Laços

Pés tentando equilibrar-se no meio fio de uma avenida movimentada. Os carros vão e vem indiferentes. A fumaça no terreno baldio começa a intoxicar a vizinhança. Crianças correm com suas brincadeiras maliciosas. Os gatos entram e saem dos bueiros. As horas seguem vagarosas. Uma mosca invade a casa e fica presa junto ao vidro da janela, aguardando ser libertada, ou morta, o que é outra forma de liberdade. A televisão segue com sua programação sem graça, deprimindo as mentes ociosas. A cama ainda desfeita, aguardando o repouso dos corpos. O vento frio sacode com força as janelas, fazendo tremer as grades, despenteando as árvores. Folhas voam, com aquele aspecto deprimente de inverno, de coloração opaca e estalada. Vamos pisando sobre os restos das plantas, que tenta se dissolver na rigidez asfáltica urbana.

As pessoas ficam nervosas diante de insignificâncias. O dinheiro circula, como se fosse algo valoroso. O ar cinza que cobre o céu, fazendo com que o cenário se torne sombrio. Luzes que se espalham em forma de pomares da rede elétrica. Tudo se movimenta, como se fosse guiado por seres invisíveis. O esgoto segue seu fluxo, embaixo do solo, procurando não ofender olfatos e olhares civilizados. O caminhão do lixo exala seu odor, causando repúdio aos que se aproximam. Os sacos acumulados, estourando com a prensa mecânica. O chorume que escorre. Os cães andam soberanos pelas ruas, com seus latidos vigorosos e sua feição de pouco caso. As roupas sacudidas pelo vento no varal, feito uma grande vitrine de cores. Os pássaros disputando o pouco espaço verde, se aventurando em fios de alta tensão, com ninhos meticulosamente construídos.

O comércio fervilha. Entra e sai nas lojas. Lanchonetes lotadas, com pessoas e pombos disputando os pastéis. Calçadão lotado. Vendedores que buscam chamar a atenção do cliente através do grito, com pulmões fortes e gritos poderosos. O sorriso morno das atendentes de loja, com aquelas peças guardadas, oferecidas em troca de pequenas comissões. A banquinha do ambulante, apoiada de forma simples, com intuito de logo ser retirada, caso alguma autoridade venha apreendê-la. Artistas de rua, com seu malabarismo nos semáforos e cegos cantores que tocam sanfona, embaixo de árvores decoradas com pombos. Os bancos cheios, com filas de diversos formatos. Produtos saindo para a calçada, em lojas abarrotadas de mercadorias. Ofertas e prazos, tudo para atrair a freguesia. A crise está em cada olhar que fita a placa do preço, a cada caminhante que entra e diz só estar dando uma olhadinha. Os policiais seguem aparentemente serenos. Embora a mão no coldre, revele o verdadeiro estado de espírito.

O carrinho de pipoca estacionado. Açougues trabalhando a todo vapor. A lâmina que vai e vem, retalhando os nacos de carne. Os peixes expostos, com uma enxurrada de moscas. As crianças sendo seguradas firmes pelas mãos, enquanto admiram as lojas de brinquedos. Outras crianças seguem sozinhas, como que perdidas. Os mercados com corredores entupidos, trânsito de carrinhos. Os botecos com sua clientela cativa, segurando copos, fazendo brindes. O bilhar gastando o pano verde. Entregadores não param, atendendo pedidos por todo o dia. Imensos caminhões descarregam suas encomendas, com placas que dão uma ampla noção da geografia do país. Restaurantes tentam aplacar a fome das pessoas. Comida servida a quilo, com a rotatividade nas mesas. Estacionamentos cobrando altas tarifas, pela falta de vagas. O aumento da frota de veículos faz com que busquem novas alternativas. São tantos rostos, tantas histórias. Cada um de nós é personagem dentro desses diversos cenários.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 18/08/2013
Código do texto: T4440144
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