Só mais um conto de mim mesmo
O Tempo brinca com as pessoas. O Destino torna-se seu escravo, afinal. Escravo das pessoas, das suas escolhas. Cada escolha, uma linha nova, um tempo novo. Um Tempo novo que continua a brincar com as pessoas.
E nesse ciclo vicioso tudo isso se mantém, por eras e eras, até o fim da eternidade, que nunca terá um fim. Mas eu pergunto, o que realmente mantém esse ciclo? As escolhas? As pessoas? Ou uma simples ordem natural?
Eu sinceramente não sei. Mas tenho algo que eu posso dizer como criador de meu Destino, como meu escravo. E algo que eu também posso dizer como escravo do Tempo que me tortura ao passo que me cura. Tenho orgulho de manter esse ciclo sempre no sentido em que deve estar.
Sou apenas um cara. Um cara que aprendeu a domar esse ciclo, ou pelo menos em constante aprendizado para tal feito. Mesmo estando nessa mesa de sempre, tomando o café de sempre, não há como parar pra pensar em um fato que derrubaria todo o meu orgulho desse ciclo de coisas rotineiras, sempre escravas, sempre dependentes. Algo que tornaria a mim independente de certa forma.
Se eu morresse hoje, apenas o meu ciclo seria abalado. O mundo continuaria girando. Eu seria dispensável a tudo em minha volta.
O garçom me vem com a conta. Eu conhecia o cara de longos tempos, me cumprimentou da mesma forma de sempre. Algo que me incomoda em ciclos, rotinas e toda essa história que por vezes me parece um surto psicótico de um filósofo grego, procurando a origem de sua existência. É a mesmice em que tudo acontece. Sempre igual.
Eu saí da cantina de sempre, ajeitando os óculos, que nunca me acostumei a usar, desde que não conseguia enxergar mais. Nada continuava em minha vida da mesma forma que viera. Meus “olhos de águia” agora eram míopes. Minha audição apurada tanto gasta para equalizar as mesas de som durante as festas em que eu tocava agora estavam apenas frágeis, algo que uma bombinha de são João me deixava com uma dor de cabeça estridente. Meu tato artístico para os desenhos que eu fazia, que eram os únicos meios de conquistar admiradores, agora se encontravam pesados e sem jeito.
Sou apenas um resultado das brincadeiras de mal gosto do Tempo. Sou um ratinho num labirinto. As vezes com o queijo. As vezes, este me é tomado. Acho que um bom fato que descreveria minha vida seria que ela só começa a melhorar depois que as coisas pioram.
Ajeitei meus óculos de novo. Estava começando a me dar dor de cabeça. De novo. Ainda vou me livrar disso, prometia a mim mesmo. Meu próximo passo seria encomendar um par de lentes de contato.