A dor da Perda.
A cada hora, algumas dezenas de pessoas desaparecem e nunca mais são vistas.
Infelizmente, as pessoas mais carentes estão desassistidas do Governo.
Apenas os mais ricos, conseguem tudo do bom e do melhor. Políticos se matam para ver quem ganha mais.
Dona Joana é uma senhora de meia idade, negra, descendente de uma família grande, tem 12 irmãos, sempre foi uma mulher batalhadora, nunca deixou-se desanimar pelas rasteiras da vida, começou a trabalhar muito cedo, fazendo faxinas, lavando roupas, sendo babá, tudo que podia fazer para ganhar uma grana, ela fazia.
Aos 21 anos casou-se com o amor de sua vida, um homem muito bondoso, trabalhador, sempre procurou dar tudo do bom e do melhor para Dona Joana, casaram-se e foram morar na Comunidade do Jacaré, Seu Pedro era carpinteiro, tinha um dom maravilhoso, construia coisas lindas, todos os móveis de sua casa, fora ele quem construira.
A felicidade reinava naquele pequeno lar, quando dona Joana descobriu que estava grávida, a felicidade foi maior ainda. Os meses foram passando e estava perto de Joana ter seu bebê, ela estava ansiosa pelo dia e seu esposo também.
Joana saiu para fazer uma compra perto de casa, sentiu uma dor na barriga e sua bolsa estourou, os vizinhos acudiram a mulher para ela não parir no meio da rua, foi levada para o Hospital Central e de lá avisaram seu Pedro que correu para lá imediatamente, quando chegou lá, falou com a recepcionista do hospital e foi encaminhado para a ala da maternidade, o médico veio falar com ele, disse que correu tudo bem e que tanto a mãe como o filho estavam ótimos e que ele poderia entrar para vê-los.
Pedro caminhou por um longo corredor, as paredes estavam descascadas, algumas macas velhas enconstadas no canto, o movimento era grande, médicos, enfermeiros e pacientes passavam a toda hora por aquele corredor, Pedro, ansioso para encontrar sua amada e seu filho, não via a hora de chegar no fim daquele imenso caminho.
Chegou na ala da maternidade e a enfermeira o levou até o quarto onde sua esposa estava, quando chegou lá, seus olhos encheram-se de lágrimas ao ver sua esposa amamentando seu filho, ele aproximou-se em silêncio, fitou os olhos de Dona Joana e olhou bem para aquele pequeno, a felicidade era tanta que não cabia no peito e os dois se abraçaram e choraram juntos.
Dona Joana recebeu alta e foi para casa, ficou um tempo sem trabalhar, mas Seu Pedro não deixava faltar nada, o nome daquele jovem era João, depois de algum tempo, ele ganhou uma irmã chamada Maria, depois Maria ganhou um outro irmão que se chamou Roberto e Roberto ganhou um irmão que se chamou Cleiton. A família ficou grande, mas todos estavam felizes. Seu Pedro construiu um pequeno prédio atrás da casa onde morava e lá fez o quarto para seus filhos.
João completou 15 anos, era um jovem trabalhador como seu pai, adorava estudar, jogava basquete aos fins de semana, seus vizinhos adoravam ele e para ganhar uma grana extra, João estava sempre fazendo favores para todos, ia ao mercado, comprava gás, entregava um remédio, sempre que alguém precisava de um favor, lá estava João que recebeu o apelido de ligeirinho, pois não tardava em cumprir suas tarefas.
João estava estudando para a Escola Técnica, seu sonho era trabalhar na área de informática, gostaria de ser um Técnico em micro computadores, estudou muito para a prova, no dia marcado, levantou cedo e foi para a escola, despediu-se de todos e seguiu seu caminho.
Dona Joana estava sentindo um aperto no peito, uma angustia, não sabia o que era aquele sentimento que invadiu seu peito. João estava demorando muito a voltar, ela ligou em seu celular, caiu direto na caixa postal, a preocupação aumentou mais, seu esposo decidiu ir atrás do menino, informou-se com o vigilante da escola e ele lhe disse que a prova havia terminado a algum tempo e que todos já haviam saido, ficando apenas ele. Seu Pedro decidiu procurar por João, foi no shopping, em alguns outros lugares, ligou mais uma vez no celular do seu filho e nada. Ficou muito preocupado, pois já era noite e da hora que ele saiu de casa, já tinham mais de 12 horas. Decidiu ligar mais uma vez para o celular de João, alguém do outro lado atendeu, Seu Pedro perguntou pelo seu filho, a pessoa não respondeu nada e desligou o celular, Pedro tentou de novo, dessa vez deu desligado e ele decidiu ir para a Delegacia.
Ao chegar no Distrito Policial, falou com o Delegado que informou que infelizmente eles não poderiam fazer nada, que quando completasse 24 horas do desaparecimento, eles começariam a procurar pelo rapaz, Seu Pedro decidiu voltar para casa, pois não havia mais nada que ele pudesse fazer, quando chegou em casa e contou tudo para sua esposa, ela caiu em lágrimas, começou a chamar pelo seu filho, foi até a porta de casa, olhou para o céu e pediu proteção para ele, seus irmãos estavam todos tristes e aguardavam noticías.
A noite foi longa, naquela casa ninguém conseguia dormir imaginando onde João poderia estar, se estaria bem, se estaria com frio, fome e pior, se estaria morto. Assim que amanheceu, Seu Pedro voltou a delegacia e levou os documentos e uma foto de joão, fizeram um retrato, colheram todas as informações e o Delegado de plantão disse que eles iriam fazer o que estava ao alcance deles, mas infelizmente muitas pessoas sumiam sem deixar rastro, ao falar isso, o delegado percebeu que seu Pedro ficou muito triste e começou a chorar, em um gesto humano, chamou o homem para sua sala, lhe ofereceu uma água e um café e tentou acalma-lo. Depois de algum tempo, Pedro voltou para casa, relatou tudo a sua família e eles decidiram fazer alguns cartazes, colocaram na internet fotos e descrições de João, sua última foto que era mais recente, a comunidade mobilizou-se para ajudar nesse momento de dor e tristeza.
Passou-se um ano desde o desaparecimento de João, a polícia não havia encontrado nenhuma pista, todas as pessoas que tiveram com ele pela última vez, foram chamadas para depor, na comunidade, as pessoas ainda estavam ajudando e dando apoio a família, Dona Joana continuou sua vida, mas carregava no peito uma grande dor, Seu Pedro nunca mais foi o mesmo, andava quieto, em silêncio e os irmãos de João sempre se lembravam dele.
João entrou para as estatisticas de pessoas desaparecidas. Infelizmente, a grande maioria é vitíma de assaltos, outras acabam sendo vendidas para o tráfico humano e exploração sexual.
Infelizmente a família de João é mais uma que sofre por não ter notícias do ente querido, sofre pela falta de notícias sem saber o que houve com ele, é como se a terra tivesse tragado o menino.