EM UM PEQUENO OÁSIS NO DESERTO - PARTE II
Então, o oásis, agora já não é tão pequeno assim, como prosperou. Passados dez árduos anos de fartura, muito trabalho e felicidade, Jacó e Saul, estão mais velhos, mas, não com menos energia, todas as piores lembranças de Abraão, se passaram. Maria e Nair estão mais maduras e mais vistosas, com os filhos crescidos, puderam se dar ao deleite de descansar um pouco mais da labuta diária, Omar, filho de Nair, se tornou um homem muito bonito, sábio, com uma inabalável devoção por Berenice, hoje sua esposa e mãe de seus dois filhos Jeremias de 05 anos, um menino bravo e sério e muito inteligente, e sua princesinha Jade de apenas 03 anos, que é a coisa mais linda que se pode admirar, olhos tão claros, que daria para se mergulhar, Berenice passada a adolescência, ficou ainda mais bela, um tanto mais robusta, e é uma esposa devotada e companheira para Omar. Davi filho mais jovem de Maria, no auge de seus quase treze anos, está ansioso por tomar uma esposa, e sempre que seu pai ou Sal vão em busca de suprimentos, através do deserto, ele pede para acompanha-los, para ver se encontra uma boa moça para futuramente, poder partilhar toda a sua vivacidade e alegria. O oásis, com tantos homens dispostos pro trabalho e que discutem juntos todas as ideias para o dia a dia, prosperou bastante, no seu pequeno espaço, hoje todo tomado pelas velhas tamareiras, figueiras, verduras, romãs são poucas que frutificam, mas resistem ao clima árido. O oásis, nunca seca, o que é uma benção protetora, construíram em torno dele, além de mais tendas para moradia, outras 04 para guardar suprimentos, que foram reforçadas com madeira, vinda em diversas viagens, para que eles possam se proteger, na época das tempestades de areia. Com a prosperidade do lugar, as famílias têm recebido mais viajantes, podendo abrigá-los em uma tenda, caso precisem pernoitar. Mercadores de diversos produtos, informados da prosperidade do lugar, tornaram o então pequeno oásis, um ponto certo em sua rota comercial, pelas areis escaldantes, certos de conseguirem, fazer bons negócios e trocas. Com isso, as mulheres e crianças, foram presenteadas com mimos, aos quais tinham tão pouco acesso, como perfumes e óleos, joias simples, tecidos e brinquedos. Ficara por lá, durante pelo menos 03 meses, uma jovem moça, com um defeito nas pernas, filha de um pardo vendedor de cabras, que era letrada e ensinou a ler a todos os habitantes do oásis, o que ajudaria muito no futuro das novas gerações e nos negócios, ficaram tão ávidos por leitura, que todos os livros que conseguiam com os mercadores, eram devorados, com sofreguidão. Claro que em meio a tanto progresso, também surgiam às vezes, alguns espertalhões, querendo se aproveitar, mas, eram rechaçados com presteza. Omar, Davi, Saul e Jacó eram homens vigorosos e saudáveis, e incansáveis, protetores de suas famílias. Só havia um, que se encantara pela filha mais jovem de Jacó, uma morena clara de cabelos negros e enormes olhos cor de tâmara, mas, que ainda não demonstrava interesse em compromisso, gostava de aprender, ler, escrever e cantar o dia inteiro. Durante as suas tarefas e também à noite antes de dormir, presenteava a todos, com sua linda voz. Seu nome era Jalibah, tinha 11 anos e era doce como um figo e ácida como uma pimenta, quando a importunavam, mas, era uma moça amorosa com todos da família. Jacó e Maria, tiveram mais um casal de filhos, Jalibah e Moisés de apenas 07 anos, menino quieto e trabalhador, adorava plantar e cuidar das cabras e mulas, adorava os animais, um bom garoto. Saul e Maria, não tiveram mais filhos, então se dedicavam aos filhos de Jacó e Omar, com uma entrega de carinho e cuidado, absoluta, afinal também eram sua família, nunca mais tiveram notícias de Ismael “o inútil”, e bem sabemos que, ele não fazia nenhuma falta, o traste. Voltando ao nefasto admirador de Jalibah, seu nome era Halif, era um homem mais maduro, de seus 30 anos, forte e muito moreno, pertencia a outra tribo do deserto, e era uma pessoa muito persistente, arrogante, e rancoroso, não