Lição da minha avó
Isso foi em abril de 1963. Meu Chevrolet enguiçou no meio da noite numa estrada de terra, poeira, só poeira e cascalho. Nenhuma viv'alma.
- Deus me livre!
Andei a pé duas léguas - só eu e Deus - e dei sorte. Achei uma pensãozinha em Sumidouro, graças a Deus.
- Oi cumpade, cê tem uma caminha aí pra uma noite só?
- Sim, sinhô! Entra aqui nessa portinha, dá uma espiadinha pra ver se tá nos conforme.
- Bão demais, cumpade!
Entrei, dei boa noite, banho naquela hora de serpentina era impossível. Naquela terra seca água valia ouro.
O quartinho tinha uma bacia esmaltada com uma jarra d'água, sem sabonete, uma cama com colchão de capim, um urinol no canto e um tamborete.
Rezei baixinho e me lembrei do que a minha avó Luísa sempre me alertava quando eu reclamava de qualquer coisa: "Quem não tem cachorro, caça com gato; e quem não tem gato, enfia a cara no mato".
Era o que eu estava fazendo naquele fim de mundo. Ó minha santa avó Luísa!
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