Nos Supermercados da Vida
Aquela fila de pessoas em caixas rápidos que são mais lentos que engarrafamentos na cidade de São Paulo. Aquela fila de carrinhos. Dizem que é até quinze, ou em alguns casos, vinte volumes. A pessoa passa com o carrinho lotado e fica com cara de paisagem. Sempre tem um filho da puta que quer tirar vantagem. E os idosos? Existem os caixas preferenciais e eles não usam, entram na fila e ficam com aquela demora enquanto cresce o número de pessoas esperando. Mais isso é o final. Claro, que quando pulamos para uma fila menor. O sujeito que está na frente, demora mais que a outra, que era gigante. Na vez que muda de fila, o caixa precisa trocar a fita da máquina, o cartão do que está na sua frente não passa e assim por diante. Fora o famoso “o sistema está fora do ar”. Nos bancos e lojas escutamos muito isso. Imagina se fosse transar com sua esposa e dissesse que o pinto estava fora do ar ou o sêmen ainda precisava de um tempo para estabilizar. Besteira isso. Precisamos estar de pau duro, ou seja, pronto a atender.
Os corredores entupidos. Alguém te esbarra com o carrinho. Crianças chorando naquelas cadeirinhas que transportam elas como se fossem um animalzinho exposto. Os sujeitos que se acham galãs e que irão encontrar a mulher de sua vida na seção de enlatados ou aquelas senhores com as pernas parecendo um mapa, cheia de varizes, aguardando o príncipe encantando no açougue ou algo do tipo. Os atendentes estão sempre uniformizados e conversando sobre algo nada a ver com a pergunta que costumamos fazer que é “onde fica o produto tal”. Parece que só nos dirigimos a eles para isso, obter algo do nosso interesse. Aquelas meninas com mi-shorts ou mini-saias, treinadas para serem piriguetes desde pequenas e as mães dão o exemplo. Não sou um desses moralistas de merda, apenas relato os fatos. Imagina se eu chego mostrando os bagos ou com a cueca aparecendo. Vão me encher a porra do saco. Direitos iguais, é o que peço.
O que acontece, que sempre o açougue desses lugares tem carne que parece podre e murais com desenhos de vacas e porcos, para você ver o antes e o depois do que vai consumir. E as padarias, com aquelas moscas disputando os pães dentro das estufas. Cada mosca do tamanho de um escaravelho, poderiam ter servido bem a algum faraó. Os banheiros são uma imundície. Bosta até no teto. Mijo no assento do vaso. Nunca tem papel e nem toalha de papel para enxugar as mãos. Agora colocaram esse secador de mãos que não serve de nada. Dizem que economiza papel. Mas gasta energia e nunca seca as mãos direito. Saímos do banheiro secando nas calças ou enfiando as mãos nos bolsos para enxugar. Em um banheiro que fui vi sair uma mulher de uma cabine. Ou pelo menos parecia ser uma mulher. Vai saber. E o bebedouro sai um jato de [água que se pegar no olho, cega. as mulheres que ficam nos caixas, parecem que tem como prerrogativas serem gordas. Nada contra gordos, apenas acredito que seja um processo natural desse tipo de trabalho, com o rabo o dia todo atendendo clientes e mal consegue dar uma mijada. Li uma vez que no Chile, parece, obrigavam as caixas a usarem faldas geriátricas para não deixarem jamais o posto. Filhos da puta do caralho. Eram capaz de fazer isso até com a mãe deles para lucrarem mais.
Curioso que é costume alguém vir puxar assunto contigo. Se não for em uma das seções, será em alguma das filas ou por fim, um caixa fará algum comentário. Existe uma carência naquele espaço. Só quero comprar minha sardinha em lata e sair logo daqui. Mercados fedem. Admiro quem trabalha neles. São explorados demais. A pessoa perde a vida ali dentro. Fazendo funções mecânicas, ouvindo desaforos e muitos clientes os consideram lixo. Gente babaca tem em todo canto. As sacolas os caixas conseguem abrir com facilidade, eu só cuspindo, me sinto lubrificando o pinto. Vieram com leis para pagar pelas sacolinhas e que poluem o meio ambiente. Papo furado. Nunca viram como embalam os produtos? Além disso saco de lixo demora mais que sacolinha para decompor e as pessoas reutilizam para acomodar seu lixinho diário. Alguns usam na lixeirinha do banheiro. Considero chique e prático. Vez ou outra interditam uma seção porque alguém quebrou alguma coisa ou entornou outra. Uma vez na parte de salgadinhos, escolhendo um desses que pega fogo um mês se resolvermos queimar, veio aquela vontade de peidar. Tentei segurar. Na hora veio um senhor empurrando um carrinho com uma menininha dentro que parecia um anjinho de filme. Loirinha e com cara de inocente. Destruí a vida daquela criança. Por mais que tenha me encostado na prateleira, o peido saiu baixo, devagar e quente. Mal pude suportar minha própria criação. Minha esposa estava cheirando o salgadinho, achando que estava estragado. Eu pensei no trauma que devo ter provocado naquele pequeno anjo, podando suas asas com uma bomba tóxica.
Vamos de qualquer jeito no mercado porque acreditamos que é um lugar onde não devemos nos preocupar com a aparência. Mas reparamos muito nas outras pessoas e elas fazem o mesmo conosco. Pelo carrinho é possível ver o perfil do sujeito. Se busca promoções e enche o carrinho, provavelmente é pobre e fodido. Existem os solteirões que colocam uma garrafa de bebida e alguns acompanhamentos para os dias de solidão. Os frescos que escolhem coisas escrotas e querem dar uma que entendem e que exigiram o melhor, enchendo o saco dos atendentes. Os mercados colocam em promoção o que vai logo estragar, empurrando sua mercadoria encalhada e se estragar na sua casa ou fizer mal, problema é seu. O inferno é geralmente na parte de trás dos mercados, onde ocorre a carga e descarga. É um cheiro que faz qualquer esgoto parecer um paraíso. Existem também aquelas vozes que falam nos auto-falantes e muitas vezes nem conseguimos entender o anunciado.
O estacionamento é aquela disputa por vagas, gente parando no local exclusivo para deficientes, sem ser. Emocionantes são as discussões nos caixas, ou por não ter crédito no cartão e nem débito, desejando ainda dizer que o sistema é que está errado e que vai processar, fazer e acontecer. Tem os que reclamam de algo que foi registrado em duplicidade ou que o preço é abusivo. Nas prateleiras vamos observando produtos deixados. A pessoa vai calculando quanto tem no bolso e no carrinho e acaba deixando alguns itens. Alguns ficam lendo os itens na tela que registra os produtos, outros saem lendo a notinha escada abaixo. Os seguranças ficam em busca de tipos que consideram suspeitos. Encontramos algum conhecido e fica aquela situação, cada um olhando o que o outro está levando ou em qual seção se encontraram e começam as deduções. Se é um casal comprando vinho, imaginam que hoje irá rolar um sexo, se for na seção de congelados, deduzem que não estão afim de cozinhar e assim vamos. Aquelas esteiras dos caixas estão sempre molhadas e derrubam algum produto que colocamos cuidadosamente. Essa vida é maravilhosa. Adoro ir aos supermercados e vivenciar todas essas experiências e infinitas outras. Lendo um livro enquanto aguardo minha vez e ouvindo as fofocas que as pessoas adoram contar quando estão com tempo ocioso.