O desabafo de uma alma velha

Fico pensando onde foi parar minha esperança. 2021 chegou e tudo está igual. É meio ridículo depois que você tem a consciência de que o tempo é apenas uma construção humana. A terra faz uma volta completa em torno do sol e por isso comemoramos e soltamos foguetes? Vida nova? Novo Ciclo? Para quem se tudo permanece tão igual?

O mundo lá fora é um caos. Tem mentiras, traições, ódio, farsas, ilusões. Os sorrisos são falsos e se você não tomar cuidado pode ser esfaqueado por uma besteirinha qualquer ou um mal-entendido. Dizem que somos a espécie mais avançada, mas apenas vejo retrocesso, sangue e destruição. Guerras, extermínios e negligência. Caos, pânico e tragédias.

Já não há mais esperanças em seres divinos e criaturas mágicas. O tempo passa e a vida fica cada vez mais concreta. A finitude da existência alterna entre os sabores, do extremo doce ao mais insuportável amargo. Queria que tudo isso fosse um mal humor matinal, mas é mais uma insatisfação perante a total falta de sentido em tudo que é imposto como real e verdadeiro.

Acreditar que as coisas irão melhorar é a melhor forma de se iludir enquanto se permanece em destrutiva inércia. Estamos em um planeta que orbita uma estrela que é somente mais uma num vasto, e talvez, infinito universo. Fazemos planos, traçamos metas, estipulamos prazos e definimos nosso futuro. Entretanto, o universo, a vida, as entidades cósmicas não querem saber dos nossos planos. Eles não ligam. Não importa. Se vamos ou não alcançar nossos sonhos, ninguém, além de nós mesmos, dá a mínima.

Estamos sozinhos, mesmo acompanhados com amigos, família, ou um amor. Amamos sozinhos, choramos sozinhos, odiamos sozinhos. Ao final, somos nós e nós mesmos abandonados num mundo que para um ser humano é gigantesco, mas que em escala universal é somente poeira cósmica. Cá estamos nós, cada um com sua solidão. Cada um com a liberdade de fazer o que quiser com o peso das consequências. Escolhas, caminhos, trajetórias imprecisas. E tudo é tão relativo, fluido e instável. Esse escárnio chamado vida que dói e adoece.

Falando assim parece que não há momentos bons, sorrisos e magia, há. É inegável, mas minha percepção está diretamente relacionada a ausência de esperança dentro de mim. Faço um extremo esforço para não ser injusto com meus julgamentos e validar as pequenas e boas coisas, os gestos de carinho, amor, amizade. Embora ainda haja um pouco de luz dentro de mim, nem sempre é possível mantê-la acesa. Há um denso campo gravitacional em minha mente sugando cada partícula de luz. No espaço seria um buraco negro, dentro de mim é o niilismo.

Gabriel Cordeiro Machado
Enviado por Gabriel Cordeiro Machado em 03/01/2021
Reeditado em 03/01/2021
Código do texto: T7151066
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