Acredite, um milagre aconteceu!!! "Um conto baseado em um fato real

Era dia 30 de Dezembro de 2001. Marina havia voltado de uma viagem de sete dias nas praias em Guarapari, no Espírito Santo. Foram ela, a mãe, o esposo e a filha de dez anos.
Correu tudo muito bem. A viagem foi tranqüila. Fizeram amizades inesquecíveis! Muitas fotos, muita música, muito sol, viagens de escuna... Estava bronzeada, feliz por ter reservado enfim, uma semana de folga após tantos anos administrando uma micro- empresa de prestação de serviços na área de convênios médico/ odontológico, que a anos estava consumindo-a aos poucos, de tantas responsabilidades e preocupações diversas, sem tempo para tirar férias, já a mais de quinze anos!. Apesar de ela alegar estar muito estressada com os funcionários, clientes e concorrentes estava feliz e de bem com a vida. Fazia um ano que havia perdido um filho, já no quinto mês de gravidez, o que havia deixado-a bastante decepcionada e quase em depressão. Mas venceu mais esse desafio com fé em Deus. Certa de que ele sempre sabe o que é melhor para cada um! E depois da terceira tentativa perigosa de engravidar e perder os bebês, dessa vez, ficara hipertensa de vez! Já estava fazendo controle com cardiologista e tomando os medicamentos, consciente de sua hipertensão arterial de origem hereditária!
Mal chegou de viagem, em pleno finalzinho de ano e já arrumava outra mala. Essa agora para passar o revellion na casa de seus pais no interior, de São Paulo, numa cidade de nome Valinhos, próxima da grande capital. A viagem de volta, havia deixado Marina um pouco cansada. Mas nada que um bom banho não resolvesse. Tão logo chegou, foi para o salão de beleza, para fazer as unhas, escovar o cabelo e se aprontar para passar a virada do ano no dia seguinte,trinta e um de Dezembro, em família.
À noite chegou rápido. Como se o ano de 2001 tivesse pressa em acabar. Estavam todos reunidos. Fazendo churrasco, som ligado, muita farra e euforia. Mas Marina, como não era de bebidas e nem de comer muita carne, resolveu ficar dentro de casa conversando com alguns primos que fazia tempo não via. Deixando o resto da turma lá fora na área de churrasqueira. Tomou um copo de refrigerante e beliscou alguns petiscos. Tão logo deu meia noite e todos eufóricos faziam um trenzinho pela varanda, enquanto a irmã de Marina filmava a todos registrando aqueles últimos momentos do ano que estava findando. Enfim, o relógio marcava
meia noite. Fogos, abraços, champagne, todos alegres, brindavam a chegada de 2002!!!
A jovem provara um pequeno gole, formalmente e depositou a taça na mesa novamente. Quando, inesperadamente, sentiu que algo fizera um barulho dentro de sua cabeça. Como se tivesse estourado um balãozinho cheio de água quente. Logo, tudo lá dentro começou a esquentar violentamente e teve a sensação de que escorria algo de dentro de seu ouvido. Mas não! De repente, sem explicação, a sua cabeça, começou a doer de tal forma, que teve a sensação de que ia explodir e logo ela em desespero, já colocava pedras de gelo para ver se aliviava aquela dor. Uma pressão insuportável parecia querer expulsar seu cérebro pelos olhos e ouvidos! Mas de nada adiantou. Sua mãe veio chegando preocupada, perguntando o que lhe acontecera, pois Marina estava verde, pálida e sentia náuseas e a cabeça rodando e doendo demais! Logo percebeu que realmente a filha não estava bem e a levaram na policlínica para o médico examiná-la e medir a sua pressão. O doutor, a atendeu com muito pouco caso e de cara emburrada! Afinal, estava de plantão em plena virada! Mas que culpa tinha ela de passar mal e precisar de atendimento naquela hora, em plena virada de ano?! Aquele jovem médico, nem sequer a tocou! E sua mãe, furiosa, exigiu dele que medisse a pressão da filha! Ele, com muito pouco caso, pediu para a enfermeira fazer isso! Estava 180X 120! Aí, ele sugeriu que Marina ficasse em observação, colocou um comprimido em baixo da sua língua e disse que ela estava era de ressaca e que ela precisava dormir! Todos os medicamentos que a enfermeira ministrou na jovem, saíram! Ela estava muito mal! Vomitando de dor! Enfim, depois de mais de duas horas em observação, sozinha no ambulatório, eles a liberaram para ir para casa dormir!
