Esbarrão no Desconhecido
Aquela figura simpática e cabisbaixa, eu a conhecia. Sábio astrônomo. Frequentador do Observatório Astronômico Frei Rosário, na Serra da Piedade. Apaixonado pela astronomia, astrofísica e cosmologia. Curioso, desconfiado e agnóstico. Astuto jogador de xadrez.
Há muitos anos foi professor e pesquisador da universidade. Tímido, passou invisível aos olhos do vaidoso mundo acadêmico.
Nesta última vez que o encontrei na Praça da Liberdade, confessou-me falando baixinho e trêmulo:
- Depois de seis décadas dei-me conta de algo magnífico e eternamente pulsante. Acho que você, Lu, vai gostar de ouvir isso. Trata-se de minha rendição incondicional. Há Alguém maior..., por cima, por trás, de lado, debaixo, fora e dentro de nós. Mistério envolvente e imponente. Em vão, tentei me desvencilhar dele. Supreendentemente, a minha intimidade com as estrelas, com o firmamento imenso, insondável, luminoso e ofuscante levou-me aonde eu não esperava: - blackout e iluminação total. Um esbarrão no Desconhecido! Blow up! Deus! Eu o encontrei! Ele é o infinito que me fascina infinitamente. O Absoluto que me abala absolutamente. A verdade que eu não consigo conter, mas que me contém. Estou irremediavelmente ferido...
Arregalei os olhos, deslumbrado com a bela confidência. Acachapante! Não aguentei. Pasmo, não arredei o pé. Quis ouvi-lo por mais uma hora. Quanta sabedoria no céu estrelado desse homem!
Bem, o que aconteceu depois que eu escutei isso do velhinho maravilhado é assunto pra outro papo.