O SONHO DE MARCELA
“Eu não acredito que vou ficar presa a este homem pelo resto de minha vida... “, os pensamentos rodavam dentro da cabeça de Marcela, uma mulher ainda atraente em seus 40 anos, enquanto se olhava no espelho naquela manhã de sábado. Ela saboreava, mentalmente, a notícia que daria ao Chico, seu marido, a qualquer momento: - Eu quero o divórcio! – e regozijava-se ante a suposta surpresa que causaria. Sim, pediria o divórcio, a qualquer momento... mas quando? Quando teria coragem para se desvencilhar da confortável vida que tinha ao lado do Chico? Quando teria coragem para se desfazer dos quinze anos de casamento? Onde encontraria a coragem para encarar os três filhos depois disso? Era preciso coragem e ela não tinha. Respirou fundo, lavou o rosto e seguiu para a cozinha, pois tinha que preparar o café-da-manhã para a família. “Hoje ainda não é o melhor dia!”, ía pensando.
A casa em que moravam nos Jardins era grande e espaçosa. Chico, um engenheiro civil, oferecia tudo do melhor à família, não sem reclamar, era bem verdade, mas cumpria seus compromissos infalivelmente. Pagava colégio para os filhos, karatê para o Hugo, de 13 anos, balé para a Soninha, de 10 anos, futebol para o pequeno Herbert, de 5 anos, e ainda bancava a academia para Marcela, que a frequentava muito mais como um motivo para se ausentar de casa duas vezes por semana do que por prazer em malhar.
A casa era bem abastecida, confortável e tudo ía aparentemente bem, mas o coração e a mente de Marcela vivia em agito. Há muito não era feliz ao lado de Chico! Tinha-lhe respeito e admiração por suas qualidades, afinal, era homem íntegro e honesto, dedicado ao trabalho e aos filhos, mas Marcela sentia falta de algo mais... muito mais... Ela era uma mulher e ansiava por romance, paixão e sua vida íntima com o marido vinha cumprindo um protocolo automático e sem emoção.
- O que faz de um homem o marido perfeito? – perguntou-lhe Gabriela, alguns meses antes, uma amiga de muitos anos, igualmente presa ao casamento.
- Que ele seja fiel e honesto, um bom pai... – respondeu Marcela com pouca convicção.
- Só isso?
- O que mais?
- Bonito, sexy, atraente...
- São valores supérfluos...
- São mesmo?
- Quais são, então, as qualidades de um marido perfeito em sua opinião, minha amiga? – desafiou Marcela.
- Que pague as contas da casa, as necessárias e as desnecessárias, com a mesma pontualidade, sem reclamar... sem dizer nada! – frisou bem a última frase. - Que ajude com as tarefas da casa, ou, se pelo menos não ajudar, que não reclame do que não está feito...
Marcela riu-se:
- Impossível! Não há homem assim... nem em Marte acredito que haja!
- ...e finalmente, que seja apaixonado! Arrebatadoramente apaixonado! Que nos dê aqueles arrepios pelo corpo todas as noites, com juras e carinhos... – Gabriela fechava os olhos num êxtase todo seu.
Os olhos de Marcela brilharam diferentes. Paixão era mesmo algo de que sentia falta. Sabia que Chico gostava dela, até diria que a amava, mas era muito diferente dos primeiros dias.
O namoro tinha sido rápido, em apenas dois anos, estavam casados. Dois anos parecem muito, mas não são. Para Marcela, foram suficientes para decidir que Chico era o homem de sua vida, mas em menos de um ano, já punha a sua certeza à prova, se perguntando: “será que eu fiz a coisa certa?”
A princípio, Chico demonstrou ser romântico e carinhoso, mas logo após o nascimento de Hugo, as coisas foram mudando. “Isso é normal”, diziam algumas de suas amigas, “depois que temos filhos, fica dfícil manter o mesmo ritmo do início”. Então, era isso? Depois que os filhos chegam, o casamento muda, marido e esposa mudam, e é simples assim, devemos engolir isso caladas e ser felizes à força? Uma certa indignação vinha incomodar Marcela naqueles primeiros meses de maternidade. Porém, conformou-se, como conformadas são todas as outras mães.
