HISTÓRIAS E TRILHOS
O trem pára na estação num dia normal, no horário habitual. Pessoas com sonhos, vidas e desejos diversos, sem imaginar que aquela viagem seria excepcional.
Embarcam poucas pessoas naquela manhã.
Maria Augusta e Estevão, seguem em busca da alegria da estadia n'uma estância de águas minerais, talvez a salvação de seu relacionamento, posturas conflitantes no amadurecimento do casal.
Luna, Jadel e a filha Juli, três vidas distanciadas pela rotina em seus trabalhos, três solitários moradores d'uma mesma casa, união restrita aos lados familiares, para eles era só mais um dia no relógio de ponto.
Nacthigall, Dilson e Silvano, estranhos passageiros, que sem noção disso, seguiam para uma entrevista de emprego para a mesma única vaga de contador numa cidade próxima.
Luiz e Cristian, pai e filho, unha e carne, amigos verdadeiros, seguindo para uma consulta médica de acompanhamento de uma doença degenerativa da qual Luiz era portador, a cura real, exigia um doador raríssimo e o tempo corria muito rápido. O amor entre eles nutria a esperança.
Iolanda Maripena e Maryjun amigas de infância, viajavam para celebrar vinte anos de amizade, num hotelzinho charmoso na serra e a alegria bordava os seus sorrisos. Pena que a paixão secreta de Maryjun, fosse o namorado de Iolanda e isso roia o peito dela. Ele não sinalizava ter interesse por ela, era uma paixão de mão única. Ela se sentia desconfortável em abordar o assunto com Iolanda, a situação lhe doía.
Completando a lista, havia o maquinista Olavo, feliz com a família que tinha, mas, cheio de ambição, queria mais conforto para sua esposa e filha, só que tendo que se esforçar tanto para isso. As bagagens dos passageiros, nem sempre estavam bem fechadas, então, incorria em pequenos furtos. Não se arrependia do ato em si, só tinha receio de ser descoberto.
O marcador dos bilhetes Lucas, desconfiava, mas, se calava. Sua vida era simples e seu sonho era poder guardar dihheiro suficiente, para poder comprar um cavalo de carga e com o que amealhasse com os fretes, conseguir dar um melhor estudo para o seu filho e uns tecidos e aviamentos para a esposa costureira.
A linha de trem era muito segmentada, tinha várias estações pequenas pelo caminho, então, a viagem com tantas paradas se tornava demorada, mas, a paisagem verde e viçosa compensava. Deus, seu universo e suas forças da natureza invisíveis e poderosas, demonstravam sua força e distribuíam as suas bençãos de forma focada.
A primeira parada se dá num lindo lugar, a Estância das Águas, que para surpresa de Maria Augusta e Estevão, estava com suas fontes interditadas por uma contaminação, apenas a pousada estava funcionando com todo seu jardim verdejante, foi uma decepção, mas, com descontos, empatia e cordialidade resolveram ficar por ali mesmo, talvez menos diversão, mas, teriam mais tempo para conversar sobre a relação deles. Foram os dias de vinte e quatro horas mais conflitantes de suas vidas, eles não se reconheciam e perceberam que talvez, nunca tenham sido um par nos doze anos de casados, o gentil e simpático dono da pousada, sem querer clareou o inevitável, Maria Augusta se apaixonou por ele, Estevão se confrmou saíndo daquela relação com uma sensação muito boa de liberdade dentro do peito, o caminho para a real felicidade parecia se abrir em tortos caminhos.
A segunda parada leva Jadel, Luna e a filha Juli para o trabalho na empresa de tecelagem, para a surpresa de todos, havia uma manifestação em frente a fábrica, uma greve estava sendo articulada e os ânimos estavam arraigados, guardas e sindicalistas degladiando, muita confusão, debates e propostas sendo alardeadas em altos brados. Luna e Jadel se unem na reivindicação de seus direitos, mas, Juli acha a greve sem conteúdo e subindo sobre um carro, expõe a sua opinião de forma contundente, sendo seguida por outros que têm no trabalho sua tábua de salvação e com receio de perder o emprego aceitaram os benefícios já propostos, pois os acharam justos. Estes posicionamentos diferentes afastaram ainda mais pais e filha. Na viagem de volta, a filha não estava no trem, mandaria buscar os seus pertences, moraria nos alojamentos funcionais junto à fábrica, quem sabe a distância não os aproximasse um dia...
A terceira parada se deu três horas depois da partida, Nacthigall, Silvano e Dilson se viram caminhando para o mesmo local, não se conheciam e sem conversas se apresentaram para a entrevista da vaga única. Suas qualificações eram semelhantes, o diferencial seria a empatia e a facilidade de trabalhar em equipe. A simpatia e a liderança de Nacthigall lhe garantiu a vaga, Dilson conseguiu com sua boa memória e tempo de atuação na área, uma vaga temporária que não fora anunciada. Já Silvano teve o seu currículo devolvido, então, pegou o trem de volta com a certeza de que precisava se qualificar em outra profissão, o futuro à Deus pertence, bola em campo e o jogo da vida segue.
