Xantipa, a gata de olhos azuis Conto infantil “Baseado em fatos reais”

“Xantipa”, era o seu nome. Escolhido para prestar uma homenagem à guerreira esposa do “pai da filosofia”, Sócrates. Quando ela chegou e passou a fazer parte da família, Jussara era recém-casada, residia no Rio de Janeiro em um modesto apartamento e ela era bem pequenina. Seu pelo em tons suaves de bege acinzentado, com nuances de preto e marrom e já possuía um lindo e sedutor par de olhos azuis. Vivia com sua dona no quarto andar do pequeno apartamento onde morava e era a fiel escudeira e amiga inseparável, visto que Jussara ficava muito só quando o seu esposo viajava a serviço. Xantipa tinha uma caixinha de fórmica cheia de areia, que ficava na área de serviço, onde ela fazia suas necessidades. Dormia sempre grudada nos pés de Jussara. E adorava ficar em cima do balcão de um barzinho decorativo da sala de jantar para tomar sol todas as tardes. Parecia mais um bibelô tão quietinha ficava, ao ponto de uma vizinha confundir! Ela tomava banho toda semana e seu pêlo era macio e cheiroso.
Certa vez, quando Jussara foi visitar os seus pais no interior do Rio,num fim de semana e a deixou sozinha no apartamento. Ela subiu nas cortinas da sala de televisão e ficou a olhar do alto da janela basculante, que ficara semi aberta, as crianças que brincavam e gritavam lá embaixo no estacionamento. Ela escorregou e caiu lá embaixo!
Jussara chegou no Domingo à noite e não a encontrou. Ficou desesperada, procurando-a por todo lado e nada! Foi quando ouviu miados e a sua vizinha do primeiro andar, contou-a que ela estava cuidando de Xantipa, pois ela havia caído do quarto andar no sábado à tarde e que estava muito ferida. Não queria comer, nem beber e só miava olhando pra área de sua casa chamando por sua dona; assim relatou a vizinha. Jussara foi desesperada buscá-la em prantos. Sua patinha traseira havia quebrado e sofrera fratura exposta. Ela então a pegou no colo e com muito carinho cuidou dos ferimentos. Ela comeu, bebeu e a jovem e esposo fizeram uma espécie de tipóia com palitos de picolé e um arame fino para imobilizar a sua patinha quebrada. Enquanto banhava o ferimento com permanganato de potássio, mercúrio cromo e pomadas. Com mais ou menos 15 dias, o osso já havia se recomposto e os ferimentos cicatrizados. Ela estava bem e nem sequer mancava, graças ao bom Deus!
Então resolveram levá-la para a casa dos seus pais no interior. Lá estaria mais segura e mais feliz em contato com a natureza e outros amiguinhos. Ela viveu feliz por oito anos. Cruzou inúmeras vezes depois de um longo período de adaptação, onde dezenas de gatos machos queriam namorá-la, mas nenhum deles era da sua raça, então ela os recusava. Até que decidiu! Cruzou inúmeras vezes e teve vários filhotes lindos! Mas nenhum como ela. O filho de Jussara nasceu e também pode conviver com essa gata travessa. Xantipa, uma gata com fôlego de sete vidas. Que sobreviveu a queda do quarto andar de um edifício, que suportou mais de vinte quatro crias, amamentando entorno de quase cem filhotes. Que foi sempre uma amável companheira, carinhosa e nunca perdeu o brilho do olhar.
Como esquecer Xantipa, a gata de olhos azuis?

Valleria Gurgel.