era bem vindo no oásis, lhe era permitido beber e dar água às suas mulas, lhe serviam uma refeição, mas, nunca lhe haviam permitido o pernoite em seu oásis, não confiavam nele. Certo mês ele apareceu com suas mulas e trazia consigo, dois belos cavalos, e disse que faziam parte do dote, para seu casamento com Jalibah, que ao escutar tamanha sandice, correu para perto de sua mãe, dentro da tenda, e não apareceu mais, enquanto, Halif esteve descansando para retornar sua caminhada. A conversa com Jacó, Saul e Halif, não estava nada agradável, percebia-se em seus semblantes, a irritação de Halif e o grave murmurar de Saul e Jacó. Alguns minutos depois, ele levanta acampamento e se vai, esbravejando e jurando que voltaria e levaria Jalibah com ele com ou sem a permissão de Jacó e Saul, eles não perdiam por esperar. Quando ele já estava bem longe, era apenas um ponto no deserto, Jacó e Saul chamaram toda a família, para uma conversa séria, Halif era um homem perigoso, e pertencia a uma tribo com muitos homens de igual comportamento, Jacó e Saul, estavam temerosos por sua filha e por toda a família. Precisavam se proteger de alguma forma. Não tinham ideia que tipo de vingança, Halif e seus párias poderiam tramar. Eram cinco homens, quatro mulheres e duas crianças, num pequeno e próspero oásis no deserto, que pela primeira vez, corriam um risco real, não sabiam o que fazer, precisavam clamar aos céus por proteção, suas armas eram rústicas mais voltadas para o trabalho diário, lhes restavam facões, mas, não eram homens de luta, eram criadores de animais e agricultores, só restava esperar, e foi o que fizeram, durante muitos dias, não se afastaram do oásis, pois todo o cuidado era pouco. Certa feita, perceberam a necessidade de tomar mais uma jornada em busca de suprimentos, e ficou resolvido que Saul iria com Davi, para que Omar e Jacó ficassem na proteção da família, e assim foi feito. Foram e voltaram em doze dias, mas, seu retorno foi recebido com tristeza, pois nesse meio tempo, Halif, aparecera com mais seis homens de sua tribo levaram Jalibah a força, aos gritos e prantos. Saquearam alguns suprimentos e espancaram Jacó e Omar, que estavam muito machucados, e todos desesperados. Nair entendia bem de poções e curativos, e eles estavam se recuperando, mas, todo o serviço do oásis estava atrasado, e a família desesperada com a situação de Jalibah, temiam por seu futuro, em mãos estranhas e vis. Para todos os mercadores e viajantes do deserto, que apareciam, era feita mesma pergunta, se tinham visto Jalibah, ansiavam por notícias, pobre Jalibah, que destino lhe fora conferido. Passaram-se muitos anos, sem que tivessem notícias dela, Saul morrera numa tempestade de areia, e Nair se fechou em seu próprio peito por meses, até voltar a falar, como envelhecera de saudades do companheiro, era outra pessoa, enfim, acabou sucumbindo de tristeza. Tempos depois, não muitos, uma caravana de várias famílias se aproximou do deserto, e apenas passou, abandonando em seu caminho, uma mulher envolta em panos sórdidos e esfiapados, meio curvada, feridas cicatrizadas e de olhos baixos, ao se aproximar do oásis, Berenice foi recebê-la, com um cantil para água, pois ela parecia precisar muito, qual não foi a surpresa, ao reconhecer naquele corpo maltratado, sua irmã Jalibah, todos se comoveram, e trataram de cuidá-la, o mais rápido possível, depois de um longo sono, ela começou a contar sua tragédia pessoal, fora sequestrada, maltratada, se enojava de ter servido a tantos homens da tribo de Halif, e depois de a terem usado bastante, a abandonaram no meio do deserto, ferida, sem água, sem alimento, resistira por alguns dias, até ser socorrida pelas pessoas da caravana, que se condoeram dela, mas, não a queriam no seu convívio, então, a deixaram próximo ao oásis de sua família, sem sequer um aceno, a consideravam suja na alma. Graças aos céus, enfim voltara ao seu de sua família, e assim termina, mais uma saga no pequeno oásis do deserto, a vida segue seu rumo....
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 2015.