Foi a pior noite de sua vida!!! Ninguém conseguia comunicar com o seu cardiologista e lá pelas cinco da manhã, sua família ligou para a policlínica para saber do médico o que fazer, pois o estado de Marina havia piorado ainda mais! Estava ficando roxa, perdendo a circulação dos pés e mãos, e nesse exato momento, só gemia de dor e nem conseguia mais falar! Estava perdendo os sentidos de tanta dor. Assim ela passou o primeiro dia do ano de 2002!!! O médico largou o plantão e ela morrendo em casa sem ninguém entender o que se passava com ela.
Lá pelas cinco da tarde, sua irmã, que trabalhava no hospital das clínicas, chegava do seu plantão e decidiram levá-la para o pronto socorro mais próximo.
Foram de carro.Mais ou menos quarenta e cinco quilômetros de distância. E ao chegar lá, ela caminhava como bêbada escorada pelo seu esposo e sua irmã, quase inconsciente!!!
Entrou para fazer a triagem e logo perceberam que sua nuca estava enrijecida. Rapidamente, suspeitando de meningite, encaminharam-na para uma tomografia que detectou um sangramento cerebral. Assim, ficou até meia noite do dia primeiro de janeiro, à espera da troca dos médicos de plantão. Para que o neurologista avaliasse o resultado da tomografia.
O médico olhou e assustado, transferiu-a urgentemente de ambulância, com sirene ligada, para o Hospital São Francisco de Assis, imobilizada na maca, com a cabeça deitada num travesseiro, fixo com esparadrapo. Ainda sem saber ao certo o que havia acontecido Marina imaginava estar morrendo sem poder se despedir! Internada às pressas, até então, sem compreender o que poderia ser aquele mal súbito que lhe acometera! Ela foi prontamente medicada no soro, com medicamentos fortíssimos. E só então, ela pode enfim sentir um pouco de alívio desde a madrugada da virada do ano quando se sentiu mal.
No outro dia, sete da manhã, levaram-na para fazer uma arteriografia. Um exame pavoroso! Um cateter foi introduzido pelas artérias do pescoço, injetaram um contraste e tiraram uma radiografia para ver onde ocorreu o sangramento e o que o causou! O pescoço da jovem ficara preto e quase da largura dos seus ombros, de tão inchado! Nem dava para se reconhecer quando voltou para o leito do hospital e se viu no espelho!!! A equipe médica a acompanhou e conversou com ela e seu esposo. Disseram que ela havia sofrido um aneurisma cerebral! E que ela precisaria passar por uma cirurgia de alto risco no outro dia pela manhã, de emergência! Que seria em torno de oito horas de cirurgia e que se ocorresse óbito, não seria por negligencia médica! E que provavelmente poderia ficar com sequelas irreversíveis!!! Tão grave era a sua situação!
Se não tivesse grades na janela do quarto, com certeza, Marina tentaria fugir dalí e daquela situação terrível em que se viu envolvida subitamente! Mas não tinha outro jeito e a única coisa que lhe restara, era encarar o problema de frente, com coragem e muita fé em Deus! Então, ela passou aquele suposto último dia de sua vida, em preces!!! E fazendo uma retrospectiva de sua vida! Chegou a enumerar tantos sonhos.... Que talvez não tivesse mais tempo para realizá-los!!!... Ver sua única filha crescer... E poder fazer uma linda festa de quinze anos para ela.Ter o prazer de se ver envelhecer! Ser vovó! Esse também era um de seus sonhos! Viajar pelo mundo... Fazer amigos! Construir sua casa própria e fazer um lindo jardim... Estudar mais e falar vários idiomas... Comprar um carro...
Editar todos os seus livros...
