solidariedade é o aprendizado do amor na compaixão
Solidariedade é o aprendizado do Amor na compaixão.
Ouvindo uma jovem adolescente na passeata:
“–Agora que ganhei as ruas, entendo o que é gás lacrimogêneo, bala de borracha, cavalaria, tropa de choque. Quando ouvia dizer estas incongruências de outros tempos, pensava com certo preconceito a respeito, dos que enfrentavam a ordem estabelecida. Hoje começo a entender os valores distorcidos. Fizeram-me a barbárie do tempo presente e sem compromissos com o social, e com o viver em harmonia. Eu sempre estive presa, entre as quatro paredes nuas e frias, amordaçada dentro de um vazio, com as imagens televisivas e novelas imbecis a me enganarem e frustrarem, roubando-me o direito de acreditar em um mundo todo meu. Um mundo solidário, um mundo construído de justiça, mais dignidade e espiritualidade, e sem tramoias na ordem e no progresso. Assim, a renda seria mais bem distribuída para todos, com menores distâncias entre os injustiçados e os usurpadores da renda nacional!”
Descobri a liberdade negada na caminhada, com os meus passos junto aos manifestantes que bradavam por justiça e dignidade. Comecei a enxergar o horizonte na marcha lenta nos protestos. Vai se descortinando a verdade negada. Somente o povo unido pode ter esperança de um mundo mais justo e humano. Existe em mim uma tempestade de entendimento que o futuro pode ser mais além. Seria o inconsciente coletivo. O medo. Vocês sabem o que é o medo?
A grande alegria é saber que o novo são os jovens irem às ruas, ou melhor, voltarem às ruas, desvirginando a descrença no futuro. É ver a fé, naquilo que tanto nos fez caminhar, nos fez protestar, nos organizar, animar, depois continuar na caminhada, para voltar a desanimar. Cheirar gás, correr das botas, dos cavalos montados e da falta de liberdade, de saúde, de salários, de educação e de pão. Sermos impulsionados por pessoas bonitas, alegres que espiritualizem a revolta sadia. Até porque, todas as revoltas que nos deixam indignados contra as injustiças são sadias. E ver a sua fé na luta que tanto nos fez caminhar.
As ruas vão se enfeitando e todos cantam, gritam, protestam com palavras de ordem. Vão todos na direção da qual nunca deveriam ter sido desviados. O muro da nossa crença nunca irá cair, enquanto o muro da vergonha capitalista não for derrubado e destruído. Na rua seguiam os de coração marcado pela dúvida no amanhã, na incerteza da chegada. Até quando vamos esperar? Até quando?
Em uma sociedade como a nossa, classificada como o país com o maior índice de desigualdade social e econômica no mundo, existem diversas consequências da desigualdade social e econômica. A marginalização de parte da sociedade, o retardamento no progresso da economia do país, a pobreza, a favelização, o crescimento da criminalidade e o da violência, são algumas das consequências.
Vamos ver como a riqueza produzida no Brasil é distribuída entre sua população. No Brasil, 48% da renda nacional estão com 10% das famílias. E, entre os mais ricos, 1% fica com 34% de toda riqueza produzida. A metade mais pobre da população divide entre si, em torno de 15% da renda nacional. O Brasil ainda é um dos países com maior desigualdade social do mundo, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE - “Relatório Territorial Brasil 2013”).
Em uma sociedade baseada na injustiça, o aspecto ético da educação jamais pode ser o que deveria. Sentimentos de revolta, que são maus, pode ser um motivo muito necessário para eliminar a injustiça, seja entre classes, nações, ou sexos. O conceito de distribuição de renda fica mais claro quando você descobre o que quer dizer, uma sigla, que aparece sempre nos jornais: o PIB. Significa Produto Interno Bruto e mede tudo que um país produz durante um ano. O PIB está para a riqueza de um país, como uma balança está para o peso. O PIB inclui também o que se convencionou chamar de serviços. Portanto, é contabilizado o trabalho do jardineiro, do médico, do dentista, etc. Esses profissionais não entregam um produto, mas cobram um valor pelo serviço prestado, gerando uma renda. Para fazer uma bicicleta, é necessária uma fábrica. E, para a fábrica funcionar, precisa de trabalhadores, que ganham salários. Cada trabalhador recebe um salário para produzir uma bicicleta, assim como os que fazem carros, roupas, alimentos ou jardineiros, médicos dentistas. Todos eles ficam com um pedaço da renda nacional.
O problema não é o dono e os executivos ganharem mais que os operários. O problema existe quando eles ganham várias vezes mais. E aí, temos uma sociedade onde uma minoria tem mais de cinco carros na garagem, casas na praia e no campo e viaja várias vezes por ano, enquanto a maioria fica sem dinheiro para comer ou morar com o mínimo de dignidade.
Enquanto a cultura é negada, nos oferecem programas chulos na mídia, telenovelas babacas, escolas de níveis baixos. Vamos pra rua sempre.
do livro " amor a unica riqueza que traz felicidades" irineu