As palavras
As palavras
“O maior mistério é haver mistérios. Ai de mim, senhora
natureza humana. Olhar as coisas como são, quem dera.
E apreciar o simples que de tudo emana. Nem tanto
pelo encanto da palavra. Mas pela beleza de se ter a fala”
RenatoTeixeira.
“uma boa palavra multiplica os amigos e apazigua os
inimigos e um amigo fiel é um tesouro”
Eclesiástico 6; 5 e14.
“Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer
destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá lo,
e nada mais. Compreenderás que um poeta não
pode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos e
professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum
sabemos o que é a poesia.” García Lorca
“Um bom poema é aquele que nos dá a impressão
de que está lendo a gente e não a gente a ele!”
Mário Quintana
Como você tem usado as palavras?
As palavras formam o comportamento. Na língua portuguesa, uma palavra do latim parábola, que por sua vez deriva do grego (parabolé) pode ser definida como sendo um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente com a ideia associada a este conjunto. A função da palavra é representar partes do pensamento humano, e por isso, ela constitui uma unidade da linguagem humana.
Palavras têm espessuras. Palavra fenômeno interessante.
Palavra ser; procura-se entender, mas aceita até o querer
entender, mesmo nas minúsculas palavras do ler, o seu próprio querer. Tecer o amanhã, entender o dia, a noite, o sol, a lua, a primavera, o inverno, o inferno.
O amanhecer na alvorada que desponta confundindo as mentes. Palavra venha nos socorrer e umedecer os lábios que querem dizer alguma coisa para quem não quer ouvir.
As palavras são dos poetas esvaecidos, não entende?
Só desentendes.
Como explicar, tanto quanto o escurecer acende os vaga-lumes. É o pensamento que vagueia, vagueia e transporta para lugares não antes visitados.
A palavra é o poeta e o poeta é a palavra. Os poetas nunca são a palavra final, pode se perder em vírgulas, parágrafos, interrogação, acento circunflexo etc. Pode se cruzar no seu texto e sem contexto com qualquer destes sinais, mas não pode ficar sem ter o ponto final.
Escrever ponto por ponto é se descobrir na terapia de ter escrito em versos e prosa alguma paródia em melodia e, assim compreendendo a devassidão do seu próprio ser.
O que não sei desconto nas palavras. Pensar é uma pedreira.
Estou sendo. Tenho todos os caminhos nenhuma estrada.
Alcanço com as mãos o cheiro da terra molhada. Baratas passeiam querendo me atormentar, e o tombo que levei deslizando nas pedras daquela praia que me encantava de belezas naturais tanto físicas como de pessoas com seus corpos esculpidos na escultura do criador. Alguém me perguntou:
– Porque escrever isto? Respondi:
– É a fim de dizer todas as coisas.
– Mas ai você não esclarece nem uma coisa nem outra.
– Mas quem disse que quero esclarecer? Eu penso em escrever palavras sem o sentido normal das palavras. As palavras nos faz voltar à infância; às rãs que fomos; eu sou o medo da lucidez. A aranha encanta fazendo e deitando na sua teia; E, ao mesmo tempo apavora, ficamos duplamente extasiados pela beleza e também pelo perigo.
A sua frieza é pura devassidão, busquei em você um
caminho de carinhos e que as palavras apontavam à sua direção, você disse não.
Escrever é o encontrar-se na fascinação de mudar o branco do papel em desenhos escritos de palavras que no texto tem uma fórmula bem orquestrada.
Palavra: significativa de unidade de linguagem, promessa, afirmação, ou conversa, a ofensa das palavras, brutalidade.
As palavras, as escritas salvaram a minha vida. As palavras ditas baixinho escorregaram e esvaziaram-se no chão.
Palavras que parecem socos no queixo, palavras que ficam na ponta da língua. Palavras não ditas, caladas, guardadas, sufocadas. Palavras adoecem. Palavras curam, salvam e aniquilam.
A palavra consumo, mais a palavra alimentos com herbicidas, mais individualismo, mais programas chulos de
TV, mais sofrimento, mais destruição do ecossistema, mais violência é tudo igual, neoliberalismo ou capitalismo.
A fala poderá materializar-se do desejo no real. Do real no desejo. A fala reprimida por que não se quer ouvir. Ouvidos trancados. A fala bloqueada. Palavras esvoaçadas.
A fala é uma necessidade premente do ser, às veze
algum ser precisa mais que outros, e só os estereótipos para entender-se o real desta premissa verdadeira. E quando os ouvidos estão surdos de deselegante desatenção? Bem, nesse dia eu jurei que os ouvidos faziam-se ouvir, o equilíbrio dos sentidos se faz necessário...
Ouvir ainda não é escutar.
Ao invés de ficar, o tempo todo, especulando o jeito de
ser e de fazer das outras pessoas, ocupemo-nos em fazer bem a nossa parte. O homem livre não é a soma de tudo que tem, mas a totalidade do Nada de si próprio, a totalidade do que ele mesmo não tem nem é. Somos pessoas diferentes e cada um tem a sua verdade. Respeitemos o mundo de cada um e, ainda que uns e outros não respeitem o nosso, estejamos certos de que estamos fazendo a nossa parte, porque enquanto não o fizermos muito bem feita, não saberemos qual é a sua utilidade e por que está aqui.
Do livro reflexão em forma de oração
Irineu Xavier Cotrim