A Caixa de Fósforos na Janela e o Ponto Final
Era uma vez um marido, uma mulher e uma caixa de fósforos. Pelos protocolos da casa onde viviam somente os dois, nos dias mais frios do ano a caixa de fósforos não podia ficar sobre o beiral da janela da cozinha, pois pegava umidade e os fósforos ficavam frios e quase sem vida, com uma enorme dificuldade de irradiarem o fogo pelas suas cabeças altamente inflamáveis — seriam os palitos de fósforos temperamentais?
Mas muito frequentemente esta regra era quebrada pela mulher; o marido então, de tão neurótico que era, reclamava sobre aquilo, dizia que já havia pedido milhares de vezes, que não adiantava falar, que isto, que aquilo...Depois da ladainha ele sempre contava a história de um ônibus que circulava pela cidade e que, por ser um circular, não tinha um ponto final; então ele dava a cartada final: Mulher, amada mulher, esta história não terá nunca um ponto final? A mulher nunca respondia nada; simplesmente sorria.
Este incidente da caixa de fósforos na janela, da ladainha, do ônibus circular e do ponto final da história e do ônibus ocorreu um sem número de vezes. Até que, numa noite fria e úmida ao procurar pela caixa de fósforos, o marido percebeu com uma certa dose de irritação que os palitos estavam todos frios dentro da caixa na malfadada janela.
Então, ele mais uma vez chamou a mulher, e pela enésima vez proferiu sua ladainha e contou mais uma vez ainda a enfadonha e sem graça história do ônibus circular. Mas desta vez finalmente a mulher respondeu:
— Amado marido, quem deixou a caixa de fósforos no beiral da janela da cozinha foi você. O marido não respondeu nada; simplesmente sorriu.
Daquele dia em diante eles viveram felizes para sempre e o ônibus circular, bem como esta fábula, finalmente encontraram o seu glorioso ponto final.
Volta Redonda, 13 de Fevereiro de 2022