Por descuido, engravidou de novo e Soninha apareceu. Valeu a pena ver a felicidade de Chico ao receber nos braços sua filhinha amada... uma menina! Marcela se julgou completa... e Chico também.
Cinco anos mais tarde, outro descuido: Herbert! Seu caçula, o mais sensível de todos eles, carinhoso e amável.
Marcela sentia-se tão feliz com os filhos que esquecera de sí mesma. Deixava-se levar pela rotina, pelas tarefas diárias, pelas consultas em pediatras e dentistas, pelos compromissos da escola, pela preocupação constante com alimentação, remédios... que esquecera de ter outra fonte de prazer a não ser tão-somente o sorriso, a saúde e o bem-estar dos filhos. Vivia assim, tão sob a condição da alegria deles, que perdera a sua própria pelo caminho. Quando deu-se conta, quinze anos haviam se passado, chegara aos 40, e não se sentia mais num relacionamento a dois, mas a cinco. Não conseguia mais distinguir onde terminava a mãe e começava a mulher. Se via acomodada à companhia de Chico, que de amante apaixonado, passara a ser o companheiro e amigo das horas difíceis e entenda-se por horas difíceis aquelas em que os filhos estão doentes, pois outra hora não via para ter o seu apoio.
Após o café-da-manhã, naquele sábado, no qual se viu envolvida num diálogo leve com os filhos, enquanto Chico lia o jornal, indiferente, Marcela levou as crianças à piscina no clube e para almoçar no shopping. No caminho de volta, deixou Hugo na casa de um amigo, onde iria passar a noite. De volta ao lar, preparou o jantar, pôs roupa na máquina de lavar, organizou aqui e ali e, depois que Soninha e Herbert dormiam o sono dos anjos, Marcela dirigiu-se ao quarto. “Poderia falar sobre divórcio agora...”, pensou. Com o coração batendo forte no peito, tomou um banho rápido. Olhou-se no espelho e ensaiou algumas frases. De volta ao quarto, encontrou Chico lendo um livro, concentrado. Ela se aproximou e deitou a seu lado, trêmula. Tinha algo importante para dizer, algo que mudaria o rumo de todos naquela família. Ela respirava fundo, preparando-se. Chico pôs o livro na mesa de cabeceira e apagou a luz. Na penumbra que os olhos de Marcela conhecia tão bem, Chico se aproximou, corpo quente. Pronunciou as mesmas palavras, os mesmos elogios já vazios de significado e veio com o mesmo carinho. Tudo tão previsível... nada novo. Marcela tinha ímpetos de empurrá-lo para longe e dizer que não era aquilo que queria, mas pensou que seria tomada por louca. Olhos fechados, deixou-se tocar. Tentou pensar em Brad Pitt e Tom Cruise, num esforço sobrenatural de ser, pelo menos, agradável. Mais uma vez, o mesmo procedimento sexual tão bem conhecido. “Não posso falar agora... não depois de fazer amor...” Confusa, adormeceu, e rápido, pois estava absolutamente cansada. Nem sabia o porquê, se era pela luta do dia-a-dia ou apenas pelo conflito interno que vivia, mas o fato é que estava cansada.
No domingo, tiveram um almoço com os pais de Chico, como sempre. Sorvete da padaria e pão dôce com café, “tchau e tenha uma boa semana” e a família voltou para casa, não deixando de apanhar Hugo na casa do amigo, desfechando o final-de-semana. Uma família feliz. Feliz? Marcela não estava. Ver o marido e o sogro assistindo à Fórmula 1 nas manhãs de domingo já não tinha o mesmo sentido. Tampouco ver a sogra trabalhando na cozinha. Nem sequer se interessava pelas histórias da cunhada solteira, embora pensasse que ela, sim, era feliz. Tudo era tão previsível... e a constatação disso lhe desanimava ainda mais.
