Iluminação
Rio de Janeiro, 15/01/1997
19h06' Pedra do Arpoador
Era dia, Era claro, era verão, era quase vermelho. Do alto um pobre jovem com 20,21, talvez até 22 anos vestido num casaco meio rasgado, meio desfiado, dois números maiores de cor amarronzada, não se sabe se foi fabricado assim nesse tom ou é fruto de anos de descuidados e má lavagem, olha atento ao que ele insiste em afirmar pra si ser "O por do sol mais foda que já vi na vida".
De fato era um deitar de astro fora do usual. Da humilde visão terrestre parecia uma imensa bola de fogo, que queimava lentamente o horizonte liberando cores dos tons mais raros, mais vivos. Ao mesmo tempo que se deitava, o Sol se admirava no enorme espelho abaixo lançando sua imagem na tremelidão da superfície. Seu reflexo se estendia em filetes "meio azul, meio vermelho, meio amarelo" até encontrar a pupila do pobre menino atento. Era como mágica.
Na sua cabeça não conseguia desgrudar da imagem daquele espetáculo. Por um breve período de tempo sentira-se o ser humano mais rico que existia, como se aquele imenso disco de ouro só se mostrasse a ele, como se fosse só dele. E teve vergonha...
Olhou aqueles pedaços de papel, aquelas correntes de metal e tudo pareceu tão insignificante perto daquilo tudo.
Percebeu então que o ouro brilhava tanto apenas por causa do Sol e que aqueles papéis amassados não passavam de um monte de folhas sujas.
Nada mais fazia sentido em seu mundo...