Baú da felicidade?
Após o tradicional almoço de domingo, ao paladar de frango com macarronada, papai sentava-se em sua poltrona na pequena sala de nossa casa e contemplava o dono do baú até à sua despedida no finalzinho de domingo. Ele dizia que se lembrava de quando Sílvio Santos era vendedor ambulante, posteriormente radialista.
Papai não comprava nada a "suaves prestações", quando se almejava algo, juntava-se o dinheiro, por maior que fosse o tempo, ia-se à loja e adquiria o produto. Fomos criados assim, conscientes de que não havia um toque de mágica para realizar nossos sonhos, alguns tão singelos em nossos castelos infantis.
Dificilmente comprava-se alguma mercadoria dos vendedores que batiam palmas à nossa porta. Dentre essas palmas surgiu um vendedor do baú da felicidade. Vencido pelo cansaço, papai comprou um carnê. Ao completar um ano se não fosse sorteado, procuraria uma loja do Baú e retiraria as mercadorias , desde panelas a brinquedos. Panelas essas que certamente Senor Abravanel não usaria em sua vasta cozinha. Apesar da insistência de mamãe, papai não quis pagar o tal carnê. Dois meses decorridos dessa compra desmotivada, recebemos uma correspondência em casa, dizendo que ele havia sido sorteado e ganhado uma casa. Crianças em festa, mamãe apreensiva, papai sem manifestar nenhum gesto de alegria, disse-me:
Vá à companhia telefônica e ligue pra lá , minha filha, acho que não vou receber nada, não quis pagar o tal carnê...
Dito e feito, liguei, mas a resposta papai já havia antecipado.
Seguimos a vida, papai sempre trabalhando muito, mamãe esperando a chegada do nosso irmão, nós as filhas, brincando à sombra do pé de tamarindo, ficávamos no balanço que havia no pé de manga, cortejando as florezinhas dos pés de jabuticabas...
Esses eram nossos verdadeiros baús da felicidade.
"Quem quer dinheiro?" Fale Senor Abravanel, do alto da torre de Babel...
Papai não comprava nada a "suaves prestações", quando se almejava algo, juntava-se o dinheiro, por maior que fosse o tempo, ia-se à loja e adquiria o produto. Fomos criados assim, conscientes de que não havia um toque de mágica para realizar nossos sonhos, alguns tão singelos em nossos castelos infantis.
Dificilmente comprava-se alguma mercadoria dos vendedores que batiam palmas à nossa porta. Dentre essas palmas surgiu um vendedor do baú da felicidade. Vencido pelo cansaço, papai comprou um carnê. Ao completar um ano se não fosse sorteado, procuraria uma loja do Baú e retiraria as mercadorias , desde panelas a brinquedos. Panelas essas que certamente Senor Abravanel não usaria em sua vasta cozinha. Apesar da insistência de mamãe, papai não quis pagar o tal carnê. Dois meses decorridos dessa compra desmotivada, recebemos uma correspondência em casa, dizendo que ele havia sido sorteado e ganhado uma casa. Crianças em festa, mamãe apreensiva, papai sem manifestar nenhum gesto de alegria, disse-me:
Vá à companhia telefônica e ligue pra lá , minha filha, acho que não vou receber nada, não quis pagar o tal carnê...
Dito e feito, liguei, mas a resposta papai já havia antecipado.
Seguimos a vida, papai sempre trabalhando muito, mamãe esperando a chegada do nosso irmão, nós as filhas, brincando à sombra do pé de tamarindo, ficávamos no balanço que havia no pé de manga, cortejando as florezinhas dos pés de jabuticabas...
Esses eram nossos verdadeiros baús da felicidade.
"Quem quer dinheiro?" Fale Senor Abravanel, do alto da torre de Babel...