Segunda-feira, tudo normal e igualmente previsível. Chico partiu para o trabalho e Marcela levou as crianças até a escola. Dirigindo de volta pela Augusta, pensava nas milhões de tarefas que tinha por fazer em casa. Pegou um trânsito considerável e passava devagar por vitrines de lojas e lanchonetes, e seus olhos observavam tudo ao redor, talvez na ânsia de captar algo novo. Para sua surpresa, captou. Um rapaz jovem. Cabelos louros, compridos, camiseta preta rasgada, cinto de couro preto com pontas, calça jeans suja e agarrada ao corpo e tênis. Ele caminhava pela calçada, distraído, nem percebeu que Marcela, dirigindo próximo, o seguia com o olhar. O farol abriu e ela acelerou. “Que loucura!”, pensou, tentanto espantar os pensamentos obscenos que invadiram sua mente sem sua permissão. Olhou no retrovisor, procurando encontrar o rapaz e viu, no pequeno espelho, que ele continuava andando, displicente, lá atrás, mas não tão atrás, visto que ela seguia lenta. O farol fecha novamente e ela breca o carro no susto, quase bate. Sente o rosto aquecer e, imediatamente, olha para o rapaz, passando a seu lado, ainda indiferente. Marcela o analisa por inteiro... aquelas côxas! O corpo rijo! Uma emoção qualquer despertou dentro de sí, quase uma excitação. Ainda tentou enganar-se, procurando pensar em outras coisas, mas o fato é que o farol abria novamente e ela acelerou e voltou a acompanhar o rapaz que caminhava na calçada, jogando o cabelo para trás com as mãos. Marcela não resistiu e parou o carro a seu lado, baixando o vidro. Tremia. Ele olhou para ela e se aproximou da janela do carro.
- Bom dia, desculpe, mas você sabe me dizer como chego a Rebouças? – perguntou Marcela, emocionada. O rapaz era ainda mais bonito do que pudera imaginar. Simpático, respondeu:
- No segundo farol, você vira à direita...
Marcela mal ouvia o que ele dizia e nem estava interessada na informação, sequer estava se dirigindo à Rebouças. Seus olhos, bem como todos os sentidos, se fixavam naquele rapaz, jovem, bonito.
- Obrigada! Você está... indo pra lá também? – arriscou-se muito, sabia disso. – Posso lhe oferecer uma carona?
- Eu... na verdade, não... não estou indo pra lá...
- Ah, sim, então, obrigada e até logo!
Mais que depressa, Marcela fechou o vidro do carro e pôs-se a acelerar novamente, infiltrando-se no trânsito que ainda ía lento. “O que me deu?” pensava aturdida, faces vermelhas de vergonha. “O que me deu na cabeça?” Não se conformava com a audácia que tivera. O farol fechou e ela parou. Mecanicamente, olhou no retrovisor e viu o rapaz caminhando pela calçada... aproximando-se. “Que vergonha! Marcela, sua louca, oferecer carona a um estranho...”, dizia a sí mesma, temendo que ele se aproximasse tanto que pudesse ver o rubro de suas faces, desejando que o farol abrisse logo, para que pudesse arrancar-se dali o mais rápido possível. Mas o farol não abriu e o rapaz se chegou ainda mais, atravessou a rua e veio parar a seu lado. Ela abriu o vidro, constrangida.
- Eu não vou para a Rebouças... – disse o jovem. - ... mas talvez possamos tomar um café, já que o trânsito não lhe deixará ir muito longe...
O convite soara tão sincero, que era quase inocente. Marcela ruborizou ainda mais, porém, não teve como negar.
- Vou estacionar o carro naquela rua e volto. – se pegou respondendo.
Ela virou na próxima esquina e estacionou na rua. Tremia tanto, que mal conseguia manter-se. “O que estou fazendo? “ pensava a todo tempo, mas não tinha a resposta. Desceu, trancou o carro e veio caminhando de volta. Atravessou a rua e encontrou o rapaz esperando por ela.
- Venha! Tem um café muito bom logo ali.
Marcela o seguiu, quase tropeçando, de tanto nervosismo. Chegaram rápido ao local, simples e discreto. Ocuparam uma mesa, sentando-se de frente um para o outro e pediram um café.
- Qual o seu nome? – perguntou o rapaz.
- Marcela... e o seu? – disse, tímida.
- Nando. – e o rapaz mexia no cabelo, de uma maneira que poderia ser descrita como ansiosa, mas que era um gesto que a encantava, um charme, um jeito de ser todo dele, mostrando um par de brincos, um em cada orelha. Ele era sensual!
“Nando... é um ótimo nome para um amante”, pensou, ruborizando de novo. Viu em sua mente Chico pegando algum bilhete de amor nas suas coisas, assinado “Nando” e a este pensamento, Marcela sorriu.
