Coletiva de imprensa
17:00h! Carolina encontrava-se deitada deste às 14h. E tudo se deu após aquele amanhecer animado. Antes mesmo de levantar, às 06h da manhã, ela já havia planejado o dia inteiro. Também havia dito que seguiria todo o roteiro, que aquele seria o dia da virada. Pulou da cama e começou. Toda a bagunça que tinha se formado em casa, se desfazia. Lavou louça, varreu o chão. Passou pano, lavou o banheiro. O cuscuz e a água do café já estavam na boca do fogão. Cantarolava suas músicas, como se fosse uma popstar em dia de show lotado. Pôs a carne para descongela, cortou os vegetais e legumes para salada e tempero do arroz e do feijão. As horas se iam como nunca! Só ela sabia o quanto sentia saudade de toda aquela energia. Então, com tudo cumprido até aquela hora, e ainda adiantada, orgulhosa de si, até aquela fatídico momento, abaixou a música e sentou para tomar um ar. Foi como um sequestro relâmpago. Cansada... não teve nem como reagir. A primeira pergunta foi lançada:
- Ainda vamos ter que sair mais tarde? - questionou, uma voz tímida, miúda, que não se soube de onde veio.
Outra, atropelando qualquer chance de resposta, foi atirada: "- Creio eu, pelo que vimos até agora, que "você é capaz!", mas que tal deixar o resto para amanhã?!".
Encostada no sofá, suspirou. E começaram a explodir perguntas de todos os lados. Vozes e mais vozes, cada qual questionando algo, como se fosse uma coletiva de imprensa. Perguntam-se sobre tudo! Deste o que já havia sido esclarecido a muitos anos atrás até detalhes que são tão pessoais que se faz questionar o quão fundo estão empenhados para causa tanto constrangimento. Parece não haver escapatória, a não ser tapar os ouvidos, se levantar e sair correndo e gritando, como se estivesse louca. Carolina até recupera os sentidos dos braços e das pernas de tão boa que a ideia é. Porém, eles parecem que ensaiaram e combinaram tudo com antecedência. E lá do fundo surge uma voz familiar, segura da sua questão, e que faz todas as outras se silenciarem:
- E o que você vai fazer agora para mudar? Você já não tinha prometido que "DESSA" vez seria diferente? Então... cadê a mudança?
Nesse momento, Carolina percebe que já não são mais 14h, nem 14:10, muito menos 14:30. São dezessete horas! Por mais que tenha sido tortuoso, ela se agarrava a ideia de que eram segundos com sensações de horas, que ainda dava para vencer e seguir o roteiro. Mas haviam sido horas perdidas novamente. Mais uma derrota... Foi como ter sido pega em flagrante no crime mais hediondo de todos. Carolina congela. E estiraram-se olhares e vozes em sua direção. Mais uma enxurrada de perguntas e acusações implode. Não há mais o que ser feito. A voz dela até se encontra presente no meio de todas outras, mas é como tentar conversar tranquilamente no meio do bloco de carnaval mais animado, lotado e esperado do ano. Então ela permaneceu lá, recusando-se a acreditar que aquilo estava ocorrendo novamente. Mas sem forças de sair daquilo tudo sem ajuda, e pior, já acostumada, ciente de que uma ora elas cansam. Permaneceu o resto do dia deitada, aguardando a hora em que poderia ao menos levantar, tomar um banho, almoçar e descansar até o momento delas retornarem para a próxima coletiva.