Senhora Aurora
... No fim do bate-papo numa esquina de São Sebastião, ela me veio quase com uma súplica:
- Moço, sabes que dia é hoje? Dia de São José! Ainda tens fé? Pois até agora eu não tomei nem café! Pelo amor de Deus, me dá um trocado pra comprar um pastel e um caldo de cana!
Desconfiado, retirei meu dinheirinho do bolso, e lhe recomendei:
- Olha lá, não o desperdiça com bobagens.
E ela, com espantosa personalidade, lacrou a conversa:
- Olha, moço, a minha vida é torta, não é uma linda rima, mas escuta esta: "Cada semana eu me jogo na trama cotidiana. Insana!".
Não aguentei tanta empatia, dei-lhe um beijo na sofrida face que me sorria.
Quanta rima e poesia na alma daquela bela senhora!