Viver... Cair... Levantar... Passar aperto... Dever... Pagar... Passar fome, Perder perna, braço, vistas, o que fosse preciso!!! Mas ela preferia viver!
Nada poderia para ela ser mais terrível que ir embora do mundo! Não com apenas trinta e um anos de idade e cheinha de vontade de viver!!! E assim ela disse:
_Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaooooooooooooooooooooooooo!!!!!
Fez assim um pacto com Deus!!!! E implorou a ele a sua vida! Chorando! Soluçando! Gritando! Só não pode ajoelhar-se, pois não podia se mexer prá nada!!! Até banho deram-na deitada na cama!!!
Não se pode dizer se é bom ou se é ruim, se pode ser importante a oportunidade de ser avisado que a morte vai chegar no dia seguinte! Mas Marina se apavorou. Não estava preparada para um desafio tão grande como aquele! Saber que tantos dão fim a própria vida, enquanto ela estava ali implorando a Deus pela sua! Tantos a desperdiçando, e a estragando com drogas, com mágoas, ódio, com bebidas, com cigarros, com excessos de todos os tipos! E ela ali, perdendo a vida de graça sem nada poder fazer!
Sete da manhã transferiram-na para a outra maca. Ela se despediu de seu esposo e de sua mãe e fez a eles um pedido:
- Que se morresse, era para eles cremarem seu corpo e jogar as suas cinzas nas Cataratas do Iguaçu! Cenário de seu primeiro livro que escrevera sem sequer chegar a conhecer! E que talvez agora, não desse mais tempo! Eles a abraçaram, sem palavras!
Marina conversou muito com o médico que ia lhe operar. Disse a ele o quanto ela amava a sua vida e que não queria morrer. Pois ela não ia dar sossego lá em cima!- o médico sorriu e disse que ela não deveria se preocupar! Pediu a ele também que não raspasse todo o seu cabelo! E ele disse que ia ver o que poderia fazer para preservar seus cabelos!
Bem, a cirurgia se transcorreu muito tranquilamente. E ela depois de algum tempo, afirmava que mesmo anestesiada, completamente inconsciente, tinha assisti a sua cirurgia!Chegou a dar detalhes. Contou a todos que foi visitá-la que viu enfermeiros apertando uns parafusos em sua cabeça. Viu eles furando, viu tudo acontecendo do alto do quarto! Ouviu os médicos conversando, alguns estavam nervosos e afirmava ter visto alguns momentos em que quase dava tudo errado, Relembra de um cheiro horrível!... E comentava do tanto de sangue que viu derramar. Mas conseguiram fixar um clipe no aneurisma!!!
Durante o coma ela afirma ter ouvido todos que foram lhe visitar e os que choravam, comentando que sua cabeça estava inchada e roxa! Queriam saber se ela ia ficar perfeita de novo!
Marina ficou somente onze dias internada! A maioria dos que sofrem um aneurisma, se não morrem instantaneamente, ficam com seqüelas seríssimas! Outros operam, mas a cirurgia não dá certo! Ela sobreviveu. Para quem não acredita em milagres, ela é o próprio milagre vivo! Perfeita! Somente com algumas ondulações no crânio que o cabelo não deixa sequer perceber.E uma insignificante cicatriz! Se ela sempre amou a sua vida, imagina depois de tudo o que passou?! Marina confessou que por um ano ainda acordava a noite sem saber se estava viva de verdade ou se era um espírito que achava que ainda estava vivendo neste mundo! Custou acreditar que realmente tudo havia passado e que agora só lhe restavam as lembranças e a eterna gratidão a Deus e a equipe que a operou!
Fica aqui um recado de Marina:
- Para quem vive reclamando... Vive emburrado... Vive sem sorrir... Perde tempo e vive adiando as coisas... Para aqueles que vivem sem amar... Sem perdoar... Sem sonhar... Sem agradecer! Para quem vive a destruir as suas vidas aos poucos com vícios e desequilíbrios, com mágoas e ressentimentos... Para quem vive sem viver, viva agora a vida intensamente, porque o hoje é seu maior e mais precioso presente!

Valleria Gurgel