.
- Juro que não o conheço. Tens que acreditar em mim.
- Está bem, eu acredito em ti. Mas se ele voltar a te perturbar, me avisa, que darei um jeito nele.
- Fica tranquilo, eu te aviso.
O sujeito voltou a aparecer, a olhar para Ravena e a acenar. Já memorizara todos os passos que ela dava: quando chegava no trabalho, quando saía para almoçar, quando voltava para o escritório, à tarde, no final do expediente, quando Artur ia encontrá-la. Não a deixava em paz. Ela estava atormentada, não sabia mais o que fazer. Ás vezes pensava em encarar o sujeito e tirar satisfação, mas desistia, por falta de segurança. Também não contava ao namorado, como prometera, temendo as consequências. E o pretenso admirador incrementou a ousadia, mandando-lhe flores, dizendo oi, Ravena, quando ela passava. E foi mais longe: voltou a aparecer à hora em que o casal se encontrou, no final do expediente. Aproximou-se e falou:
- Oi, Ravena, hoje estás ainda mais linda.
Artur partiu para cima do atrevido que saiu na correria. Ravena começou a chorar, sentiu-se pressionada e contou tudo ao namorado, afirmando que permanecera calada por tanto tempo, porque temia as consequências do que pudesse ocorrer e ela não queria sentir-se culpada; porém não aguentava mais, estava vivendo um inferno.
Foram à delegacia e prestaram queixa. A polícia investigou e sem grandes dificuldades localizou o atrevido que esperava Ravena no restaurante. Deteve-o e fazê-lo falar não foi difícil. Sem embaraço, contou que fora contratado por uma senhora rica, para pôr fim ao namoro.
Sra. Madalena, mãe de Artur, detestava Ravena, por tratar-se de uma garota pobre, de “uma classe social inferior”, como dizia e jurou que jamais permitiria que seu único filho levasse adiante aquele despropósito.
-