MANUEL E SUA BOA VELHA IRENE.
“Sai de baixo!!”, grita Manuelzinho de cima da árvore. Seu berro assusta alguns escravos em volta. Na varanda da casa, a mãe o olha em sinal de reprovação. O menino pula e cai no chão de joelhos. Imediatamente, seus olhos se vestem em lágrimas e começa a chorar como qualquer criança. Os pobres negros ao redor, encaram-se aflitos com medo de serem culpados, mas à distância Irene levanta-se abandonando as vestes de sua senhora que lavava no rio e corre ao encontro do pestinha.
“Ai... ai...ai...”, clamava o garoto enquanto limpava com ervas os seus machucados. “Deixa de manha menino, senão quem vai para o chicote sou eu”, dizia a mulata em tom de censura, mas não demora em abrir um sorriso. Ela lhe dá um beijo na testa e agora, carinhosamente, diz: “Brinca que sara!”, então ele sai correndo novamente como se nada tivesse acontecido.
Manuel acorda agitado, olhando para os lados como quem procura por algo. No calendário, o ano é de 1917, então constata ter sido apenas um sonho. Ele vai para o banheiro com o coração apertado e uma ducha gelada lhe traz mais lembranças.
É verão, o sol quente castiga a terra enquanto o seu “eu” de oito anos de idade nada no rio com sua cuidadora por perto lavando roupa, desta vez dela mesmo. Trapos de escrava, sobras de roupas da senhora. Coitada da Irene, sempre ocupada; com as mãos em formato de concha, ela pega um pouco d’água e joga no rosto para aliviar o calor. Manu, que era como ela o chamava, se aproxima da margem e pedindo algo para comer, afirma estar faminto por não ter almoçado direito. Irene olha para o céu, pela posição do sol, supõe que ainda sejam 02h00 da tarde, o que é muito cedo para a hora do chá. Juntos eles vão para a cozinha acompanhados de perto por suas pegadas de lama.
Além da sujeira que já haviam feito, Manuelzinho quebra um prato que era louça finíssima , louça italiana e que custava os olhos da cara. A senhora da casa chega na hora errada e pega Irene recolhendo os cacos. Como punição é trancafiada em seu quartinho e fica dois dias sem receber comida. Teria morrido desidratada se não fosse Manu que escapava da cama durante a madrugada e ia escondido tratar da fome da doce Irene. Saiu de lá com os dentes à mostra, feliz por voltar aos serviços da casa e a companhia do seu moleque.
Manuel sente o aroma do café quente, mais recordações de Irene no fogão de lenha preparando doce, o jovem Manu à mesa, agora já moço espera ansioso pela hora da festa. À noite saem calados para a senzala festejar com os escravos. Manu, eterna criança para Irene, canta e dança na presença dos seus velhos amigos, todos irmãos de Irene, de cor e de alma.
E assim se seguiu o dia, em cada coisa que Manuel fazia Irene lhe vinha à memória, até que decidiu aliviar essa melancolia e todos sentimentos de saudade. Senta e começa a esboçar um panegírico, um poema:
“Irene Preta, Irene Boa...”
MATEUS SOUSA DE OLIVEIRA – 2º C - 2019
“Sai de baixo!!”, grita Manuelzinho de cima da árvore. Seu berro assusta alguns escravos em volta. Na varanda da casa, a mãe o olha em sinal de reprovação. O menino pula e cai no chão de joelhos. Imediatamente, seus olhos se vestem em lágrimas e começa a chorar como qualquer criança. Os pobres negros ao redor, encaram-se aflitos com medo de serem culpados, mas à distância Irene levanta-se abandonando as vestes de sua senhora que lavava no rio e corre ao encontro do pestinha.
“Ai... ai...ai...”, clamava o garoto enquanto limpava com ervas os seus machucados. “Deixa de manha menino, senão quem vai para o chicote sou eu”, dizia a mulata em tom de censura, mas não demora em abrir um sorriso. Ela lhe dá um beijo na testa e agora, carinhosamente, diz: “Brinca que sara!”, então ele sai correndo novamente como se nada tivesse acontecido.
Manuel acorda agitado, olhando para os lados como quem procura por algo. No calendário, o ano é de 1917, então constata ter sido apenas um sonho. Ele vai para o banheiro com o coração apertado e uma ducha gelada lhe traz mais lembranças.
É verão, o sol quente castiga a terra enquanto o seu “eu” de oito anos de idade nada no rio com sua cuidadora por perto lavando roupa, desta vez dela mesmo. Trapos de escrava, sobras de roupas da senhora. Coitada da Irene, sempre ocupada; com as mãos em formato de concha, ela pega um pouco d’água e joga no rosto para aliviar o calor. Manu, que era como ela o chamava, se aproxima da margem e pedindo algo para comer, afirma estar faminto por não ter almoçado direito. Irene olha para o céu, pela posição do sol, supõe que ainda sejam 02h00 da tarde, o que é muito cedo para a hora do chá. Juntos eles vão para a cozinha acompanhados de perto por suas pegadas de lama.
Além da sujeira que já haviam feito, Manuelzinho quebra um prato que era louça finíssima , louça italiana e que custava os olhos da cara. A senhora da casa chega na hora errada e pega Irene recolhendo os cacos. Como punição é trancafiada em seu quartinho e fica dois dias sem receber comida. Teria morrido desidratada se não fosse Manu que escapava da cama durante a madrugada e ia escondido tratar da fome da doce Irene. Saiu de lá com os dentes à mostra, feliz por voltar aos serviços da casa e a companhia do seu moleque.
Manuel sente o aroma do café quente, mais recordações de Irene no fogão de lenha preparando doce, o jovem Manu à mesa, agora já moço espera ansioso pela hora da festa. À noite saem calados para a senzala festejar com os escravos. Manu, eterna criança para Irene, canta e dança na presença dos seus velhos amigos, todos irmãos de Irene, de cor e de alma.
E assim se seguiu o dia, em cada coisa que Manuel fazia Irene lhe vinha à memória, até que decidiu aliviar essa melancolia e todos sentimentos de saudade. Senta e começa a esboçar um panegírico, um poema:
“Irene Preta, Irene Boa...”
MATEUS SOUSA DE OLIVEIRA – 2º C - 2019