A DÍVIDA...
Era mocinha, cheia de timidez e complexos, e um senso de responsabilidade fora do normal.
Criada com os pais e quatro irmãos, sendo a segunda, tinha muitas responsabilidades para ajudar com os afazeres da casa e o cuidado com os irmãos menores e com os próprios problemas de saúde que tinha, sendo que ainda tinha muita vontade de estudar e ir para a escola era um lazer. Ia por gostar mesmo. Não era obrigada, mas gostava, então quanto mais velha, pra fazer o segundo grau, sua mãe disse que não precisava, mas ela : - Não, eu quero!
Quando fez 18 anos mudaram da chácara para o bairro do Grajaú, na grande São Paulo.
Daí começou a ir para entrevistas de emprego.
Como era muito tímida, talvez a achassem sem capacidade para nada. Pois nunca recebia ligação de retorno. Ia nas entrevistas, mas depois não retornavam.
Certa feita foi fazer uma entrevista perto do Bairro do Rio Bonito, e aproveitou para passar na farmácia para comprar um remédio para bronquite, que precisava usar. Quando foi pagar, faltou dois cruzeiros (acho que era esse o nome do dinheiro, na época).
Ficou morta de vergonha, mas o moço disse que poderia voltar para pagar depois. Era uma bagatela. Talvez dois reais nos dias de hoje.
Qual não foi o seu tormento, durante os dias que se seguiram. A farmácia era contra-mão da entrada do Grajaú, na avenida que leva para Interlagos. Então tinha que tomar um ônibus, descer depois da entrada pra Grajaú e subindo a ladeira, ir na tal da bendita farmácia.
Mas como as tarefas e incumbências eram muitas, ficou alguns dias sofrendo com o peso na consciência por causa da DÍVIDA que tinha adquirido e não estava conseguindo ir pagar.
Até que o dia da oportunidade chegou e conseguiu ir até a farmácia:
- Moço, eu estou devendo dois cruzeiros, que ficou em aberto outro dia.
Lembro da cara do atendente da farmácia, me olhando com certa admiração....
Mas os anos passaram. Passei a trabalhar no Tribunal de Justiça. E vi o quanto as pessoas podem ser nó cegas, mentirosas, falsas. Mas continuo nessa premissa de honestidade. Essa herança recebi dos meus pais, mas principalmente do meu pai. E de Deus.
Por isso quando devo alguma coisa pra alguém, a minha consciência fica me acusando e preciso resolver para ter paz. Estou com uma, atualmente. É uma DÍVIDA bem fácil de resolver. Mas a pandemia me tirou da rota das ações, e tudo tem contribuído para que eu sofra com essa pendência... ai ai... desculpa ai, querido poeta, logo resolvo rs
Quando eu resolver, conto!
Grande abraço.
Rolim, 20/05/2020 - 21:12 hs
Era mocinha, cheia de timidez e complexos, e um senso de responsabilidade fora do normal.
Criada com os pais e quatro irmãos, sendo a segunda, tinha muitas responsabilidades para ajudar com os afazeres da casa e o cuidado com os irmãos menores e com os próprios problemas de saúde que tinha, sendo que ainda tinha muita vontade de estudar e ir para a escola era um lazer. Ia por gostar mesmo. Não era obrigada, mas gostava, então quanto mais velha, pra fazer o segundo grau, sua mãe disse que não precisava, mas ela : - Não, eu quero!
Quando fez 18 anos mudaram da chácara para o bairro do Grajaú, na grande São Paulo.
Daí começou a ir para entrevistas de emprego.
Como era muito tímida, talvez a achassem sem capacidade para nada. Pois nunca recebia ligação de retorno. Ia nas entrevistas, mas depois não retornavam.
Certa feita foi fazer uma entrevista perto do Bairro do Rio Bonito, e aproveitou para passar na farmácia para comprar um remédio para bronquite, que precisava usar. Quando foi pagar, faltou dois cruzeiros (acho que era esse o nome do dinheiro, na época).
Ficou morta de vergonha, mas o moço disse que poderia voltar para pagar depois. Era uma bagatela. Talvez dois reais nos dias de hoje.
Qual não foi o seu tormento, durante os dias que se seguiram. A farmácia era contra-mão da entrada do Grajaú, na avenida que leva para Interlagos. Então tinha que tomar um ônibus, descer depois da entrada pra Grajaú e subindo a ladeira, ir na tal da bendita farmácia.
Mas como as tarefas e incumbências eram muitas, ficou alguns dias sofrendo com o peso na consciência por causa da DÍVIDA que tinha adquirido e não estava conseguindo ir pagar.
Até que o dia da oportunidade chegou e conseguiu ir até a farmácia:
- Moço, eu estou devendo dois cruzeiros, que ficou em aberto outro dia.
Lembro da cara do atendente da farmácia, me olhando com certa admiração....
Mas os anos passaram. Passei a trabalhar no Tribunal de Justiça. E vi o quanto as pessoas podem ser nó cegas, mentirosas, falsas. Mas continuo nessa premissa de honestidade. Essa herança recebi dos meus pais, mas principalmente do meu pai. E de Deus.
Por isso quando devo alguma coisa pra alguém, a minha consciência fica me acusando e preciso resolver para ter paz. Estou com uma, atualmente. É uma DÍVIDA bem fácil de resolver. Mas a pandemia me tirou da rota das ações, e tudo tem contribuído para que eu sofra com essa pendência... ai ai... desculpa ai, querido poeta, logo resolvo rs
Quando eu resolver, conto!
Grande abraço.
Rolim, 20/05/2020 - 21:12 hs