Agendamento

Mais um dia de espera. Te dizem que aguarde para que possam agendar um horário. A porra do tempo está lá, basta ter boa vontade e podemos ocupar qualquer lugar nele. Esses filhos de uma puta que pouco sabem dirigir, passam raspando meu carro. Não sei porque essa gente não usa seta. É a parte que deve ter reprovado eles no exame prático. Tenho que testar constantemente os freios desse veículo, ou acabo acertando um sem-seta qualquer dia desses. Sento no banco da igreja e escuto aquela ladainha do padre. Me pergunto o porque? Por que estou sentado nesse banco desconfortável e daqui a pouco estarei de joelhos, fodido para levantar desse chão carcomido por joelhos de carolas. Quando andava de kilt bêbada, me chamavam de viado e agora vejo esse padreco nesse vestidão e não entendo nada a respeito do que passa na cabeça das pessoas.

Vou me confessar.

— Padre, eu pequei! Ontem tentei desviar das poças de água. Mas confesso, desejava molhar aquelas pessoas irritantes, que vi saindo de um culto evangélico. Também cheguei em casa meio cansado, mas não morto. Queria muito comer minha esposa. Desculpe. Fazer amor. E trepamos como se fosse a última foda do planeta. Quero dizer. Consumamos o ato. Acabei engatado naquele rabo, quando ela ficou de quatro. Sei que não aprovam muito a relação anal, apesar de muitos sacerdotes a praticarem com coroinhas. Nossa. Acho que vou para o inferno.

O padre mudava de cor, de assustado, foi se tornando irritado.

— Sabe padre. Foda-se toda essa merda. Não preciso de absolvição. Eu vou pra casa ver minha esposa e você vai ficar tentando lembrar de minhas palavras para bater punheta nos bastidores do altar.

Saio andando com passos decididos. O padre sai nervoso e começa a dizer ofensas, causando espanto nas pessoas que faziam suas orações. Esse cheiro de rua é algo libertador. Nada como sair de casa ou de qualquer outro lugar e sentir-se desprotegido, jogado no mundo. Os pernilongos comem até o meu piru quando sento um minuto nessa praça. Logo chega um pedinte. Como se eu fosse ter pena. Ele não tem de mim. Começa tentando puxar assunto, até que resolve pedir comida ou algo do tipo, por fim clama por centavos, uma dose de pinga. Hoje esse sujeito deu sorte. Sentamos em um bar e começamos a dividir uma garrafa de cerveja. Esses caras secam muito rápido esse tio de aperitivo. Peço mais uma garrafa de cerveja para mim e uma de pinga vagabunda para o vagabundo. Ele me agradece e sai carregando seu presente embaixo do braço, dando longas goladas.

Escuto um choro. Logo alguém aparece e diz que no meio daquele lixo existe um bebê. Como se isso fosse novidade. Mais uma criança retirada do lixo e jogada no lixão do mundo, para que tente sobreviver e talvez adulta, se torne pior do que aqueles detritos que lhe serviram de abrigo. Os pombos descem e começam a beber a água que escorre pela canaleta. Uma senhora lava a casa e eles se servem daquele pequeno aqueduto. Logo os cães veem lhe fazer companhia. Chego em casa e ligo a TV. O noticiário começa. Quanta besteira. Leio o poema de Ferreira Gullar, “A Bomba Suja”. Somos um saco de merda mesmo. Digo a minha esposa que a amo, beijando seus lábios gostosos, apalpando-lhe as coxas e a bunda. Escuto a notícia de que os professores estão levando outro pau da polícia e que já agendaram nova data ara negociações. Sei onde isso vai dar. Olho o rosto sem barbear. Bebo de uma vez um copo de água gelada e entro ara o banheiro. Um bom banho e logo estarei limpo superficialmente. A limpeza é a maior sujeira que fizeram conosco. Logo dormirei e essas ideias loucas sumirão por alguns instantes da minha mente. Mais logo chega um outro dia.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 02/10/2013
Código do texto: T4508555
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