Apertos

A dor de barriga é maldita. A gente sente a bosta na porta do cu, desejando sair a qualquer custo. Se estamos dirigindo, a posição de estar sentado e movendo as pernas, faz com que seja quase impossível conter a merda. A gente quando está de pé, consegue trancar o cu, fazendo um movimento de retração das pregas. É uma arte adquirida pelo cagador habitual. Quando o banheiro está ocupado, vamos desenvolvendo estratégias. Desde tentar esquecer que esta apertado e isso é quase impossível, até a famosa trancada. Sentado parece pior. Deve ser porque cagamos sentados. Na nossa mente desejamos que a pessoa que está ali dentro morra ou suma do planeta, porque estamos na situação mais maldita. Ter vontade de usar o banheiro e ter que esperar é infernal. Acho que esse tipo de castigo deveria ter no inferno, se esse lugar existisse. Aquele fila de gente morta com o intestino cheio de bosta, com contrações fortes e querendo cagar sem poder. Um único banheiro para milhões de almas. E o capeta no vaso dele, cagando e rindo da gente. Soltando cada peito que fazia o caldeirão dele ferver.

Entramos no banheiro público. Outra tragédia. O vaso sem assento, todo sujo de gotas de mijo, o chão com mijo e bosta pisados. Muitas vezes tem bosta boiando dentro daquela água amarelada. Os cantos do vaso todo pincelados. Muitas vezes não tem papel. Mas quando tem, lotamos todo lugar com aquilo, parece que sentamos em um pufe. Ficamos olhando pela fresta da cabine as pessoas passando. Quando é a gente querendo cagar e tem alguém ali dentro, desejamos meter o pé na porta. Quando estamos cagando perdemos a pressa, embora seja tenso do mesmo jeito estar ali com alguém impaciente do lado de fora. Ficamos lendo o que escrevem nas portas. O sujeito escreve “quero chupar um caralho, ligue pra mim”, “adoro dar o cu, meu telefone é tal”, “já dei o rabo aqui”, “todo mundo que mora nessa cidade é chupeteiro”, desenham a folha da maconha, escrevem que comeram a mulher do gerente do lugar e dão o nome do sujeito.

Existe a tristeza da caganeira. Precisamos ir várias vezes. O rego assado de tanto esfregar o papel higiênico. Alguns lugares o papel é feito de embrulhar pão em padaria das antigas. Grosso. Uma lixa de ralar cu. Mas na caganeira, mesmo com papel fofinho a gente se esfola. O rabo fica assado e a merda sai quentinha. E o peido quando sai quente e baixo, apavora o ambiente, grau de arma química. Tem gente que se excita com merda. Sinceramente não fico de pau duro se ver alguém soltando bosta por trás. Mas não critico quem fica, questão de gosto. Tem aquele lance de dar uma olhada o que cagou. A gente dá uma olhadinha safada para o vaso e vê a criação ali dentro para depois dar a descarga. E quando a bexiga está cheia parece que vai vazar tudo, merda e mijo. Cagar de cócoras na rua é algo deprimente, a bosta espirra nos pés, a gente passa o papel e acaba sujando até o saco de merda. Coisa de baixo nível total. Alto nível é cagar na praia, a água lava a bunda e o mar leva o presente pra Iemanjá. Cachoeira é maldade com quem esta na parte de baixo da queda. Piscina é pedir para se expulso do lugar.

Quando começamos a namorar, a barriga dói e queremos disfarçar. Ainda mais estando na casa dos sogros, o medo de ser reprovado. A gente vai no vaso e caga na louça para não fazer barulho da bosta batendo na água. O peido é traiçoeiro, às vezes queremos que saia baixo e não sai. Uma técnica é simular uma tosse ou espirro quando for peidar no banheiro. Certos banheiros, se a gente desenrola o papel a pessoa na sala de visitas escuta. E a descarga precisa levar tudo, inclusive o papel que jogamos dentro. Se for preciso, esfrega o papel dentro para limpar o que a água não foi capaz de limpar. Nada de flagrantes. O cheiro que entrega, mas pode-se inventar qualquer coisa, desde que não empesteie a casa. Alguns se acham artistas e por falta de papel limpam o rabo com os dedos e depois por revolta escrevem na parede. Coisa de gente revoltada. E bosta quando entra nas unhas só cortando para limpar aquilo direito. Dependendo do que cagar dá pra saber se digeriu bem os alimentos, o que constatamos ao ver um milho agarrado ou algo mais expressivo. Algumas mulheres são mais podres que os homens, são ressacadas e cagam um tolete que nem desce, parece um quibe do habib’s tamanho família. No aperto não se aperte, deixe a natureza agir. Cagar é normal e aquela mulher linda que te apaixona também caga e irão compartilhar esses momentos íntimos juntos. Limpe bem a bunda, ainda que asse. Melhor do que deixar vestígios em cuecas e calcinhas. Uma boa lavada na dúvida resolve a questão, por isso criaram os bidês. Não se esqueça, cagar todos nós cagamos, mas fazer disso uma arte, poucos conseguem.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 22/12/2013
Código do texto: T4622084
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