4 anos

Sexta-feira, 26 de abril de 2024

10h30 da manhã,

Maria Júlia brinca com seu pai, construindo um castelo de areia em Palm Beach, Florida enquanto sua mãe faz alguns takes dela para postar no perfil do Instagram de Maria Júlia, fechado para amigos e coordenado pela mãe; Maria Júlia ri de seu pai decepcionado por destruir a torre norte do castelo que construíram juntos, por ser desajeitado, mesmo tendo engenharia como formação. Maria Júlia é solar, com os olhos azuis, azuis porque não é apenas um tom de azul que compõem seus olhos, mas vários, tornando-a ainda mais radiante com seus cabelo loiros, ondulados e perolados, que brilham quando o sol bate. Maria Júlia veste um maiô azul cor de céu sem nuvens, com flamingos cor de rosa. É um dos últimos dias de Maria Júlia nos Estados Unidos, a família, que reside na esquina da Oscar Freire com a João Manuel, fora pra Orlando, fazer o cruzeiro da Disney e visitar a Disney Word. Dois dias antes, seus pais comemoravam 8 anos de casados. Maria Júlia tem 4 anos.

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Willian pegou a CPTM, linha coral, saindo de Guaianazes, para o centro da cidade, tendo que fazer baldeação para a linha amarela. Willian desce na estação Oscar Freire e vai sentido alameda Lorena. Willian leva uma pequena cesta de brinquedo vermelha, como essas de supermercado onde nela guarda 12 panos de prato enroladinhos e com eles tem a missão de vender todos os panos, só é permitido voltar para casa com a cesta vazia. Willian veste uma camiseta gola polo listrada horizontalmente de azul e preto e uma bermuda verde musgo de tactel. Willian tem a pele negra e retinta, cabelos raspados mas não o bastante para mostrar os cachinhos que o cabelo produz, tem os olhos e cílios enormes e pretos como duas jabuticabas, narizinho avantajado e lábios carnudos. Willian caiu e arrebentou os chinelos e por isso está andando descalços. Willian para no semáforo, portas de padarias e estabelecimentos comerciais para vender os panos que sua mãe costurou.

Encontrei com Willian na esquina da Alameda Lorena com a Bela Cintra, segurava um caramelo numa mão e a cesta contendo apenas dois panos de prato em outra. Willian tateia na minha frente, o semáforo fecha e ele para do meu lado, posturado e calmo, contente e lambuzado com seu caramelo e em silêncio. Eu abro minha bolsa, Willian observa eu tirar a carteira e entregá-lo 20 reais em duas notas de 10. Willian conta o dinheiro, olha para as notas, olha pra mim, olha para a cesta e pega um pano de prato e me entrega, tudo em silêncio.

- Não precisa filho, a tia não tem espaço onde guardar, fique com o dinheiro.

- Pega tia, se eu não acabar com os panos, eu não posso voltar pra casa – diz o menino em tom ansioso e de desespero.

Willian está sozinho.

Willian só tem 4 anos.