Crônica de uma adolescente crente

Ela, menina, magra, loira, branca, sardenta...

E, pasmem, ainda era cristã evangélica, praticante.

Ou seja, era no mínimo diferente, nos idos dos anos 70, onde não se falava em crentes...

E ainda por cima, branca no meio de morenos, o que se poderia esperar?

Tão diferente, chamava a atenção, então, aqueles meninos não aguentavam e viviam a chamar a menina:

_ Oi crente da bunda quente!

_ Banana pintada!

_ Branquela azeda!

- Pioi, oi pioi... Parecia que só ela tinha piolho na escola...kkkkk

E ela? Ela não fazia nada. Talvez fazia "cara de mal", como a mãe dela, porque só de longe a atiçavam.

Ela fingia que não ouvia, nem olhava, passava direto, como se não fosse pra ela.

Mas ela era crente, cristã evangélica praticante. Então ia sempre à igreja, e no meio daquela irmandade, um hino tinha que a consolava:

"Sou criança, Senhor, mas zeloso do bem, não importa que zombem de mim..."

Menina, se tornou pré-adolescente, adolescente. E as zombarias (hoje Bulliing) continuavam.

Um dia, sentada na quadra, na hora da educação física, a professora dava a aula, fazendo todos os alunos da sala sentarem em círculo, para brincarem de "lencinho atrás"...

Tudo ia normal, até que de repente, um coleguinha colocou o lencinho atrás da menina. Quanto percebeu, se levantou lentamente, e começou a correr em volta dos colegas, quando, na quadra se ouviu uma frase estridente:

"- Ô BRANQUEEELAAAAA... NÃO TEM SOL DA TUA CASA, NÃO?"

Ela parou, como que petrificada. Um silêncio total se fez. Nem um "pio" se ouvia... Então, saindo da dura letargia, voltou a pequena ao seu lugar.

A professora olhava estarrecida. Perturbada, chamou todos os alunos de volta à sala. Nada sobre isso nunca se comentou.

E a menina moça crescia, linda e loira, com seu vestido azul de bolinhas brancas, subindo correndo a escada, num dia de festa em sua sala na oitava série.

De longe ela percebia um olhar tristonho. Aquele moço bonito, que um dia bradara impiedoso seu preconceito, a olhava.

E ela, bela, intrépida e fria, duramente o ignorava.

A zombaria fez dela uma moça arredia. Menino não se aproximava. Eram todos muito desrespeitosos e desagradáveis, ela achava.

Foi tímida, com complexo de inferioridade, mas lutadora, guerreira, estudiosa, leitora, superou tudo. Exatamente porque era uma menina cristã, de boa índole, e bom coração.

E Jesus Cristo lhe guiou, e guia, na direção da honestidade, coragem, bondade, família. Porque mesmo que tenhamos que ser humilhados, se firmes em Deus, seremos um dia exaltados.

Deus é fiel.

Maria Tereza Bodemer
Enviado por Maria Tereza Bodemer em 03/12/2017
Reeditado em 26/10/2018
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