No Shopping
Recomendam que todo sujeito mediano vá se divertir e aconselham um shopping. Primeiro enfrentamos filas para encontrar vagas. Já que é uma raridade existirem locais para estacionar com o fluxo de veículos de hoje. Dependendo do lugar, pagando a gente encontra. Mas não é garantido encontrar o carro no retorno do passeio. Entramos no shopping, naqueles estacionamentos com corredores apertados e espaço bem calculado para caber o máximo no mínimo. Engenharia de sovinas. Aconselho a novatos no volante não se aventurarem de cara em um lugar desse, o povo fica impaciente por uma caralhada de motivos e vai buzinar e xingar. Ufa, conseguimos uma maldita vaga. Fuma-se um cigarrinho e sopra a fumaça do vão da garagem. Um dos poucos locais onde ainda se permite fumar. Hoje em dia em todo lugar tem alguém querendo te dizer para deixar de fumar. O pulmão é meu e foda-se e papo furado. Esse lance de fumante passivo é outra balela. Nos fodem a todo instante e somos passivos, diante de impostos, violência policial, medicamentos duvidosos e alimentos cancerígenos e vem com esse papo de tabagismo.
Descemos as escadas rolantes e olho no espelho se não existe resto de comida nos dentes. Sempre tem um babaca na escada contrária tentando dar uma manjada no vestido da minha esposa ou outra mulher que mostre as pernas. Punheteiros de plantão. Os corredores abarrotados de gente. Muitos nem compram nada, colocam uma roupinha mais conservada e vão ali tirar uma onda. Sentam na praça de alimentação e deixam o garçom louco por não pedirem nada e ocuparem lugares de possíveis gorjetas. Entramos nas lojas e algumas possuem vendedores com cara de cu com prisão de ventre. Outras tem aqueles joviais que acham que podem ser seus amigos por usarem piercings e tatuagens e usarem roupas ridículas. Realmente admito que precisa ter coragem para usá-las. Os comerciantes com menos grana, alugam aqueles quiosques e colocam sua mercadoria em bancas e o povo pega óculos de sol chinês e fica igual tonto em frente um espelho com um óculos maior que a cara. Isso é a mesma coisa que fazem no camelô e aqui o metido a esperto pensa que está tirando onda.
Peço um chopp, já que não servem cerveja em garrafa. O preço que cobram dava pra comprar uma boa garrafa e ainda voltar um bom troco. Fica uma molecada que age como retardados andando com sorriso na cara e comendo umas pipocas coloridas. Os cinemas com filmes escrotos e uma fila de gente se achando os estendidos da sétima arte. Fui no banheiro da praça de alimentação e era pior do que de qualquer boteco de quinta. Mas ao ir em um banheiro mais afastado, me senti no paraíso dos cus. Tudo cheiroso, trilha sonora agradável, papel à vontade. Meu rabo se sentiu um rei. Joguei bastante papel no vaso e a descarga deu conta. Sequei as mãos em papel e nada daquela palhaçada de secagem a ar. Umas lojas de antiquário com coisas que a pessoa deve ter tirado de sua casa, pois a cafonice é visível. Algumas senhoras desfilam com seus narizes em pé e umas caras de tronco de árvore que dá até gosto. Vamos comer em algum desses fast-foods. Vou em um que nunca havia experimentado, se chama Girafas. A atendente vem me dizer que seus hambúrgueres são diferenciados. Pergunto se tem de carne de girafa. Ela pensa em momento e diz que não. Então que diferencial possuem? No Burger King dão aqueles minúsculos copos para ficarmos nos humilhando indo pegar guaraná e pepsi, já que não servem refrigerante naquela bosta.
Os pés doendo de percorrer aqueles corredores. Pelo menos existe o ar condicionado, e no calor faz a diferença. Pagamos caro pelo estacionamento tosco. Fomos em uma pet shop, os bichinhos sufocando, o sol batendo nas gaiolas onde os filhotes de cães ficam. Fedor da porra. Parece que nunca limparam aquele lugar. A dona, uma gorda com cara de safada, trata de qualquer jeito os bichinhos. Comércio de animais é o fim mesmo. Passamos no tatuador dali e constatamos que mal cabe ele dentro do lugar e o cara é magro pra cacete. Fomos ao salão de jogos, comprar umas fichas e se aventurar em algum simulador ou jogo de disco voador, já que ninguém pega os bichinhos daquelas máquinas com garras mecânicas. Acho que o cara que conseguir pegar um daqueles para a sua mulher vai ter a maior foda da vida dele naquele dia. Fui em um quiosque em que faziam esculturas com velas. Tinha de santo, de deus hindu. Perguntei para a atendente se tinham eróticas. Ia ser um sucesso uma vela em forma de piroca de meio metro de altura ou mais. Ia impressionar a clientela. Ela disse que não trabalhavam com esse tipo de artigo.
Acho engraçadas as lojas country, só falta colocarem um boi dentro delas. Claro, um boi além dos sertanejos chifrudos que já frequentam. E umas meninas em lojas infantis, com roupas que não condizem com a idade delas. Talvez com a idade mental de algumas. Colocam um supermercado dentro do shopping. Aí que a coisa fica legal mesmo. Agora alugam uns carrinhos em que colocam as crianças dentro e vão empurrando com balões ridículos pendurados. Tudo para o pai não carregar no colo os filhos malas. Gostam de fazer, mas não de carregar. Avistei outro quiosque. Quis comprar a estatueta do Van Helsing e perguntei quanto era para a mulher. Ela disse que era de um santo que não lembro mais qual era e que não estava à venda, era peça de decoração. Discuti com o gerente da Riachuelo por terem cobrado indevidamente algo já quitado. Fiz um rebu dentro daquela loja. Querem dar uma de espertos e vez o outra encontram um barraqueiro que faz se perguntarem porque ainda estão naquele trabalho. Chegamos em uma loja de doces, que alguns deles eram salgados. Nunca experimentei algo mais esquisito.
Fica a preocupação de aguardar o tíquete do estacionamento. Tenho mania de jogar papel no lixo e já perdi o comprovante de pagamento do estacionamento e quase a entrada do cinema. Uma preocupação em jogar no lixo o papel e pessoa só faltando cagar dentro do cinema. Nem me levantei depois que começou o filme e fui jogando o papel de cada bala no chão, sem dor na consciência. Eu era apenas mais um dos porcos naquele chiqueiro. Colocam a porcaria do filme com os efeitos altos e a dublagem baixa. Já odeio filme dublado. Dei um grito, “AUMENTEM ESSA PORRA!!”. Um japonês que estava sorrindo ao meu lado, quase caiu da poltrona. O segurança foi chamado e ficou me encarado na lateral da fileira de cadeiras até o final da sessão. Mais alguns chopps, já estava apto a sair do estacionamento tranquilamente. Entrei na Riachuelo e bati uma foto ao lado de uma peça de xadrez imensa que estava em uma prateleira. Era o rei negro do xadrez. Segurei e pedi que minha esposa, uma santa, batesse a foto. Ainda passamos no boliche para uma partida. Sou mal. Também havia começado a jogar esse troço. É até divertido. Gostei dos sapatinhos. E podia continuar pedindo bebida enquanto jogava. Perdi mas consegui um striker. Fomos embora enfrentando outra fila de saída e indo para nossa casa. Estava louco para mijar e depois ficar na cama abraçado com minha mulher. O cheiro dela é bom e aquelas pernas relaxam qualquer estresse.