A diarista
Josicleidi chegou para fazer a faxina no apartamento de D. Carol. Ela trabalhava lá como diarista ás segunda, quarta e sexta-feira. Era muito boa com a limpeza. Nos outros dias da semana, ela limpava dois outros apartamentos. Era prendada, muito esforçada. Mas, tinha um problema. Falava pelos cotovelos, e ainda errado devido à simplicidade de mulher criada em sítio, e era, sem maldade, intrometida por demais.
Quando se preparava para passar cera no chão da sala, o telefone tocou...
_ Alô!Quem falha!Aqui é Josicreidi no apareio!
_Alô Josicleidi, sou eu o Dr. Ricardo, minha mulher está?
_Oi dotô Ricardu! Ela tevi qui dá uma sardinha!
_ O que? Dá uma sardinha pra quem?
_Nué sardinha di cume naum doto! É uma sardinha pra mor di cumpra um quidicarne, massutomati pra mor de fazer o armoço!
Depois de muita gargalhada e tomar fôlego, Dr. Ricardo responde. _ Tudo bem! Eu ligo mais tarde!
Josicleide como era muito inocente não entendeu a as gargalhadas, e voltou à faxina. Mas o telefone tocou de novo.
_Aras bolas, todo mundo vai ligar praqui hoje?
_Alô Quem falha? Aqui no pareio é a Josicreidi e aí?
- Aqui é da Policia. Acaso conhece um tal de Amuleto.
-Amuleto? Tenho uma figa, um patuá, mas este tar de amuleto, eu não conheço.
- Minha menina. Por acaso está aí o seu patrão, seu pai, mãe.
- Não seu moço. E vamu deixa de intimidade pro meu lado. Sô muler dereita , num vô na cunversa de ninhum sujeito di fala enrulada. Aqui sou empregada, diarista e de todos os dias. Meu pai e mãe ficaram lá pras Minas , enterrados naqueli cafundó que só vendo. Mais num cunheçu ninhum amuleto.
-Pois bem. Volto a ligar mais tarde. Sou o investigador Epaminondas, peça para que telefonem, anote aí 235...
-Pamonhas. Gosto muito, sim senhor. Mas, não sei escrivinhá, só desenha uns númuro. O senhor intendi , né?
_Tudo bem minha Senhora. Pode deixar, eu ligo mais tarde.
_Tá bão! Tiau seu pamonha!
_O quê?
_Falei tiau! Ta cuszuvidu inframadú?
_O que a senhora disse?
_Aras bolas Oia ieu tenhu muitu sirvisu pra mor di faze aqui pra fica de prose cu sinhor seu Pamonha! O senhor midá lisencia qui ieu vô trabaia.
_Tiau viu seu Pamonha!
Josicleide desligou o telefone. Do outro lado o investigador estava doido da vida com ela...
Nesse momento chega a patroa.
- D. Caró, um tar de pamonha aí no trafone queria falar dum amuleto... Num intendi bem e a D. Anja trôxe a cane pru estrogobofi...
Enquanto Carol tentava decifrar os recados batem à porta
-Deixa Josi, eu atendo. Do lado de fora um homem alto e forte, aparentemente zangado pergunta: eu acabei de telefonar prá cà, a Senhora atendeu?
- Não, meu senhor, eu acabo de chegar.
- Pois é a senhora acha que eu tenho cara de trouxa? Olha aqui, sou investigador Epaminondas Tavares de Albuquerque...
- É esse aí D. Caró, seu Pamonha, que qué um tar de amuleto...
_Josicleidi, vá para a cozinha!_Diz Carol, irritada com a diarista.
_Desculpa, Sr Epaminondas!Josi é um pouquinho atrapalhada!
_ Atrapalhada?É burra mesmo!
_ Por favor, não se dirija a ela nestes termos. É uma mulher batalhadora. Só não teve chance de estudar.
Lá da cozinha Josicleidi escutava a conversa. Ficou muito triste com as palavras do investigador. Mas pensou... Acho qui eli ta certu mermo! Eu sô muitu burra! Num falu nada dereitu! Qué sabe vo vorta a estuda!
Tempo depois, Josicleidi conta à Carol sua vontade de voltar aos bancos escolares.
_ Dona Caró!Eu tinha vuntade di vortá a istudar!
