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Pelo que contaram meu Pai, antes dele meu Avô, meu bisavô, existe uma crescente faixa etária de vida dentro dos homens ao qual pertenço sempre somando alguns anos a cada geração. Meu filho viverá em torno dos oitenta e cinco a oitenta e seis anos, conquanto meu neto chegará aos noventa. Fico na casa dos oitenta e três quatro a oitenta e quatro anos. Portanto tenho algo de vinte e oito anos de vida! Ironicamente aos vinte anos de vida estava no meu apogeu em todos os termos, do financeiro ao físico, com repletas aventuras e conquistas; hoje com tanto de vida nada tenho no auge apenas sobrevivo nesse perdido recanto do mundo que alcancei aproveitando as auras fases de meu ciclo.

Não, longe lastimar pelo que tenho hoje aos cinquenta e cinco anos e alguma coisa a mais; pelo contrário: Essa vida eremita em meio às arvores, aos pinheiros, à vegetação de serra, aos sussurros do riacho ao fundo da casa de madeira e alvenaria, mesmo nos períodos de sol, de calor, de verão, a um que de nostalgia de outono e inverno, sombrio, com neblina e uma constante brisa suave, quanto não chuvas tênue com momentos inacabáveis que fazem refugiar junto a uma linda e romântica lareira numa sala ampla com sofás extremamente confortáveis e onde a um canto junto a vidraça inteiriça plantei por assim dizer meu computador, meu teclado, meus cadernos de anotações, minhas canetas, minha vida. Sentado a cadeira do PC tenho toda a vida do Universo à frente, do teclado onde os dedos batem já com dificuldade, com dores nos nervos, com ajuda de óculos que já não ajudam tanto, à tela do monitor que posso acessar além dos escritos as imagens do mundo externo pela maravilhosa e assustadora rede de internet, tomando conhecimento do que ainda ocorre lá fora e principalmente após levantar o olhar admirar a paisagem pelo vidro das árvores, da Alameda de Sempre Vivas, das flores multi coloridas, do trajeto da porteira a entrada do galpão onde deixo estacionada a camioneta, meu meio de transporte quando volto à realidade saindo de meu Castelo de Sonhos, bem como também da mata que cerca todo esse recanto.

No ano temos as quatros estações como no ciclo da Lua as quatro fases e no sol, o dia e a noite. Assim como na fertilidade da mulher um período de gerar. Possuo também fases, estações, períodos e os atendo satisfazendo meu Ego e minhas necessidades, como também minhas lascívias e meu lado perverso. Ah, sim, como desde a criação da Humanidade, do Homem, da Vida, temos o Bem e o Mal. Porque seria diferente?

Aos treze, pouco mais, a minha primeira luta interessante entre o Caminho Certo e o Errado, duelando na puberdade, quando de um lado um fervoroso jovem à Novena de Nossa Senhora de Fátima deslumbrado com sua história, suas aparições, as três crianças e o mistério das Revelações, conquanto a última seja uma incógnita até os dias atuais, mesclando ainda com uma série de revistas da Editora Brasil – América Limitada – Ebal, sobre a histórias dos santos e da Igreja Católica. Conheceu São Francisco, Santa Rita de Cássia, Nossa Senhora de Aparecida, São Cosme e São Damião, Jesus Cristo e acreditou numa vida pura e de castidade voltada ao Bem, a Deus! Incrivelmente após as novenas que participava levando a Imagem de Fátima todos os sábados a uma casa diferente no bairro, circulando pela cidade pequena bem típica dos anos Setenta obstante serem a região denominada Grande São Paulo, descobriu os seriados policiais e o deslumbre dessa estranha e fascinante profissão. Descobriu que sempre tem um que mata e outro que morre e alguém que investiga. Sua luta entre o bem e o mal apesar de tudo manteve-se equilibrada até certa madrugada, de sábado, maldito dia em sua vida, bem como o dia da semana que recairá a sua morte, como de rotina a novena das vinte as vinte e trinta e as vinte e duas o seriado Columbo até às vinte e três horas. Naquele episódio uma jovem modelo fotográfico foi assassinada por estrangulamento enquanto dormia e na cena ela remexendo mostrava seu corpo envolto numa camisola pela altura do joelho, mostrando assim parte das pernas e coxas. Foi uma faísca sexual que acendeu no subconsciente. Na madrugada acordou ofegante e com o calção todo molhado por uma ejaculação: Tivera uma polução noturna. Recorda-se de ter tido imagens de diversas mulheres conhecidas de sua vida social e familiar, principalmente de uma professora.

O Lado do Bem perdeu em definitivo quando da morte do Avô materno, ao vê-lo dentro de um caixão, em meio da loja de seu tio, com velas em castiçais aos quatro lados do corpo e uma coroa de flores à cabeceira. Com o choro da minha mãe, minhas irmãs, minha tia, meus primos e primas e alguns conhecidos. Não compreendia toda a situação menos ainda as lágrimas e aquela aura de tristeza. Acompanhou a cerimônia quando revezavam para carregar o caixão pelas ruas até o cemitério, principalmente quando meu Pai tornava-se um a carregar a alça e finalmente a ordem de pegar um punhado de terra e atirar sobre o caixão. Três homens com uniformes azuis escuro jogaram terra sobre a madeira dando um som oco até aterrarem por completo.

Naquela noite conseguiu conciliar o sono com as lembranças de todas as mulheres que cercavam sua vida, das irmãs, às primas, às tias, das mães de seus colegas, das colegas de escola, das que avistavam no cotidiano de sua vida, que provocam sensações agradáveis e um estranho volume na região pubiana. Quando mais pensava em mulher e no seu corpo, mais prazer sentia. Quando pensava no seu Avô parado dentro de um caixote sendo jogado num buraco e enterrado, na mescla entre os sentimentos, percebeu que no prazer físico e na morte todo um segredo dessa vida.

Contava com meus quinze anos essa mórbida duologia dominou meu consciente e deu lastros à minha vida adulta. Na morte o segredo da vida e no prazer do corpo o sentido da recompensa.

Continua...

Oliveira de Santana
Enviado por Oliveira de Santana em 23/04/2019
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