- Qual a graça? – perguntou Nando, divertido.
- Nada, nada... – desconversou Marcela.
– Então, você está indo para a Rebouças? Onde você mora?
- Sim, estou... – mentiu Marcela. – Eu moro... aqui nos Jardins...
- Mesmo? E não sabe chegar a Rebouças?
Marcela enrubesceu novamente.
- Eu... eu... sou nova na vizinhança...
- Ah, bom... – Nando tinha um riso malicioso nos lábios e Marcela teve o receio de que ele estivesse lendo seus pensamentos. Rapidamente, mudou o enfoque:
- E você? Onde mora?
- Nas Perdizes. Eu divido um apartamento com alguns amigos. Eu sou de Campinas, mas estudo na PUC aqui em São Paulo. Eu estava vindo da casa da minha namorada e resolvi dar uma volta e comprar cordas para a minha guitarra.
A garçonete serviu o café. Marcela processava as informações todas e tudo lhe soara tão excitante e perfeito...
- Um guitarrista? – perguntou entusiasmada.
- Um hobbie... Estudo Economia.
Além de tudo, inteligente. Jovem, audacioso, músico, lindo, lindo, lindo e... inteligente.
Ele emanava uma energia rejuvenescedora e Marcela sentia-se bem a seu lado. Falou de sí com tranquilidade, contou-lhe que era casada, que tinha três filhos e ele a ouvia atento, exageradamente atento, olhos verdes fixos nos lábios dela. Ele também falava de sí e a fazia rir, com sua maneira descontraída de ver a vida. Ele era a própria vida!
O tempo passou lento, mas rápido o bastante para que Marcela perdesse a sua noção.
- Tenho de ir... – disse, olhando ao relógio.
- Foi bom te conhecer... – disse Nando, os olhos brilhando.
- É... foi...
- Toma aqui o número do meu celular. – Nando puxou um guardanapo, pediu uma caneta para a garçonete que passava e anotou o número. Marcela estendeu a mão, num gesto impreciso, mas apanhou o papel e o guardou em sua bolsa, ligeira, com medo que estivesse sendo observada.
Levantaram, saíram do café e, na mesma esquina em que se encontraram, se despediram, daquele jeito que a gente se despede sem se tocar, acenando a mão, acenando a cabeça e dizendo várias vezes: “tchau... passe bem... se cuida, viu?”, numa despedida que teimava em ser longa, como se não quisessem se separar e seguir de volta para seus mundos.
- Espero te ver novamente... Me liga! – Nando disse, afinal.
Marcela se afastou lentamente, olhando pra trás, soltou um “claro, te ligo!”, sem muita certeza, mas já sentindo saudades do novo amigo. Se afastou, por fim. Atravessou a rua, aproximou-se do carro, porém, antes de entrar, voltou-se. Nando ainda estava na mesma esquina onde fora deixado. Ela se reaproximou dele e ele, com os olhos sedentos, foi logo dizendo:
- Vamos a outro lugar. Onde está seu carro?
Marcela obedeceu, hipnotizada. Caminharam juntos para o local onde o carro estava estacionado, muda testemunha a esperar por eles. Ela sentou ao volante e ele sentou a seu lado.
- Pra onde, então? – perguntou Marcela, tensa.
- Vire aqui... vire ali... esquerda... direita... – Nando ía dando as direções, enquanto trocava a música do rádio. Encontrou algo que gostava, Metallica, “Enter Sandman”, um rock pauleira que fez questão de colocar bem alto, quase ensurdecendo Marcela.
Chegaram ao destino: um motel pequeno e discreto. Nando apontou para a entrada do estacionamento do prédio e Marcela obedeceu seu comando. A música ainda ía alta. Os dois desceram do carro, depois de estacioná-lo, e se dirigiram a um elevador. Estavam calados, mas o coração de Marcela não parava de bater forte e suas pernas tremiam tanto, que mal conseguia andar. Pensava na loucura que estava a ponto de cometer, mas parecia que toda a sua vida valeria esta loucura! Nando era lindo! Atraente, sexy, com um corpo bem definido em músculos rijos e o cabelo, que ele mexia e remexia com as mãos, a fazia perder o fôlego.