_ Boa idéia!Podes cursar o EJA!*
_ Qui bixu é istu?Nun queru sabe de breju ninhum.Eu já morava nu matu e dispois vim pra capitar...
_Não é nada disso Josi! E.J.A é uma sigla.
_Uma sigra? Qui diabu é issu!
_É quando a gente quer economizar as palavras, E.J.A significa; Educação de Jovens e Adultos. Entendeu?
_Agora sim cumpriindi!
_Então se você quiser, eu posso te matricular, e deixo você sair mais cedo para ir, sem descontar do seu dia. Você quer? Começa amanhã mesmo.
_Craro qui queru! To prota pra virá istudanti...
Josi, lá se foi com seu material escolar: cadernos, lápis e canetas coloridas, porta lápis cor de rosa da Barbie, criança no corpo de mulher.
Entusiasmada, por encontrar gente da sua idade - o Jandir," pedaço de mar caminho" e até alguns mais velhos que seus próprios pais. Com o desajeito dos iniciantes caprichava no desenho das letras de seu nome "êta nome cumprido sô!" Quer saber da Carol, quem inventô esse EJA?
D. Carol disse que a secretária da Educação, Nydia Bello de Oliveira, criou o EJA (Ensino de Jovens e Adultos), que desde 2001 já alfabetizou mais de 1000 alunos.
Não tardou, o dia chegou. Josicleidi estava tão nervosa que tremia suas pernas.
- Josi, vambora! Se não você chega atrasada!
- Ara patroa, carma! Pacênça, istou... cumé qui ocês diz... intrando em istado de isprito! Sinão num vô intendê nada!
- Deixa dessas besteiras e entra no carro! Já pegou o seu material?
- Já, já! Tá bão...
Ao chegar à escola, a primeira impressão que ela teve foi de que estava perdida. Essas sensações que temos quando entramos em lugares desconhecidos...
A professora pediu a todos que declarassem seus nomes e falassem um pouco do lugar onde nasceram. Quando chegou a vez de Josicleidi...
_Meu nomi é Josicreidi Paricida da Sirva.Eu vim dum lugar muito longi, ondi canu chuvia muito o riu disbordava e dava uma inorme xurada.
Eu sô diarista.Dona Caró sempri pedi pra mim limpá os ilustris,agita os numuros no celulá e tambeim dá xativo pru Betovi, é o cachorru dela, mas u remédiu não faz defeitu.U danadu du Betovi não caga bicha ninhuma...
A professora percebeu que ali o problema iria ser feio..
_Vamos aprender os números!
_Os numuros eu cunheço Profi!Só num lembro si o novi é aqueli qui teim u buchu pra cima o pra baixo!
_É pra cima, Josicleidi!
A aula continua... Vamos falar de Artes. Vejam estes belos quadros, são do pintor Vincent van Gogh!
Os alunos observam as reproduções com atenção. Josicleidi fica encantada com a obra Noite Estrelada e sai com esta:
_ Dona Marvada_(a professora chama-se Malva), adorei os quadrus deste tal de van Dogui!
- Não é Van Dogui, é Van...
- Óia, esses quadro me recorda meus tempo piqueno, quando eu ia pra casa dus vizinhus roubá...ops... visitá... i aí chuvia i ficava tudo imbaçado, num dano pra vê nada, igual os quadro desse ome...
- Você saiba de uma coisa, o Van Gogh é um dos pintores mais famosos do mundo! Isso é um insulto! Já pro quadro! Escreva duzentas vezes "eu reconheço a grandiosidade de Van Gogh comparada a minha ignorância"
- Ói... Eu até ia inscrivê... Mas nóis num tavo aqui pra aprendê a iscrevê? isqueceu que eu só anarfabeta, i mar sê falá?
Dona Malva refletiu sobre a situação. Aquelas pessoas estavam ali para, na melhor das hipóteses, aprenderem a assinar o seu nome.
Seguiria com seu trabalho de professora, dando o melhor de si aos seus alunos.
Josicleidi continuou seu trabalho como diarista, conseguiu fisgar o coração de Jandir e estudou...
No final do ano...
_ Parabéns Josicleidi!Eis teu diploma de conclusão do EJA!
_ Muito obrigada, Dona Malva! É nunca é tarde para aprender!
