MARIA
MARIA
Mais uma manhã chegara... Maria levanta-se prontamente da cama, toma banho, bebe num ápice seu chá acompanhado por torradas, bolo e queijo branco... A pele do rosto ganha tons rosados, a boca emana desejo a sonhar com beijos molhados, o vermelho dos lábios e unhas compõem o visual da executiva que mais um dia vestiu-se de mulher...
Passos decididos ganham fetiche ao som dos saltos altos, o corpo esbelto baila no justo de calças bem cortadas de alfaiataria, as fagulhas dos olhos explodem destacadas pelo delineador e máscara de cílios...
Sonhos dividem o dia com planilhas, simulações de acordo, petições redigidas pelo jurídico da empresa...
Na mesa de reuniões o pensamento voa... Lembranças de um juiz formosamente vestido com sua toga, cabelos negros, pele acastanhada, olhos a tremular esperanças... Voz firme e ao mesmo tempo doce, fluidez de raciocínio e riqueza de palavras escolhidas detidamente...
Mas, sequer o encantador Magistrado a notara, outros entretanto não a esqueceram... Mulher inteligente, dona das palavras que diz e escreve, com as graciosas mãos a pontear as liras de seu pensamento, o olhar dividido entre o crepitar das chamas da sensualidade e o gélido da lógica da raciocínio...
E o dia termina... Maria está de volta à sua casa, aos seus livros, músicas, computador e às redes sociais... Nelas brinca de ser feliz... Continua a imaginar o clarão daquele másculo olhar, a beleza daquele corpo nu, o aconchego daqueles braços, o gemer do mais perfeito idioma da vida, a correr pela madrugada...
O despertador toca... E Maria está novamente trajada de mulher... Esperando ser despida por um cavalheiro que a vista com seu corpo até o fim daquela noite...