Ao sair do elevador, deram com uma recepcionista. Nando conversou com ela e pegou as chaves do quarto. Pegaram outro elevador e seguiram calados, mas ele sorria para ela de vez em quando, um sorriso que confortava. Saíram num corredor comprido no terceiro andar do prédio. Quarto 315, à esquerda. Entraram e Nando fechou a porta atrás deles. Marcela estava tão tensa que se agarrava à bolsa. Os músculos do rosto contraídos, não conseguia sorrir ou falar.
- Não temos que fazer nada, se você não quiser. – disse Nando. – Mas achei que este seria um melhor lugar para conversarmos.
Marcela sentiu-se imensamente aliviada. Deixou-se relaxar um pouco, enquanto Nando tirava o tênis e a camiseta, andando pelo quarto apenas de jeans, mexendo nos botões de um painel, acendendo e apagando luzes, ligando a TV, o rádio, até que sentou na cama, encostando-se na cabeceira e, olhando fixamente para Marcela, disse:
- Você pode se sentar, se quiser.
O corpo de Nando, semi-descoberto, era de tirar o fôlego e Marcela sentia-se extremamente atraída por ele. Sentou-se aos pés da cama e perguntou:
- Quantos anos tem?
- Eu tenho vinte e dois. E você?
Marcela riu-se.
- Isso é loucura, sabia? Eu tenho idade pra ser sua mãe... Eu tenho quarenta anos! – Marcela levantou-se e disse, resoluta: - É melhor eu ir embora!
Nando levantou-se também, num pulo, e se aproximou de Marcela. Olhando dentro de seus olhos, disse:
- Eu não ligo pra sua idade!
- Eu poderia ser sua mãe... – repetiu Marcela, aturdida.
- Mas não é! – Nando agarrou Marcela pela cintura e deu-lhe um beijo arrebatador, explorador, buscando seus lábios com volúpia e ela aceitou o beijo, surpresa, mas sentindo uma explosão de emoções pelo corpo. Eram lábios diferentes dos que estava tão habituada a beijar. Eram ardentes e cheios de uma vontade sem limites. Os corpos se enroscavam e as mãos de Marcela apalpavam o corpo de Nando, à sua procura.
Foi tudo muito rápido e muito mágico. Marcela se viu na cama com aquele jovem que mal conhecia, deixando-se despir, se mostrar. A excitação de Nando, quase animal, a excitava demais. Os carinhos eram novos e provocavam sensações esquecidas há muito tempo. Ele ía tomando conta do corpo dela, explorando os cantos, beijando, mordendo e ela ía dizendo, delirante:
- Isso é loucura! Isso é loucura!
Porém, no ápice do momento, tomada de prazer, ela gritou:
- Pois que seja! Que seja loucura, pois é uma maravilhosa loucura!
Ambos se entregaram com total paixão, deixando apenas a emoção falar por eles, até que chegaram juntos ao fim. Ficaram deitados lado a lado, ofegantes, por alguns minutos, saboreando o momento. Marcela disse, incrédula:
- Eu nunca... nunca...
- Nunca tinha traído seu marido? – perguntou Nando, malicioso.
- Eu nunca tinha sentido tanto prazer na minha vida! – complementou Marcela. - E, claro, nunca tinha traído meu marido...
Se abraçaram, se elogiaram e ainda se amaram mais uma vez, com a excitação anda redobrada, antes de saírem do motel.
Marcela levou Nando até as Perdizes e voltou pra casa, rindo sozinha, ainda com as emoções à flor-da-pele.
Respirando fundo, olhou bem para o farol à sua frente. O vermelho pulou para o verde e Marcela olhou ao redor, sentindo-se extremamente excitada, acelerando o carro.
O jovem rapaz, lindo, de camiseta preta rasgada, cinto de couro com pontas, calça jeans agarrada às côxas e tênis, já caminhava um pouco mais além. Dirigindo devagar, Marcela viu quando ele se aproximou de uma moça com os cabelos azuis, lábios negros, piercing no nariz, tatuagens pelos braços, vestida de preto. Os dois se beijaram e Marcela passou, dirigindo seu carro, afogando seus sonhos... Foi bom sonhar! Muito bom sonhar! Mas agora tinha que pensar no almoço, enquanto planejava o melhor momento para pedir o divórcio.