Isso sim é doença
- Cale a boca, não quero ouvir isso!
Tampa os ouvidos, foge pra longe, mas Adélia lhe acompanha e junto com ela, mais zumbidos. Não sabe o que é pior: ouvir as palavras claras ou o zunido de uma mosca.
Parte para cima de Adelia, é segurada pelo marido, cuja voz retumba:
- Por que não vai embora? Enche a cara de vinho e fica aí falando abobrinha.
- Não sei se você reparou, mas sua esposa esparramou meu vinho. Estou aqui bem consciente.
- Eu não te chamei aqui, vai embora e não me aborrece! Diz Sandra.
- Você tem alma, inteligência e mesmo assim não raciocina. "Vou me matar", "Niguem me ama" "Sou dispensável" "meu pai me abandonou", você não sabe o que eu sofro" " acaso você foi estuprada?".
E assim Adélia, imitou sua irmã, recitou ironicamente os dizeres de Sandra durante a briga do casal.
- Você está dizendo que mereci ser estuprada! Então eu realmente mereço sofrer. Você fala isso porque mainha gosta mais de você!
- Tá bom, estou tentando fazer você raciocinar, agir como quem tem alma. Mas você quer escutar seus sentimentos! Gritou Adélia.
Longo respiro, suspiro:
- A calma e a paciência de profissionais e ainda assim, necas!
--Deixe ela em paz. Nos deixe resolver nossa vida sozinhos, sua irmã tem depressão!
- Deus! Só Ele mesmo viu, você só ouve seus sentimentos. Por que não entende minhas palavras? Arre! E se distancia revoltada. Estaca. Volta atrás, olha e dessa vez para os dois.
- Sério isso?! Deus, faça alguma coisa! Até quando ela vai preferir distorcer tudo o dizemos e continuar a chorar!
Arre!
- Ela não quer ouvir! Para de ser chata. Guarda pra você. Diz o cunhado.
- Se eu que sou irmã não tentar fazer nada vou enlouquecer! Ver minha irmã se matar? Adoecer ainda mais? Ter olhos e não ver? E como fica a minha alma? Num giro, deu-lhe as costas.
Novamente aquele desconsolo, o gelo de uma faca a ser enterrada no peito. Se viu exposta novamente.
- Deus! Como pode?
Vai rezar, e eles se retiram.
- Como pode meu Deus, uma mãe que só falta morrer de desgosto e dá chances, cuida, está presente, até pede desculpas e se sente culpada, mas ela prefere se achar a incompreendida!
E chora,
- Não vê que é amada! Prefere se fixar no que não tem ou acha que precisa ter, ou que lhe prometeram que terá .
Deus, isso não é normal, é doentio. É o diabo.
É verdade, não tem o que quer, quem teria? Tem o que precisa, o essencial. Por que não vê?