A quarta parada coloca os passos de Luiz e Cristian no caminho do hospial, onde o diagnóstico não se altera e o tratamento não apresenta um quadro satisfatório, um transplante seria a salvação, o retorno para casa foi triste e silencioso, só que menos de uma semana depois foram chamados de novo ao hospital, pois um homem havia se suicidado por saudade, seu nome era Estevão (o pobre não conseguiu seguir sem Maria Augusta, a descoberta tardia do amor o deprimiu). Tempos depois Luiz e Cristian criaram um pequeno memorial para o doador, pois unha e carne tornaram-se braços inteiros de felicidade, indiretamente por causa dele.
A quinta parada despejou a alegria das amigas Iolanda, Maripena e Maryjun no caminho do hotel, pena que a sombra de um segredo também as acompanhasse. Numa noite de muito vinho a língua se solta e a amizade se desfaz. A volta dentro do trem é estranha, pois cada uma das personagens se acomoda em lugares diferentes, a dúvida na mente de Iolanda gritava, Maripena não corrobora com este sentimento e Maryjun decidiu não chegar mais perto de uma taça de vinho, na memória ficariam apenas os lindos momentos vividos.
Olavo o maquinista, praticamente mexeu em todas as bagagens naquela viagem, não encontrou nada de muito valor, levaria para casa roupas para a sua esposa e filha que se alegrariam com os presentes, mas, Lucas não compactuava com esta atitude e o denunciou na última estação. Com este gesto acabou recebendo uma gorda gratificação, seu chefe já tinha uma certa desconfiança no tempo em que Olavo trabalhava em outro intinerário. Lucas retorna para sua casa com calma dentro do peito, fizera o correto e seu filho teria os seus estudos garantidos. A honestidade mantinha sua cabeça erguida e a felicidade aqueceu o seu pequeno lar. Já Olavo teria um tempo na prisão, para pensar na decepção que causara em sua família, pois ao invés de cuidar delas, ele as deixara à própria sorte.
O trem chacoalhava como sempre, levando e trazendo histórias de alegria, tristeza e esperança, vida que segue sobre os trilhos e dormentes.
O trem pára na estação num dia normal, no horário habitual. Pessoas com sonhos, vidas e desejos diversos, sem imaginar que aquela viagem seria excepcional.
Embarcam poucas pessoas naquela manhã.
Maria Augusta e Estevão, seguem em busca da alegria da estadia n'uma estância de águas minerais, talvez a salvação de seu relacionamento, posturas conflitantes no amadurecimento do casal.
Luna, Jadel e a filha Juli, três vidas distanciadas pela rotina em seus trabalhos, três solitários moradores d'uma mesma casa, união restrita aos lados familiares, para eles era só mais um dia no relógio de ponto.
Nacthigall, Dilson e Silvano, estranhos passageiros, que sem noção disso, seguiam para uma entrevista de emprego para a mesma única vaga de contador numa cidade próxima.
Luiz e Cristian, pai e filho, unha e carne, amigos verdadeiros, seguindo para uma consulta médica de acompanhamento de uma doença degenerativa da qual Luiz era portador, a cura real, exigia um doador raríssimo e o tempo corria muito rápido. O amor entre eles nutria a esperança.
Iolanda Maripena e Maryjun amigas de infância, viajavam para celebrar vinte anos de amizade, num hotelzinho charmoso na serra e a alegria bordava os seus sorrisos. Pena que a paixão secreta de Maryjun, fosse o namorado de Iolanda e isso roia o peito dela. Ele não sinalizava ter interesse por ela, era uma paixão de mão única. Ela se sentia desconfortável em abordar o assunto com Iolanda, a situação lhe doía.
Completando a lista, havia o maquinista Olavo, feliz com a família que tinha, mas, cheio de ambição, queria mais conforto para sua esposa e filha, só que tendo que se esforçar tanto para isso. As bagagens dos passageiros, nem sempre estavam bem fechadas, então, incorria em pequenos furtos. Não se arrependia do ato em si, só tinha receio de ser descoberto.
O marcador dos bilhetes Lucas, desconfiava, mas, se calava. Sua vida era simples e seu sonho era poder guardar dihheiro suficiente, para poder comprar um cavalo de carga e com o que amealhasse com os fretes, conseguir dar um melhor estudo para o seu filho e uns tecidos e aviamentos para a esposa costureira.
