Copo De Café

Olhos distantes contemplavam os jovens que pareciam se divertirem, uma situação quase contraditória, se você colocar que a escola nem sempre é vista como um lugar que transmita divertimento, mas ainda assim eles se divertiam ali, alguns conversavam em um canto especifico, outros chutavam uma bola pela quadra, outros simplesmente caminhavam de um canto a outro como se procurasse algo ou se estivessem procurando alguém, talvez esse alguém não estaria diante dos olhos antes que o período de intervalo terminasse.

Olhos castanhos ainda contemplavam a imensidão distante ao seu redor, observava o céu azul se misturando aos tons em branco e cinza das nuvens, quase como uma hipnotizante pintura que se modificava lenta e continuamente ao som dos ventos, ao caminhar da simples passagem do tempo, seus olhos castanhos pareciam brilhar enquanto continuamente encarava aquele céu que agora também era manjado pela tinta do sol poente, tons amarelos, laranjas e vermelhos se misturavam de uma maneira tão natural e bela que alguém, seja em sua plena ignorância ou sua convicta fé, poderia dizer que o céu era pintado ali, diante de seus olhos, por um ser superior, mas não era essa a reflexão do momento, nem precisaria ser, só precisava ser contemplada.

Olhos ainda cintilando pelos tons de luz, tons esses que agora pareciam pintar não apenas o céu, mas seu próprio olhar coberto pelas lentes de seus óculos que pareciam escurecer e clarear à medida que a luz os tocava. Os sons agora também eram parte de seu momento de observação, as vozes dos alunos, o som dos dedos batendo contra as teclas do computador, e principalmente o barulho que era produzindo, quase que imperceptível, pelo copo de café ao seu lado.

Olhos que passavam a enxergar um pouco turvo devido a fumaça quando soprado inconscientemente para esfria-lo, o cheiro forte era quase como um feromônio atraente, a sua cor escura tocada pela luz em alguns momentos lembrava a lua sobre o céu noturno, para os olhos castanhos a sensação era magnifica e agradável, confortável e nostálgica, era como mergulhar em seus próprios sonhos e devaneios à medida que aquele liquido quente lhe acolhia o interior como o mais suave carinho, era seu momento.

Olhos castanhos sentado à mesa observava da janela da sua sala o momento passar, e observava o quanto o tempo havia passado por si, quem diria ele, a si mesmo, que no passado, em um momento descontraído, teria sido ele a passar por um momento tão similar antes.

...

- Senhor? (Chamei meio constrangido, conhecia aquele rapaz apenas de observa-lo pelo colégio).

- Sim? (Ele me respondeu tranquilo).

- Pediram que eu lhe entregasse isso. (Deixei sobre suas mãos uma xícara de café e logo após apontei para a cantina, de onde haviam me entregado o recipiente).

- Muito obrigado.

...

Olhos castanhos que a pouco haviam se encontrado com um dos alunos sobre a janela da secretaria, jovem que havia, como ele mesmo no passado, entregue uma simples xícara de café a pedido de uma outra amiga. Olhos que contemplavam a sutil coincidência que era o tempo, toda ela quase que esculpida em um simples, copo de café...

Maicon Lopes
Enviado por Maicon Lopes em 07/06/2019
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