UM CONTO

A tarde caia tão lenta e as lembranças, (numa velocidade imensa), invadia meu pensar e me sacudia de dentro pra fora de mim, como a indagar-me coisas passadas que eu não tive o entendimento necessário de segurar.

Tanta coisa que hoje me faz falta para minha velhice estar mais tranquila e poder ver além dos campos que os meus olhos miram, a expectativa de um dia partir em paz.

Mas agora, não haveria espaço na mente para administrar as culpabilidades de tudo que um dia o tempo arrastou e que eu não percebi quão importância tinha em preservar coisas como:

Um emprego, uma fatura, uma casa, um sitio, uma fazendola, um animal de criação para Desapertar-me nas horas mais angustiantes.

Não, nada restara a não ser o sonho de um violão, que arrastei durante muito tempo pelas casas noturnas, ouvindo pedidos de musicas de variedades incontáveis.

Fiz daquilo a minha “profissão” para cuidar da minha família e tentar quem sabe, encontrar um produtor, um musico famoso que gostasse das minhas composições.

Fiz musicas para varias cidades, na esperança de que uma delas “adotasse” a minha canção e a fizesse conhecida do seu povo(Ledo engano).

Várias Cidades do Estado de Mato Grosso do Sul, Bahia, Olinda, Petrolina, Juazeiro, Fronteira dos Vales, cidades do Vale do Jequitinhonha e Três corações já foram homenageadas através de meus trabalhos musicais, além de infindas poesias de tantas outros lugares.

Mas muitas vezes insistia, insistia e insistia tanto em mostrar esses trabalhos, que eu mesmo me senti abusado e parei. Parei de enviar poesias, musicas e falar insistentemente de mim e do meu trabalho, para pessoas que nem se quer respondiam minhas mensagens de Emails.

Sim eu cansei, cansei de concorrer coma babaquice que aparecem aos Quilos mostrando um trabalho que chamam de musica e as rádios (em busca de faturamento) tocam a revelia.

Aquela tarde me fazia ver, o quanto fui idiota, em aposentar a minha carteira de trabalho, sem antes aposentar a mim mesmo.

Assim pensando, queimei as poesias, e olhando a fumaça subindo aos céus vagando como muito vaguei a esmo, eu pude sorri desprendendo-me daquilo que me amarrava á mente e me decepcionara o coração.

O violão, entrei na sala, aproveitei a fogueira e o lancei ao fogo sentindo o estalo das cortas se partindo na quentura que há muito esquentava o meu cérebro.

Hoje, não cantarei mais para cidade nenhuma, o meu canto, guardarei pra mim pois a minha preocupação com a vida, emudeceu a minha voz.