A linha de trem era muito segmentada, tinha várias estações pequenas pelo caminho, então, a viagem com tantas paradas se tornava demorada, mas, a paisagem verde e viçosa compensava. Deus, seu universo e suas forças da natureza invisíveis e poderosas, demonstravam sua força e distribuíam as suas bençãos de forma focada.
A primeira parada se dá num lindo lugar, a Estância das Águas, que para surpresa de Maria Augusta e Estevão, estava com suas fontes interditadas por uma contaminação, apenas a pousada estava funcionando com todo seu jardim verdejante, foi uma decepção, mas, com descontos, empatia e cordialidade resolveram ficar por ali mesmo, talvez menos diversão, mas, teriam mais tempo para conversar sobre a relação deles. Foram os dias de vinte e quatro horas mais conflitantes de suas vidas, eles não se reconheciam e perceberam que talvez, nunca tenham sido um par nos doze anos de casados, o gentil e simpático dono da pousada, sem querer clareou o inevitável, Maria Augusta se apaixonou por ele, Estevão se confrmou saíndo daquela relação com uma sensação muito boa de liberdade dentro do peito, o caminho para a real felicidade parecia se abrir em tortos caminhos.
A segunda parada leva Jadel, Luna e a filha Juli para o trabalho na empresa de tecelagem, para a surpresa de todos, havia uma manifestação em frente a fábrica, uma greve estava sendo articulada e os ânimos estavam arraigados, guardas e sindicalistas degladiando, muita confusão, debates e propostas sendo alardeadas em altos brados. Luna e Jadel se unem na reivindicação de seus direitos, mas, Juli acha a greve sem conteúdo e subindo sobre um carro, expõe a sua opinião de forma contundente, sendo seguida por outros que têm no trabalho sua tábua de salvação e com receio de perder o emprego aceitaram os benefícios já propostos, pois os acharam justos. Estes posicionamentos diferentes afastaram ainda mais pais e filha. Na viagem de volta, a filha não estava no trem, mandaria buscar os seus pertences, moraria nos alojamentos funcionais junto à fábrica, quem sabe a distância não os aproximasse um dia...
A terceira parada se deu três horas depois da partida, Nacthigall, Silvano e Dilson se viram caminhando para o mesmo local, não se conheciam e sem conversas se apresentaram para a entrevista da vaga única. Suas qualificações eram semelhantes, o diferencial seria a empatia e a facilidade de trabalhar em equipe. A simpatia e a liderança de Nacthigall lhe garantiu a vaga, Dilson conseguiu com sua boa memória e tempo de atuação na área, uma vaga temporária que não fora anunciada. Já Silvano teve o seu currículo devolvido, então, pegou o trem de volta com a certeza de que precisava se qualificar em outra profissão, o futuro à Deus pertence, bola em campo e o jogo da vida segue.
A quarta parada coloca os passos de Luiz e Cristian no caminho do hospial, onde o diagnóstico não se altera e o tratamento não apresenta um quadro satisfatório, um transplante seria a salvação, o retorno para casa foi triste e silencioso, só que menos de uma semana depois foram chamados de novo ao hospital, pois um homem havia se suicidado por saudade, seu nome era Estevão (o pobre não conseguiu seguir sem Maria Augusta, a descoberta tardia do amor o deprimiu). Tempos depois Luiz e Cristian criaram um pequeno memorial para o doador, pois unha e carne tornaram-se braços inteiros de felicidade, indiretamente por causa dele.
A quinta parada despejou a alegria das amigas Iolanda, Maripena e Maryjun no caminho do hotel, pena que a sombra de um segredo também as acompanhasse. Numa noite de muito vinho a língua se solta e a amizade se desfaz. A volta dentro do trem é estranha, pois cada uma das personagens se acomoda em lugares diferentes, a dúvida na mente de Iolanda gritava, Maripena não corrobora com este sentimento e Maryjun decidiu não chegar mais perto de uma taça de vinho, na memória ficariam apenas os lindos momentos vividos.
Olavo o maquinista, praticamente mexeu em todas as bagagens naquela viagem, não encontrou nada de muito valor, levaria para casa roupas para a sua esposa e filha que se alegrariam com os presentes, mas, Lucas não compactuava com esta atitude e o denunciou na última estação. Com este gesto acabou recebendo uma gorda gratificação, seu chefe já tinha uma certa desconfiança no tempo em que Olavo trabalhava em outro intinerário. Lucas retorna para sua casa com calma dentro do peito, fizera o correto e seu filho teria os seus estudos garantidos. A honestidade mantinha sua cabeça erguida e a felicidade aqueceu o seu pequeno lar. Já Olavo teria um tempo na prisão, para pensar na decepção que causara em sua família, pois ao invés de cuidar delas, ele as deixara à própria sorte.
O trem chacoalhava como sempre, levando e trazendo histórias de alegria, tristeza e esperança, vida que segue sobre os trilhos e dormentes.