Um Dia de Cão
Josué era um sujeito pacato. Vivia de forma tranquila. Vez ou outra tinha alguma agitação em sua vida, já que a existência se faz a partir dessas pequenas aventuras que emergem do cotidiano. Sua vida era ir da faculdade para o trabalho e do trabalho parta casa. Nos finais de semana estava cansado, mas ainda conseguia se divertir. Fazia coleções de objetos que a maioria das pessoas considera ridículos. Não era muito afeito aos esportes, mas aceitava bater uma bolinha com alguns amigos, pelo menos uma vez por semestre. No trabalho era considerado um empregado “normal”. Seu salário vinha em dia e muitas vezes era apertado conseguir se manter com o mesmo durante um mês inteiro. Morava com os pais e passava as madrugadas navegando na internet, onde podia ir para onde desejasse, ou melhor, para onde a rede lhe permitisse ir e os seus parcos conhecimentos de informática pudessem contribuir. Apreciava degustar chocolate e passar algumas horas se aventurando em games, de preferência os que possibilitavam vitória certa.
Foi quando um dia, voltando mais cedo da faculdade, pois os professores estavam em greve, ocorreu o seu “dia de cão”. Josué se imaginou com muita sorte, já que poderia chegar em casa mais cedo e navegar, já que no outro dia entraria mais tarde no trabalho, por conta de algumas horas extras que acumulara e resolvera gastar naquela ocasião. Estava ainda mais feliz, por ter ganhado um relógio de sua mãe. Observava várias vezes às horas, para contemplar o adereço. O ponto estava deserto, como de costume. De repente, uma voz vinda da parte sombria da rua atrás do ponto, se aproximou dos seus ouvidos. Um sujeito se aproximou e perguntou as horas. Antes que pudesse transmitir a informação, o sujeito completou, “passa o redondo”. A vítima foi se encostando na parede do ponto, mas o ladrão confirmou que desejava o relógio e puxou com força, deixando a marca na agressão no pulso do assaltado. Desolado, sentia-se aliviado, por não ter perdido a vida, como inúmeros caso relatados no noticiário.
Agora prestava atenção em qualquer ruído. Ainda assim, sabia que chegaria bem em casa e resolveu atravessar a rua e ficar próximo a um poste que iluminava parcamente. Mas eis que surgem dois sujeitos, dessa vez apontam as armas e pedem a carteira, verificando os poucos trocando e fugindo. Josué se sentia aterrorizado, pois nem o dinheiro da condução conseguira salvar. O percurso era longo e pôs-se logo a caminhar. Estava temeroso de sofrer novas investidas por aquele local. Seus passos eram rápidos e a cabeça se movia rapidamente, tentando dar conta de cada perímetro. Até chocar-se com uma molecada, que intimou que lhes desse o par de tênis, alguns retiraram lâminas e a vítima tratou de entregar, pediram a jaqueta e o celular. Desesperado, seguiu sua trajetória, nem respondendo o boa noite de um velho mendigo que acaba com o último trago de sua garrafa de pinga. Os pés começaram a doer, por andar em calçamento com bicos de pedras, chegando a esfolar o pé.
Encostado, para tomar fôlego, foi surpreendido por três camaradas. Anunciaram o assalto e por mai que tivesse dito já ter sido rendido e não possuir mais nada, foi revistado e ficou sem a camisa. Ainda levou uma surra por não estar prevenido diante dos assaltantes. Disseram que iria apanhar para ficar esperto e deram socos e pontapés, o fazendo se encolher na posição fetal e se abrigar próximo a um muro. Recuperado, continuo andando. Mancando inicialmente. Mas depois acertou o passo. Estava já próximo de seu bairro, quando foi agarrado por um homem de forma truculenta. Tentou dizer que já havia sido assaltado. Mas foi jogado em um matagal e estuprado. Chorava e gemia com a mão lhe tapando a boca. Quando conseguiu se levantar, andava com dificuldade. Chegou em casa e os pais se desesperaram. Tomou um banho e foi dormir, não desejando fazer boletim de ocorrência, já que dizia ter chegado ao seu limite naquela noite. Ignorou o computador e no outro dia não foi trabalhar.