Discípulo de Bolsonaro

Da série: quem paga com casco, recebe o troco, em ferradura.

Bastante solícito e impecavelmente vestido, o garçom dirigia-se aos clientes. Feito os pedidos dos pratos, Ełe encaminhava-os à cozinha. De passos apresssdos, retornava ao salão; e com as mãos cruzadas para trás do corpo, postava-se de frente para as mesas. Por ser a primeira semana de trabalho, dominava como nenhum outro, o ofício.

Visando melhorar a qualidade dos serviços, tanto em seu atendimento, quanto da casa, escreveu um lema e por horas a fio, decorou-o; e em sua casa, no banheiro da churrascaria, no carro, estava Ele recitando os versos. Para se ouvir, declamava-os em voz alta.

A segunda semana chegou e Ele não titubeou em coloca-lo em prática; e ao chegar o primeiro casal acompanhados dos filhos, esperou pedir os pratos e em seguida, disparou:

"que todos os senhores fiquem bem sob nossa cia.

Como sabeis, a população brasileira aumenta progressivamente; muitas vezes inversamente proporcional, os mananciais minguam;

O que irão tomar".

- coca-cola para os meninos; chopp para a esposa e uma caipirinha para mim.

- água mineral, não?

- não; água tomamos em casa.

- sim, senhor!

Alguns clientes estranharam a nova metodologia de atendimento, porém, para àqueles interessados às questões socioambientais, gerava um bom debate. Certo dia o garçom expandiu o assunto, de modo que além dos versos, ora declamados, completou: (...) senhores, falam tanto na falta de vacinação de rebanho, na mortandade por Covid, mas nesses quase dois anos de guerra de saúde sanitária, só por duas vezes, o número de mortos pela doença superou o número de nascimento de crianças, no país chamado Brasil. - Finalizou: "O que irão tomar"? Não houve um santo pai, ou uma Santa mãe que não ficasse abismados com a fala estatística do Garçom.

Findado o primeiro mês, alguns clientes voltaram à churrascaria; sendo atendidos por um garçom novato. Surpresos, indagaram o proprietário do estabelecimento sobre o sumiço do nobre garçom e estudante, a qual Ele respondia bem humorado: "aqui caríssimos clientes e amigos, é uma churrascaria, lugar para comer e beber bem, esquecer os problemas familiares e do país; e não faculdade de Sociologia, filosofia e outras porcas rias de suas vidas sujas. Completou: "quem estuda muito certas coisas, além de falar alhos e bugalhos pelos cotovelos, cumprimenta jegue. Nunca ouvistes?"

Com o bigode amarelado em cima da boca, deu por encerrado o cacarejo: "em dias quentes, resfriem-se; e em dias frios, aqueçam o bucho. Abaixe o veganismo: carne agora, carne amanhã, carne depois de amanhã, carne sempre! Carne vai bem com tudo, até com água...; o que irão tomar"?

- vamos embora mulher, o dinheiro é o adereço que embeleza a ignorância.

- corretíssimo Dotô! Decifrado o meu enigma. Para melhorar ainda mais, apresente-me e solucione os problemas do país, que Eu apresso a volta de Jesus Cristo, o Messias Salvador, à terra.

E rosnou alto: "Ser, a sua classe é, agora para completar, só falta humanidade. Já descobriu porque os cabritos defecam bolinhas redondinhas? Ué, calou-se? Vai conhecer-te, a ti mesmo nos laboratórios das estradas da capacidade e caminhos da vida, Doto; quem sabe se torna gente humana e empregue mais de 100 funcionários. Logicamente, pagando todos os direitos garantidos à Eles, por lei. Isso e por que os cabritos defecam bolinhas redondinhas, Baudelaire, Augusto Conti, Rousseau, Montesquieu, Bacon, Lula, Haddad, Marx, Foucalt e outros gringos doutrinadores, não te ensinou, né?! Tá vindo outro aí, cujo nome é Boulos.

A faculdade que cursates, fui expulso e prometo nunca mais pôr os pés lá.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 02/07/2021
Reeditado em 02/07/2021
Código do texto: T7291216
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