🗣️🔹🔷Ouvi Uma Fofoca! 🗣️🙅🏽♂️🤐
Era uma manhã de sábado do mês de fevereiro. Estava hospedado de passagem na casa de alguém que quero mais do que bem, qual considero ser da minha família por extensão e afinidade. O delicioso café já estava quase servido quando um parente desta nobre criatura se juntou a nós. Ficamos os três à mesa e, juntos, nos deliciamos com aquele desjejum preparado com o carinho e esmero de sempre.
Coisa normal à mesa é conversar sobre amenidades variadas e inofensivas que até alegram o espírito, coisas sempre bem-vindas logo pela manhã que alegram o dia todo.
No entanto, o parente visitante, já quase no final daquela refeição tão bem servida, puxa um assunto sobre o passado distante e alheio ao conhecimento e ao interesse de terceiros, sobre outro parente próximo pertencente ao "outro lado" da sua família.
Descongelando e requentando assunto guardado em seu coração; relatou detalhadamente matéria muito íntima e delicada, revelando nomes de antigos relacionamentos e escolhas que a ausente mencionada fizera na juventude, qual não mais lhe pertence, pois tal pessoa já tem netos, assim como aquela que relatava tal inconveniente história.
Terminou arrematando a sua fala afirmando, justificando apenas para sua alma, que na sua idade se reservara o direito de dizer o que quiser, pois "as pessoas devem saber como foi que aconteceu". Também dissera outras coisas, não ligadas ao assunto do mexerico, que davam conta desta ser uma pessoa importante, pois seus antepassados eram indivíduos de relevância social em outro canto e em outra época, mas a descendência lhe conferia tal senso de importância condicionada ao parentesco, mesmo que distante.
A dona da casa, parente de tal "relatora do alheio", não deu muita atenção ao que foi dito, talvez porque já conhecesse a história. Eu, por outro lado, e embora em silêncio, fiquei extremamente incomodado, não pelo fato de conhecer e ter um carinho pelo personagem da história qual acabara de ser contada. Mas questionara o motivo de ser dita diante de mim por uma criatura que mal me considera afetivamente parte da sua família, embora participe desta há mais de sete anos.
Foram várias indagações silenciosas que vieram à minha mente naquele momento: – A troco de que tal pessoa faria tal relato de alguém da própria família para um indivíduo que não consideram parte desta? Por que falaria do passado de alguém que sabe que tenho grande carinho e apreço? Por que falaria de alguém que, sabe-se, lhe faz companhia até em eventos sociais?
Se tal pessoa relata "intimidades" de alguém que supostamente considera, o que seria capaz de fazer com a imagem que indivíduos quais não considera? Por mais que o assunto revelado fosse pesado, não fiquei com má impressão do "personagem" principal de tal "relato", mas fiquei com uma péssima impressão de seu "relator" que ousou invadir a "casa" de onde tal pessoa não mais reside – o passado.
Resolvi tentar ignorar o fato, mas aquilo me angustiou tanto ao ponto de conversar a respeito de tal assunto com tal pessoa querida que me recebera em sua casa e também ouviu o tal relato. Senti-me culpado apenas pelo fato de ter ouvido de forma subjacente tal mexerico requentado e não ter dito nada, pois, como estava em casa alheia, ouvindo assunto alheio, não quis me manifestar.
Aquilo me fez sentir-me cúmplice por não ter tido a presença de espírito de dizer o óbvio – que aquilo "não é da minha conta!" ou ter, simplesmente, pedido licença e me levantado da mesa, mas fui surpreendido. Dias e semanas se passaram e aquilo continuou a me incomodar.
Tive vontade de falar com a pessoa foi exposta, mas, se eu falasse, tal denúncia não soaria, também, como uma fofoca? E eu não estaria eu dando continuidade ao mexerico? E caso falasse, a "vítima" não estaria apenas agravando uma situação familiar, trazendo à baila um passado distante e provocando um afastamento de duas pessoas que se acompanham como "amigas"? – Meu Deus do Céu, o que fazer?
Fofocas têm disso: criar audiência e cúmplices de pessoas infelizes com a própria vida. Sim, isso mesmo! Disse mesmo que pessoas assim são infelizes, caso isso seja um hábito e não um fato isolado movido por uma raiva momentânea, um momento de fraqueza, qual a pessoa se acometera e possa ter até se arrependido do que tenha dito mediante um sofrimento, uma carga emocional – por isso "fiquei na minha", pois não sou juízo, júri ou o executor!
Que a sabedoria do tempo cuide, não os juízes "comedores de feijão". Mas saibam que pessoas felizes cuidam da própria vida e não tentam "queimar o filme" de ninguém. E amizades verdadeiras são pontes e não becos sem saída. E tomemos cuidado com o que falamos sobre os outros, pois isso diz muito mais sobre nós do que de quem estamos falando.