O dia a dia na mansão Lennox
O meu dia a dia de trabalho não era dificíl, mas exigia atenção, estabeleci uma rotina que deu certo, o Senhor Lennox me deu um tablet super moderno onde eu fiz várias planilhas.
Logo pela parte da manhã fazia a inspeção de toda a área da propriedade, depois encontrava-me com o Senhor Eloi, o jardineiro para saber se ele precisava de alguma coisa, apesar da cara de mau humor, nunca me destratou, pelo contrário, era muito gentil, ele queixou-se que precisava de um ajudante, eu tinha carta branca para contratar os serviços que fossem necessários para o andamento da Propriedade Lennox, disse ao Senhor Eloi que iria contratar um ajudante para ele, depois o meu encontro era com a Clover, a motorista para saber de suas necessidades, saber como o carro estava, se precisava de algum concerto, manutenção, a propriedade possuía quatro lindos carros, Clover me disse que um dos carros precisava trocar o óleo e foi providenciado, eu fiz uma lista de empresas que trabalham com propriedades como a do Senhor Lennox e conseguia até uns descontos bons.
Depois da inspeção externa, era a vez da parte interna da casa. Duas vezes na semana uma equipe de limpeza comparecia a Mansão Lennox para uma faxina geral, geralmente isso acontecia na Segunda-Feira e na Sexta-Feira, todo o movimento era feito somente na parte debaixo da casa, não tínhamos permissão para irmos lá em cima e ninguém desobedecia essa ordem. A comida era responsabilidade de um buffet que foi contratado e todos os dias no café da manhã, almoço e janta tudo estava magicamente arrumado tanto na sala de jantar, como na cozinha onde fazíamos nossas refeições e cada dia era um cardápio diferente, fiquei sabendo que a proprietária do buffet era a irmã do Senhor Lennox e ele tinha um desconto, mas nunca entendi porque com uma cozinha daquelas não era feita a comida ali mesmo.
A parte da manhã era bem movimentada e apesar do Senhor Lennox sempre estar em casa, raramente eu o via. A parte da tarde eu apenas observava se tudo ia bem, conferia uma coisa ou outra.
Eu, curiosa como sou, ainda estava com a ideia fixa de ir lá em cima, mas não podia me expor e muito menos perder o emprego que era um sonho.
Todas as noites, a Clover, o Senhor Eloi e eu nos reuníamos na área de lazer onde tinha um lugar para uma fogueira, nos sentávamos, levávamos algo para comer e beber e ficávamos até tarde conversando, era uma espécie de terapia. Em um desses encontros descobri a estória do senhor Eloi e o porque dele ter essa cara de mau humor.
- Vai Eloi, conte para a Julia o porque de tanto mau humor - Disse Clover.
- Clover, tome conta da sua vida! Indagou Eloi.
- Gente, calma, não vamos brigar, Clover não seja desse jeito, se o Senhor Eloi sentir-se a vontade ele pode falar.
- Todos aqui sabem a estória dele. Disse Clover.
- Não é mau humor, Clover e você sabe muito bem disso.
- Então fala homem, põe isso para fora.
- Clover, por favor, pare com isso.
- Já que essa idiota insiste tanto, vou falar para ela me deixar em paz, mulher chata.
- Chata mas você me ama.
- Muito bem, eu morava em uma cidade chamada Águas Correntes, isso é no interior do Goiás, morávamos minha mãe, meu pai e meus três irmãos. Quando completei 15 anos, minha mãe faleceu, eu já trabalhava e assumi a responsabilidade de todos em casa, inclusive do meu pai que há alguns anos havia sofrido um acidente e não trabalhava. Decidi abrir um negócio, uma pousada, Águas Correntes é uma cidade turística e tudo ia muito bem, nisso eu já tinha quase 22 anos. Certo dia, apareceu um homem muito bonito na pousada pedindo um quarto e ficou umas 2 semanas lá, eu me senti atraído por ele e vice versa, ninguém sabia que eu era gay e começamos a ter um caso. Não sei como, meu pai descobriu tudo e fez um escândalo digno de novela mexicana, foi para frente da pousada e juntou de gente para ver o show, sai para falar com ele que mais tarde conversaríamos e ele me desceu a porrada com uma bengala que usava, foi um show, a humilhação foi maior ainda, eu, um homem apanhando no meio da rua e ninguém fez nada para me ajudar, o carinha que eu estava com ele, juntou as coisas e se mandou, era um aproveitador, alguém chamou a polícia e me levaram para o hospital, fiquei uns três dias lá e depois que sai, não voltei em casa, coloquei a pousada a venda, já tinha uma pessoa interessada e vim embora para São Paulo, guardo essa mágoa até hoje, por isso sempre estou com a cara fechada.
- E com toda razão, uma humilhação dessas. Disse Clover.
- Nossa Senhor Eloi, eu sinto muito por isso.
- Pode me chamar de Eloi, não sou velho assim para me chamar de senhor.
- Claro, mas na minha opinião, você deveria esquecer tudo isso e seguir sua vida.
- Aqui em São Paulo as coisas são diferentes, eu mando um dinheiro para meus irmãos, eles me disseram que depois que vim embora, meu pai continuou com a vidinha dele como se nada tivesse acontecido.
- E você tem alguém aqui em São Paulo?
- Tem sim, ele tem um namorado lindo demais - exclamou Clover.
- Mais um motivo para você esquecer tudo isso que aconteceu, renovar sua vida, seguir em frente.
- Eu todos os dias falo isso para ele.
Bem, essa é a estória do Eloi, a cada dia descubro algo nessa mansão, algo que me faz acreditar que o Senhor Lennox tem um grande segredo e eu ainda vou desvendar.