Passos no Escuro
Segunda-feira que parece domingo. A vida monótona, com as obrigações que nos forçam a caminhar perante mais uma semana. Mais uma vê a campanha pelos direitos dos grupos “homossexuais”, é o que dizem. Quando observo os índices demográficos, penso que isso não passa de uma campanha de controle populacional, já que pessoas do mesmo sexo, em tese, não procriam. Teriam que gerar através de um método como o de inseminação artificial e o custo é alto para a grande massa. O sistema de adoção também está pronto a fornecer suporte a estes outrora excluídos, para que possam diminuir a quantidade de órfãos que estão reclusos, aguardando quem os queira. O câncer dá em quem fuma. O que me faz observar a foto no maço de cigarros e pensar que existem muitas outras formas de se contaminar. Os produtos industrializados que o digam. Cada dia aparece uma nova fórmula de bem estar. Isso me causa mal estar. Laboratórios vendendo suas fórmulas milagrosas, e o preço é alto. Abro uma lata de refrigerante e escuto o gás borbulhando e a sensação diante do calor supremo é maravilhosa.
Fala-se tanto a respeito das marcas. Como se não tivéssemos criado uma ao nascermos, quando formos registrados na chamada certidão de nascimento. Sou mais que um nome. Mais os nomes estão aí, por todo parte, atribuindo a nós o sentido signos. Cada um de nós encerra um mistério. Tudo isso enquanto assisto a uma palestra de um garoto com leucemia. Talvez exista mesmo essa corrupção no sistema de cadastramento para doações. O dinheiro fala mais alto diante de quem não tem voz perante a ganância. Cegos de um castelo construído à base da própria degradação humana. Os valores em jogo são apenas monetários. As luzes se apagam e consigo prever o próximo passo, já que o chão me motiva a gravitar. A lua e o sol não passam de distâncias, ainda que nos atinjam. O sol é feroz e castiga com a fúria de quem deseja a tudo consumir. A lua é mais pacata, mantendo-se reflexiva, feito um farol que guia nas trevas. A história conta. São tantas estórias que nem podemos imaginar. A imaginação se perde naquilo que é possível guardar.
A floresta de pedra se ergue. Somos macacos modernos, escalando através de escadas rolantes e elevadores, alguns mais ousados, utilizam andaimes. O que não fazemos por comida, por água, por sexo? Os instintos estão aí, embora queiram qualificá-los de primitivos. Ser primata não é ruim. Não sabemos se o primeiro a cair foram as folhas do jardim do Éden sobre o sexo ou os pelos que revestiam todo o corpo. Empurrados mentalmente abaixo, caindo sobre obstáculos idealistas, batendo com o pensamento nas colunas da desrazão. Logo vem o coma e fazem com nossos corpos aquilo que desejarem, pois habitamos apenas. Eis o subterfúgio das almas, que são retiradas do invólucro, embora saibamos que é o que os anima. Mortos-vivos. O cemitério causa tanto medo porque é o único lugar onde não podemos fugir do encontro legítimo com a morte, que não é criminosa, apenas justa, dentro de um sistema de transformação. E nós desejamos ultrapassar a forma e por isso negamos o animal, adquirimos o divino e a moda se mostra tão importante na caracterização de uma estética em construção.
Falam tanto a respeito da simplicidade, que me parece bem complexo o tema. Simplório eu sou e quão arrogante é dizer-se assim, quando desejamos a exaltação. Pedimos que sejam sinceros conosco, que nos critiquem, mas odiamos quando o fazem. A doença está em alta, eis o grande foco dos que promovem a saúde. O futuro sempre foi incerto, mas agora parece que nos damos mais conta disso. Os jornais cospem em nossas caras todos os dias. Somos números em identidades, cartões, e tantas outras formas de despersonalização. Os porta retratos estão cheios de imagem e vazios de nós. Nos portamos conforme as regras de cada lugar, porque a sociedade exige postura e por isso somos postos em um posto que não passa de um poço, com fundo, raso e pegajoso, que nos faz afogar na superficialidade. No fim, resta a distância mínima, que é o suficiente para quem se condicionou ao limite. E o mundo segue surpreendente, engolindo esses seres indefesamente surpresos.