*Onde fui amarrar meu jegue

        

Já fiquei careca e estou criando cabelos novamente de tanto dizer que somos, nós homens, um bando de palermas. Palermo, jogador de futebol da Argentina, cometeu a "palermíssima" façanha de, num só jogo contra a Colômbia, perder três pênaltis em 1999, em plena Copa América. Com isso enfatizou ainda mais o significado de seu próprio nome.

Ao contrário de nós, as mulheres estão cada vez mais atentas a seu tempo e de olho no futuro. As revistas femininas abordam todos os assuntos, sejam esportivos, moda, política, religião, relações humanas, Direito da Família, Psicologia e até culinária, já que elas não são de ferro.

As revistas masculinas são bitoladas, trazem na capa mulheres nuas e dentro, Ronaldinho dentuço falando abobrinhas e o outro Ronaldo pegando travestis. São artigos capengas, feitos por jornalistas mancos e assim, cada vez mais, claudicamos nós.

Outro dia, li uma belíssima crônica do escritor Joel Lorenzoni, em que ele narra seu desespero ao passear de carro com sua netinha Valentina de seis anos. Ela, que descobrira o encanto da leitura, ia soletrando todas as placas e “autdoor”. De repente, manda a pergunta:

Vovô o que é um mo-tel?

Crianças são famosas por fazerem perguntas desconcertantes e, por vezes, exageram sem a menor cerimônia. A sorte do avô foi o outro netinho servir de anjo da guarda e responder que motel era um hotel de apenas um andar. Afff! aquela foi por pouco.

Isso me fez lembrar de um fato que aconteceu quando morávamos em Carolina, Sul do Maranhão. Certa vez, ao passar ao lado da sala principal da casa, vi minhas duas filhas gêmeas Dalva e Raquel brincando, quando do nada uma disse à outra:

- Ei minha filha, painho vai comprar camisinha pra gente não pegar Aids…

De súbito, brequei, impulsionado por aquele papo de alto nível. Vendo-me parado, a pergunta foi-me direcionada:

- Não vai painho?

Minha rota de fuga foi empurrar com a barriga, dizendo-lhes que perguntassem a mãe delas. Ser-me-ia muito mais fácil dizer-lhes que crianças não pegavam Aids, mas nem disso me lembrei.

Os preservativos de látex datam de 1920. Cinquenta anos depois, no Brasil, ainda eram tabu. A comercialização era quase que clandestina, vendidas por detrás do balcão, com pedidos ao pé da orelha. Minha primeira experiência com o artigo não foi das melhores, aliás, nunca foi. O que me sobrou foi contar em Coisas Que Só Acontecem Comigo - XXVII.

Somente com o surgimento da Aids, a venda passou a ser descriminalizada. Agora me apareciam duas pirralhas com uma conversa daquelas! Ora, se eu tivesse pleno conhecimento do assunto talvez, elas nem tivessem nascidos.

Já em Aracaju, certa feita, minha filha Camila também de seis anos, entrou em casa fumaçando pelas narinas como dragão, pagando geral para os irmãos maiores:

- Os meninos estão errados - disse ela – pois estão usando camisão, mas é para usar camisinha para não trazer doença para dentro de casa. Vou já falar com painho.

São nesses momentos em que perguntamos ao nosso umbigo:

Onde fui amarrar meu jegue?