Criação: Marcelo Bancalero, Vilma, Grotius,Denise Severgnini e Gabriel Rübinger Betti
Josicleidi chegou para fazer a faxina no apartamento de D. Carol. Ela trabalhava lá como diarista ás segunda, quarta e sexta-feira. Era muito boa com a limpeza. Nos outros dias da semana, ela limpava dois outros apartamentos. Era prendada, muito esforçada. Mas, tinha um problema. Falava pelos cotovelos, e ainda errado devido à simplicidade de mulher criada em sítio, e era, sem maldade, intrometida por demais.
Quando se preparava para passar cera no chão da sala, o telefone tocou...
_ Alô!Quem falha!Aqui é Josicreidi no apareio!
_Alô Josicleidi, sou eu o Dr. Ricardo, minha mulher está?
_Oi dotô Ricardu! Ela tevi qui dá uma sardinha!
_ O que? Dá uma sardinha pra quem?
_Nué sardinha di cume naum doto! É uma sardinha pra mor di cumpra um quidicarne, massutomati pra mor de fazer o armoço!
Depois de muita gargalhada e tomar fôlego, Dr. Ricardo responde. _ Tudo bem! Eu ligo mais tarde!
Josicleide como era muito inocente não entendeu a as gargalhadas, e voltou à faxina. Mas o telefone tocou de novo.
_Aras bolas, todo mundo vai ligar praqui hoje?
_Alô Quem falha? Aqui no pareio é a Josicreidi e aí?
- Aqui é da Policia. Acaso conhece um tal de Amuleto.
-Amuleto? Tenho uma figa, um patuá, mas este tar de amuleto, eu não conheço.
- Minha menina. Por acaso está aí o seu patrão, seu pai, mãe.
- Não seu moço. E vamu deixa de intimidade pro meu lado. Sô muler dereita , num vô na cunversa de ninhum sujeito di fala enrulada. Aqui sou empregada, diarista e de todos os dias. Meu pai e mãe ficaram lá pras Minas , enterrados naqueli cafundó que só vendo. Mais num cunheçu ninhum amuleto.
-Pois bem. Volto a ligar mais tarde. Sou o investigador Epaminondas, peça para que telefonem, anote aí 235...
-Pamonhas. Gosto muito, sim senhor. Mas, não sei escrivinhá, só desenha uns númuro. O senhor intendi , né?
_Tudo bem minha Senhora. Pode deixar, eu ligo mais tarde.
_Tá bão! Tiau seu pamonha!
_O quê?
_Falei tiau! Ta cuszuvidu inframadú?
_O que a senhora disse?
_Aras bolas Oia ieu tenhu muitu sirvisu pra mor di faze aqui pra fica de prose cu sinhor seu Pamonha! O senhor midá lisencia qui ieu vô trabaia.
_Tiau viu seu Pamonha!
Josicleide desligou o telefone. Do outro lado o investigador estava doido da vida com ela...
Nesse momento chega a patroa.
- D. Caró, um tar de pamonha aí no trafone queria falar dum amuleto... Num intendi bem e a D. Anja trôxe a cane pru estrogobofi...
Enquanto Carol tentava decifrar os recados batem à porta
-Deixa Josi, eu atendo. Do lado de fora um homem alto e forte, aparentemente zangado pergunta: eu acabei de telefonar prá cà, a Senhora atendeu?
- Não, meu senhor, eu acabo de chegar.
- Pois é a senhora acha que eu tenho cara de trouxa? Olha aqui, sou investigador Epaminondas Tavares de Albuquerque...
- É esse aí D. Caró, seu Pamonha, que qué um tar de amuleto...
_Josicleidi, vá para a cozinha!_Diz Carol, irritada com a diarista.
_Desculpa, Sr Epaminondas!Josi é um pouquinho atrapalhada!
_ Atrapalhada?É burra mesmo!
_ Por favor, não se dirija a ela nestes termos. É uma mulher batalhadora. Só não teve chance de estudar.
Lá da cozinha Josicleidi escutava a conversa. Ficou muito triste com as palavras do investigador. Mas pensou... Acho qui eli ta certu mermo! Eu sô muitu burra! Num falu nada dereitu! Qué sabe vo vorta a estuda!
Tempo depois, Josicleidi conta à Carol sua vontade de voltar aos bancos escolares.
_ Dona Caró!Eu tinha vuntade di vortá a istudar!
