Micro-Conto 2
Ele acorda ao som estridente do despertador, e olha para o lado. Como a consciência do despertar lhe vem rápido, ao mesmo tempo em que sabe que ela não está ali, um resto de sonho lhe faz parecer que num simples estender da mão, poderia ainda sentir o prazer de tocar em seus cabelos. Por mais que a distância que os separa agora lhe seja evidente, em momentos como esse, na tríplice fronteira entre os mundos da lembrança, do sonho e do despertar, a distância deixa de existir. Uma luz de sol já lhe atinge a janela, ruídos do mundo já preenchem seu dia. Enquanto ele se veste, respirando o novo dia, ela lhe volta ao pensamento e até o seu respirar lhe parece diferente. Quando chega à rua, pela qual passaram juntos a caminhar despreocupadamente, ele olha para o céu insolentemente azul, e ao admirar o lindo dia que o sol anuncia não lhe resta dúvida alguma. A seiscentos quilômetros de distância, alguém está sorrindo também, e o sol é apenas o transmissor desse recado. Não mais que um espelho, a refletir o brilho do sorriso dela.