OS BIFES DE FILÉ

Pedro, fatiava um bela peça de picanha, ávido e com a boca cheia d'água, quase salivava sobre a carne, que fartura tinha aquela mansão, onde era um simples auxiliar de cozinha. Em seu humilde lar, sua família não sentia o gosto de carne, há mais de três meses, era só salsicha, sardinha ou ovo com mistura e olhe lá. Ali carne era para receber família de longe, adolescentes amigos dos filhos, no mais, era haddock defumado, champanhe, pro seco e caviar, tudo regado à luxo narizes empinados, muito frufru, falsidade e perfumes caros pelo ar. Pedro, tinha muito medo, de um dia surtar e, na tentativa de levar uma alegria para os filhos, acabar levando uma coisa gostosa daquela casa, para agradar aos meninos, se arrepiava, com esse pensar, precisava do emprego, não podia vacilar. Um dia, quase uma da manhã, a festa já estava no fim, Pedro vê duas moças e um rapaz, do tipo bem nascidos, brincando com dois bifes, que não comiam, só jogavam de um prato para o outro, resolveram decorar a carne, com tudo que estava sobre a mesa, só pra ver o colorido, não tinham a intenção de saboreá-los, só brincar com a comida. De repente um casal de idade os chama e eles largam o brinquedo de lado, se despedem dos anfitriões, acompanham os pais e saem. Pedro, recolheu juntamente com outros empregados, os despojos finais da festa, pois a equipe de limpeza, logo entraria em ação, para deixar a casa, impecavelmente limpa e organizada. Na cozinha, Pedro lavou os bifes, com os quais os jovens brincavam, os colocou em um plástico e os guardou na mochila, pra levar pra casa, iriam para o lixo mesmo, que mal havia, em levá-los pra seus filhos, ia ser uma alegria. Já ia saindo pelo portão, quando o segurança, pediu que ele voltasse até a área de serviço, pois a governanta o chamava. Mal acreditou, quando ela o acusou de roubo de comida e lhe entregou um envelope com seu pagamento final e se dizendo decepcionada, o dispensou lhe avisando que não fariam alarde, mas que ele não viesse, no futuro, pedir referências daqueles empregadores, fez com que o segurança o acompanhasse, até fora da casa. Um portão fechado, um Pedro chorando, sentado no chão, um estupor nas faces e no coração uma enorme decepção com gosto de arrependimento. Injusta punição...


Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 13 de abril de 2016.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 13/04/2016
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