_ Boa idéia!Podes cursar o EJA!*
_ Qui bixu é istu?Nun queru sabe de breju ninhum.Eu já morava nu matu e dispois vim pra capitar...
_Não é nada disso Josi! E.J.A é uma sigla.
_Uma sigra? Qui diabu é issu!
_É quando a gente quer economizar as palavras, E.J.A significa; Educação de Jovens e Adultos. Entendeu?
_Agora sim cumpriindi!
_Então se você quiser, eu posso te matricular, e deixo você sair mais cedo para ir, sem descontar do seu dia. Você quer? Começa amanhã mesmo.
_Craro qui queru! To prota pra virá istudanti...
Josi, lá se foi com seu material escolar: cadernos, lápis e canetas coloridas, porta lápis cor de rosa da Barbie, criança no corpo de mulher.
Entusiasmada, por encontrar gente da sua idade - o Jandir," pedaço de mar caminho" e até alguns mais velhos que seus próprios pais. Com o desajeito dos iniciantes caprichava no desenho das letras de seu nome "êta nome cumprido sô!" Quer saber da Carol, quem inventô esse EJA?
D. Carol disse que a secretária da Educação, Nydia Bello de Oliveira, criou o EJA (Ensino de Jovens e Adultos), que desde 2001 já alfabetizou mais de 1000 alunos.
Não tardou, o dia chegou. Josicleidi estava tão nervosa que tremia suas pernas.
- Josi, vambora! Se não você chega atrasada!
- Ara patroa, carma! Pacênça, istou... cumé qui ocês diz... intrando em istado de isprito! Sinão num vô intendê nada!
- Deixa dessas besteiras e entra no carro! Já pegou o seu material?
- Já, já! Tá bão...
Ao chegar à escola, a primeira impressão que ela teve foi de que estava perdida. Essas sensações que temos quando entramos em lugares desconhecidos...
A professora pediu a todos que declarassem seus nomes e falassem um pouco do lugar onde nasceram. Quando chegou a vez de Josicleidi...
_Meu nomi é Josicreidi Paricida da Sirva.Eu vim dum lugar muito longi, ondi canu chuvia muito o riu disbordava e dava uma inorme xurada.
Eu sô diarista.Dona Caró sempri pedi pra mim limpá os ilustris,agita os numuros no celulá e tambeim dá xativo pru Betovi, é o cachorru dela, mas u remédiu não faz defeitu.U danadu du Betovi não caga bicha ninhuma...
A professora percebeu que ali o problema iria ser feio..
_Vamos aprender os números!
_Os numuros eu cunheço Profi!Só num lembro si o novi é aqueli qui teim u buchu pra cima o pra baixo!
_É pra cima, Josicleidi!
A aula continua... Vamos falar de Artes. Vejam estes belos quadros, são do pintor Vincent van Gogh!
Os alunos observam as reproduções com atenção. Josicleidi fica encantada com a obra Noite Estrelada e sai com esta:
_ Dona Marvada_(a professora chama-se Malva), adorei os quadrus deste tal de van Dogui!
- Não é Van Dogui, é Van...
- Óia, esses quadro me recorda meus tempo piqueno, quando eu ia pra casa dus vizinhus roubá...ops... visitá... i aí chuvia i ficava tudo imbaçado, num dano pra vê nada, igual os quadro desse ome...
- Você saiba de uma coisa, o Van Gogh é um dos pintores mais famosos do mundo! Isso é um insulto! Já pro quadro! Escreva duzentas vezes "eu reconheço a grandiosidade de Van Gogh comparada a minha ignorância"
- Ói... Eu até ia inscrivê... Mas nóis num tavo aqui pra aprendê a iscrevê? isqueceu que eu só anarfabeta, i mar sê falá?
Dona Malva refletiu sobre a situação. Aquelas pessoas estavam ali para, na melhor das hipóteses, aprenderem a assinar o seu nome.
Seguiria com seu trabalho de professora, dando o melhor de si aos seus alunos.
Josicleidi continuou seu trabalho como diarista, conseguiu fisgar o coração de Jandir e estudou...
No final do ano...
_ Parabéns Josicleidi!Eis teu diploma de conclusão do EJA!
_ Muito obrigada, Dona Malva! É nunca é tarde para aprender!
Criação: Marcelo Bancalero, Vilma, Grotius,Denise Severgnini e Gabriel Rübinger Betti